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Se fosse rico…

Ao ver certas manifestações e reações quanto às pessoas que investem, porque são ricas ou têm poder económico, sinto dentro de mim uma repulsa quase incontrolável. Se fosse rico, nunca faria uma empresa para dar emprego a ninguém. Se fosse rico, nunca investiria na construção de casas para colocar em arrendamento. Se fosse rico e tivesse capacidade económica, nunca me prestaria a ser ofendido por fazer algo – por muito pouco que fosse – que tivesse de estar alicerçado no reconhecimento (mínimo) de alguém.

Sim, em tudo isto circula uma visão e mesmo uma espécie de comportamento alicerçado na mentalidade marxista – clara ou mais diluída – de setor de classe, numa envolvência assaz arreigada no comportamento de governantes e de governados (ou será manipulados?). Agora já de forma menos disfarçada!

1. A velha mentalidade de que são só ‘trabalhadores’ aqueles que labutam com a força braçal ou física, torna-se antítese para com aqueles que têm de gerir ganhos e/ou de pagarem os salários. Que isto se propague entre funcionários de capital não-público ainda se poderá aceitar, mas que isto se dê nos ditos trabalhadores que são os da função pública soa a usurpação das palavras e mesmo dos contextos socioeconómicos. Dá a impressão que os conceitos de trabalho, de salário, de investimento, de relações laborais, de participação nas empresas, etc. continua ainda sob a alçada terminológica do aprendido no ‘capital’ de Karl Marx, pois séculos decorridos continuamos a reger-nos a modos de sermos ainda da revolução industrial e do tempo do carvão ou da serventia industrial dos teares e manufaturados dos tempos das guerras mundiais. O padrão estatizante de certos regimes falidos e derrotados continua a preencher muitas cabeças no parlamento, no governo, nas autarquias e mesmo na maior parte da comunicação social… essa que é feita e paga por quem a controla.

2. Não será um bem comum a capacidade de investimento? Não será de utilidade pública construir casas e colocá-las ao serviço dos outros? Porque será que pessoas ligadas aos partidos da (pretensa) esquerda e ou seu sindicalismo tentacular nunca criaram nem geriram empresas? Não será que sabem desfazer, mas não são capazes de construir? Não é, sobretudo, a iniciativa privada quem paga os impostos e suporta o patrão-estado? Os fundos deste não são mais repartidos pelos seus servidores do que por aqueles que geram riqueza? Os que agora protestam investiram alguma coisa para que houvesse futuro e melhor bem comum? Não foi ao tacho do estado-patrão que foram buscar os meios para se pavonearem dentro e fora do país?

3. Fique claro: o estado só deve fazer, de forma complementar, aquilo que a iniciativa privada – essa que é, por vezes, rotulada, de exploradora – é capaz de fazer avançar os povos e as culturas. Tanta gente se dependura no ‘estado’ para que não se descubra a sua acomodação, alguma mediocridade e tanta da incompetência. Se tempos houve que pessoas se dedicaram ao ‘serviço público’ por escolha, hoje isso parece um resquício sem nexo… embora ainda bem pago. Por que será que tantos querem entrar no funcionalismo público? Não será pelas regalias e prebendas camufladas? Por que será que tanto defendem o ‘serviço nacional de saúde’ e se veem, em paralelo, sistemas próprios de classe? Quem viu algum político nas salas de espera dos hospitais apinhados de gente? Defendem o que é público, mas, quando estão prestes a morrer, recorrem ao privado… não foi assim com alguns dos corifeus da política e do sindicalismo?

4. Mais claramente: se fosse rico não ousaria investir numa qualquer empresa para depois se ofendido, ultrajado e difamado… como se vê por aí. Se fosse rico, não colocaria uma só casa no mercado de arrendamento, pois os inquilinos nem sempre são sérios na forma e no conteúdo. Se fosse rico ou com possibilidades de fazer algo pelos outros ponderaria muito bem, pois esses a quem, por vezes, se quer fazer bem ou atenuar o seu mal-estar não se coíbem de fazer vida-à-larga, enquanto quem os ajuda conta os centavos para honrar as suas obrigações…

Agora que o governo se vai apoderar daquilo que não lhe pertence – numa nacionalização encapotada – veremos crescer os incumprimentos dos beneficiados. Com este populismo ao desbarato me enganas!


Autor: António Sílvio Couto

António Sílvio Couto

António Sílvio Couto

27 fevereiro 2023