Parecia mentira, mas decidi reler duas vezes e com muita atenção as declarações do ministro da Economia: “Temos de dar atenção ao polígono industrial Braga-Guimarães-Famalicão-Barcelos”. Sem deixar cair Sines, a menina dos olhos da política industrial, que concentra uma boa parte dos investimentos inscritos no PRR, Santos Silva foi taxativo, tipo agora é que é. São suas as palavras: “grande parte da produção industrial do país está aí”. Na entrevista que deu esta semana, ao jornal Público, também ficamos a saber que 2023 é que vai ser, vai ser o ano em que o ministro vai reunir com empresários do Minho e “continuar a discutir, ver as agendas que estão em execução, ver o que é que podemos fazer mais para dimensionar todo este setor e dar-lhe cada vez mais capacidade exportadora”. Claro está, que a tutela não acordou para a realidade empresarial agora, mas provavelmente, deve ter ficado surpreendido com os números da produção industrial, das exportações, da mão de obra qualificada empregue no Quadrilátero, da Inovação associada e das inúmeras oportunidades na cadeia de valor que tem marcado a atividade económica. Quem conhece esta realidade no terreno só se pode queixar de si próprio, dada a dispersão do seu potencial e é aqui que entre o rasgo de Ricardo Costa com a sua proposta de visão integrada das comunidades intermunicipais, propondo a sua fusão. O assunto, como já se vai ver, não é pacífico (porque será?), mas será colocado à mesa do debate no próximo Conselho Geral da associação empresarial do Minho onde estará Santos Silva e os autarcas representados nas três comunidades do Alto Minho, Cávado e Ave. “É tempo de pôr em marcha um plano mobilizador para a região”. Contra os que acham que esta fusão pode ser prejudicial às especificidades de cada sub-região, o líder dos empresários diz o que qualquer gestor com visão diria: as assimetrias que estamos habituados a ver na distribuição de investimento, tradicionalmente direcionado para Porto e Lisboa, iriam diminuir pela dimensão que uma organização desta envergadura pode vir a ter”, Ricardo Costa só falha num aspeto essencial no raciocínio: o desequilíbrio na distribuição dos impostos que cabe a cada um e que se servem de base ao investimento municipal e que deveria constar da agenda comum entre governo, autarquias e empresários. Alguns autarcas torcem o rabo à sua proposta, mas sei que se as empresas, instaladas nesta região, deixassem de ter a sua sede social em Lisboa, Cascais ou Oeiras e a registassem nas cidades onde produzem, a fatia de impostos a distribuir pelo país será mais equitativa e o investimento dos dinheiros públicos melhor distribuído, logo, teríamos maior capacidade local e maior capacidade para mobilizar investimentos em infraestruturas e estruturas necessárias ao tecido industrial. Este ponto e vírgula, nas suas propostas, não retira mérito à dimensão da sua fusão, conferindo-lhe capacidade negocial que até agora a região não denota. Aliás, a melhor arma para convencer seja quem for sobre a justeza desta visão e a necessidade de olhar para o Minho com outros olhos provém dos números: 130 mil empresas que, só em 2021, foram responsáveis pela exportação de bens de 10 mil e 600 milhões de euros, com quase meio milhão de pessoas empregadas, representando 29 por cento do volume de negócios, 28 por cento do total de empresas e 38 por cento das exportações da região Norte. Esta dimensão, que em termos de PIB, atinge os 15 por cento, é de facto diluída quando olhamos CIM a CIM e é a olhar para uma dimensão de território e para a necessidade de tornar mais eficiente a gestão de recursos e mais eficazes os resultados, que Ricardo Costa lançou e bem a acha para a fogueira. Veremos o que diz o ministro e o que dizem os autarcas desconfiados ou receosos com a perda do pequeno poder. Veremos se há esperança para esta nova geração de líderes e se terão rasgo suficiente para se abalançar e deixar-se de miudezas, de olhar para o umbigo e de usar como argumento, os interesses da sub-região ou do município, quando sabemos, verdade verdadinha, que a sua preocupação, por vezes, roça, o descabido, cheira a mofo e não se adequa a uma visão estratégica que pretenda catapultar a região para o lugar que merece. O debate tem de ser feito e é pena que não esteja por lá o ministro das Finanças para perceber que um país onde prevalece uma distribuição manipulada dos impostos, continua a adiar o que sempre se tem prometido em qualquer campanha eleitoral.
Autor: Paulo Sousa