Nos tempos de hoje, as mulheres são altamente segregadas em muitas sociedades e, em muitas culturas, a prática desportiva está vedada às mulheres, inclusive como assistente, e enquanto isto perdurar toda a humanidade será mais fraca.
Na sociedade portuguesa este bolorento dogma em que o “desporto não é para as meninas”, perdurou muitos anos (anos demais). Neste tempo de dilemas e de tumultuosas alterações sociais, o desporto tem necessidade de se colocar como o terreno ideal para assegurar uma agregação em torno de objetivos humanistas, fomentar novas atitudes de inclusão e criação de igualdade de oportunidades.
A mulher, nas últimas duas décadas, tem feito um esforço significativo em se impor como um "agente desportivo" com protagonismo e competência. A evolução da qualidade do seu desempenho desportivo tem sido extraordinária, mas o problema é que nem sempre as estruturas decisórias e os respetivos apoios as têm acompanhado.
Quem assiste diariamente à luta de uma "mulher - desportista", percebe as dificuldades que estas encontram em ser reconhecidas e valorizadas. Por exemplo, o apoio económico/social que a Mulher sente é tipicamente inferior ao apoio que é dado ao Homem, apesar do tempo de treino ser igual e as competições envolverem as mesmas exigências.
A inclusão e a igualdade de oportunidades são temas prementes, necessários e inacabados, que devemos discutir e aplicar novas medidas. Porém, todos já percebemos que tudo está ligado às oportunidades que são dadas e a forma como (todos) nos envolvemos no processo.
Retrato disto é a nossa seleção nacional feminina de futebol. Pela primeira vez na história apurou-se para o Mundial da modalidade, que se vai realizar na Austrália e na Nova Zelândia, em julho/2023. A força do coletivo, a inteligência na gestão emocional, a irreverência técnica de algumas e o pulmão de outras, foram atributos que deram o perfume a esta vitória e, mais importante, o apuramento para o Mundial. Foi um feito partilhado entre a Federação, todo o staff, atletas, familiares, mas também dos clubes que têm investido no futebol feminino.
O que fica provado com este apuramento é que: com o reforço do investimento, com o plano estratégico de desenvolvimento da modalidade que foi criado pela FPF e com os necessários apoios, é possível fazer mais e melhor e que o desporto rei também, obviamente, pertence ao género feminino.
A criação de talento, a excelência e o mérito não têm género. O desporto, independentemente do género ou condição do praticante, tem alguns denominadores comuns: qualidade do trabalho, a competência, a consistência, as regras, a organização. Para se obter uma sociedade mais humanista, equilibrada, sensata, modernista, igualitária, tem que se investir na formação de base dos nossos jovens, em que esses denominadores estejam sempre presentes, e lhes sejam dadas oportunidades de poderem atingir um determinado nível de ação, percebendo as diferenças. O Desporto, tal como a Educação, pode ser um elevador social, mas para isso acontecer é necessário que seja uma forma prioritária de investimento das nossas forças políticas.
Autor: Carlos Dias