No próximo dia 6 de março será lembrado o 100.º aniversário de D. Eurico Dias Nogueira, falecido em 19 de maio de 2014, quando era Arcebispo de Braga e das Espanhas, lugar que ocupou entre 1977-1999, passando depois a Arcebispo Emérito de Braga.
A personalidade notável de D. Eurico Dias Nogueira começou a evidenciar-se em Coimbra, após regressar da universidade Gregoriana, em Roma, onde se doutorou e que frequentou entre 1945-48, tendo regressado a Portugal, fixando-se em Coimbra, tendo frequentado a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, entre 1950 e 1956. Aqui tive o privilégio de conhecer e conviver com este insigne Pastor da Igreja, quer no Centro Académico de Democracia Cristã (C.A.D.C.), onde o nosso encontro era frequente, quer em cerimónias litúrgicas e outras da Associação Académica de Coimbra (1956-1958), onde já evidenciava uma vida fortemente participativa e comunicativa, transmitindo um sentido renovador em Igreja Viva, com grande capacidade para o diálogo construtivo e com grande espírito de diplomacia nas relações pessoais e institucionais, onde exerceu funções de docência e de pastoral universitária.
Como Bispo de Vila Cabral (Lichinga), entre 6 de dezembro de 1964 e 19 de fevereiro de 1972, cuja ordenação foi na Sé Nova de Coimbra, exerceu uma atividade de grande aproximação às comunidades étnicas da região, com grande frontalidade, sem medo e correndo riscos, pois era um acérrimo defensor da independência de Moçambique, o que lhe trouxe sérios dissabores e perseguições, promovidas pela PIDE, mas nunca recuou e manteve uma visão do que seria a melhor solução para o futuro de Moçambique e de Portugal.
Esta situação conduziu à sua transferência para Angola, onde em 19 de fevereiro de 1972 assumiu a diocese de Sá da Bandeira (Lubango), até 3 de fevereiro de 1977, acumulando com as funções da administração apostólica da recém-criada diocese de Pereira de Eça (Ondijiva).
Ali viveu um período algo complexo, principalmente a partir de 1974, devido à incentivação para a independência de Angola, desejada por muitos colonos, cujo um grupo se deslocou a Portugal para incentivar Marcelo Caetano a tomar uma decisão participativa para um planeamento adequado a uma independência irreversível, face à atividade promovida pelos movimentos de libertação.
Mais uma vez demonstrou a sua tenacidade com a presença permanente em variadíssimos setores onde a Igreja e o catolicismo português tiveram significado, com atitude, risco e tendo marcado a transição para a democracia.
Em Angola voltamos a encontrar-nos em diversas cerimónias oficiais e litúrgicas, destacando a ocorrida em Malange, em 2 de fevereiro de 1975, quando da ordenação de D. Óscar Braga, Bispo da Diocese de Benguela, cuja cerimónia foi presidida por D. Eurico Dias Nogueira e onde D. Óscar Braga exercia as funções de chanceler e vigário-geral da diocese de Malange, onde nasceu em 1931.
Participei nesta cerimónia como representante da Administração da Companhia de Diamantes de Angola (Diamang).
Após a cerimónia, D. Eurico Dias Nogueira tinha urgência em regressar ao Lubango (Sá da Bandeira) e considerando um percalço na ligação aérea Malange – Lubango, disponibilizou-se o avião que nos levou do Dundo a Malange, para regressar a Lubango, e de imediato embarcou-se no avião Cessna bimotor, partindo para a sua diocese, viagem realizada connosco e com o piloto do avião. Foi um momento agradável, pois tivemos oportunidade de recordar os tempos de Coimbra e abordar assuntos ligados à independência das colónias (Províncias Portuguesas).
Devido ao recrudescimento dos movimentos de libertação, regressa a Portugal em 13 de abril de 1977, no mesmo ano em que se deu o nosso regresso a Portugal, 3 de dezembro de 1977, por motivos alheios à nossa vontade e do governo português, mas acabamos por ser afastados da Diamang, pois não se chegou a acordo com o Governo angolano, tendo assumido os ingleses a exploração dos diamantes em Angola, cessando ali as funções de Diretor Geral e Administrador Residente da Diamang.
Voltamos a encontrar-nos em Braga, após ser nomeado em 3 de novembro de 1977 Arcebispo Primaz de Braga e da Espanhas, e quando assumimos funções no Conselho Fiscal, como Vice-Provedor e Provedor da Irmandade e Santa Casa da Misericórdia de Braga, destacando duas cerimónias relevantes, com a sua presença: a inauguração da Creche Rainha D. Leonor, em 8 de maio de 1998, e a requalificação do Lar Nossa Senhora da Misericórdia, em 25 de outubro de 2010.
Prosseguiu a nossa convivência após a resignação, passando a Arcebispo Emérito, destacando-se a sua atividade pastoral como grande Homem da Igreja, escrevendo as suas memórias e com grande contributo para o Diário do Minho, deixando uma marca de referência cultural e episcopal em Braga e em Portugal.
Autor: Bernardo Reis