A primeira é a tentativa de produzir um discurso que capte a atenção dos cidadãos e sirva o interesse de quem o faz. Na política, ninguém resiste à tentação de prometer o que não pode ou não deve. É que a palavra é sempre mais fácil do que a acção e se não houver a exploração do melhor dos verbos não se conseguem votos. O povo gosta de ouvir o que espera que aconteça consigo e com os seus e frequentemente inclina-se para quem dá mais. Quem mais abre a boca tende a açambarcar mais sufrágios. A disputa eleitoral acaba por despenalizar o pecado e a mentira é proclamada em microfones e megafones sem que os ouvintes tomem devida consciência de que estão a ouvir barbaridades. Depois de criado o clima, tal qual um hipnotizador faz para uma plateia que aguarda as suas habilidades, a audiência vibra com aquilo que se promete e com o que de mal se diz dos demais concorrentes. Frequentemente, branqueiam-se medidas torpes e aceitam-se outras tantas que não serão solução de coisa nenhuma. A tentação da negação do valor das propostas alheias está normalmente presente e a da ausência de escrutínio crítico enviesa a vontade colectiva e o bem-estar social. É que há vida para lá dos interesses pessoais de cada um. Se fosse feita uma reflexão pessoal e uma avaliação criteriosa das propostas apresentadas, a representatividade estaria certamente mais ajustada ao interesse geral. Como se compreende que um governo recentemente formado se torne numa desilusão para a maioria dos cidadãos? Pena que não se seja suficientemente rigoroso quando se escolhem os representantes! Nunca é tarde para rever procedimentos e eventualmente mudar, embora não chegue a tempo de emendar o presente. A democracia tem regras e devem ser respeitadas. Falar verdade deve ser um compromisso sério dos políticos. A política não deve estar desligada da ética para se não diabolizar a relação entre representantes e representados. Todos são tentados, mas essa realidade não desculpa desatenções e falta de escrutínio.
A tentação para esconder o que não corre bem ou para transformar um resultado negativo em algo que pareça uma concretização de sinal contrário tem sido apanágio do actual governo. Portugal vai perdendo posições a nível europeu em diferentes aspectos, mas só a leitura dos dados que nos chegam pela comunicação social permite fazermos um juízo da realidade. Os responsáveis não nos contam os erros e fracassos, mas douram os resultados positivos. Quem não tem acesso à informação fica, tantas vezes, apenas com o que escutam dos governantes. A realidade é adulterada com alguma frequência por razões meramente eleitorais. Quem está do lado do povo, quem realmente acompanha o povo e, desinteressadamente, lhe quer bem, não tem razões para o enganar, antes para enfrentar as provas e de admitir o erro quando existe e propor a solução. Como isto, por norma, não acontece, o povo desconfia e desabafa: “são todos iguais”! E serão. Na verdade, é difícil não duvidar da fidelidade de quem nos governa quanto às promessas feitas em tempos de campanha eleitoral. Se nos dizem “cuidaremos de todos, sem deixar ninguém para trás”, por que será que nas contrariedades aos grandes nada acontece e até ganham vantagem, enquanto os mais desprotegidos ficam de mão estendida? Por que será que nenhum governo procura resolver os problemas pela raiz e preferem promover os apoios sociais? Não será por que o expediente lhes é proveitoso e cria a ideia de que, afinal, se preocupam com os mais necessitados? Esta tentação tem sido, absurda e imoralmente, mantida ao longo dos sucessivos governos.
A tentação do poder, do domínio das instituições, tem sido o pecado dos governos que temos tido. Dominar antes de servir, que se traduz reiteradamente em não promover a justiça social e no incumprimento da palavra dada, um tique bastante comum. O primeiro dos verbos envergonha a democracia e devia ser banido. O domínio autocrático é diabólico, mesmo se exercido em nome da vontade do povo. Recorrer cegamente ao uso da representatividade partidária tem sido uma tentação demasiadamente experimentada nos tempos que correm.
Autor: Luís Martins