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2022, não te esqueças de nós

Mais um ano, mais um lago tranquilo de esperanças. Todos os anos inventamos um éden para nele viver sem preocupações e um gozo sonhado. Sabemos que não é assim, mas apesar do desmentido desta áurea, acreditamos que vai ser melhor o ano que vem e os sonhos se tornarão em realidade. Por isso nos reunimos para fazermos mais força e levantamos as taças de champanhe como um brinde de boas novas. E não querendo fugir à magia deste doce engano, não posso deixar a todos em que acreditam numa alegria sem fim, os meus melhores votos para que se faça este bocadinho de força, para forçar o Ano Novo a ser a nosso favor. Já nos contentava derrotar o covid-19; gostaríamos que não houvesse mais banqueiros, mais homens do futebol, políticos, mais ex-ministros, a serem chamados á responsabilidade dos seus desvios enquanto responsáveis. Desejaríamos que acabassem os sem-abrigo, os que escolhem fruta podre, os que esperam meses para serem atendidos medicamente. Vamos ter um novo governo, mas como bem dizem os comunistas, não são as pessoas que devem mudar, mas as políticas que devem ser outras. O Ano 2022 começa com este novo governo; o que lhe desejamos é que cumpra as promessas feitas, quer nos seus programas, quer durante a campanha eleitoral. Por outro lado, gostaria muito que cada eleitor estivesse completamente ciente de quem escolhe e por que o escolhe. Não custa assim tanto responder a estas duas perguntas, mas responder-lhes, com verdade, implica saber o porquê de votar sempre no mesmo, ou por que razão vai votar noutro. Numa entrevista de rua uma senhora, interpelada sobre em quem ia votar, respondeu,”eu voto no partido, não voto em programas”. Este voto vou rotulá-lo de voto cego, uma vez que se orienta em ambiente de “olhos vendados” como se o direito de pensar fosse considerado mobília fora do lugar e que não sabe evitar. Descartes diria: esta senhora não existe porque não pensa. Lá diz o povo, não há maior cego do que aquele que não quer ver. É lá com eles, mas custa-me ver alguém nesta cegueira política; o pensamento tirava, sem esforço, estas cataratas. Como é que eu escolho? Escolho pela sociedade em que quero viver e, se este ou aquele partido têm uma visão de sociedade em que me não revejo, por exemplo, génese de totalitarismos, então, voto noutros. É que a raiz totalitária nunca apodrece logo, quando a raiz é podre a árvore não pode ser boa. Sempre que há oportunidade põe cá fora os seus rebentos e fá-los crescer. Olhem para natureza e vejam como da árvore carcomida há sempre renovos!. Cada partido tem um ideal de sociedade e esta não é uma abstração porque sociedade somos nós todos e nós somos uma coisa concreta. Sei que os partidos vivem de clubite; têm um medo terrível se houver uma sociedade sem partidarite; onde o voto está livre, os resultados eleitorais são imprevisíveis. Não deve haver fidelidade a partidos, mas deve haver fidelidade ao voto sem ónus da filiação. Vão longos e complexos os pedidos que eu faço ao ano menino que agora desponta; onde o sonho não supera a possibilidade, aparece o imobilismo. Ano 2022, não te esqueças de nós.


Autor: Paulo Fafe
DM

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27 dezembro 2021