O novo ano de 2022 nasce sob o signo da calamidade e da incerteza, e esperam-nos, obviamente, tempos improváveis e mefistofélicos, tangidos pela dúvida e a imprevisibilidade.
O mundo enfrenta, vai para dois anos, uma guerra biológica cujo fim ainda não se vislumbra e contra o qual, apenas, dispomos de vacinas, máscaras, testes e confinamentos, e esta situação desigual e incerta quanto à sua vitória final enfraquece a nossa força de lutar, pois o poder destemido e vário do inimigo patogénico é evidente.
E esta guerra do homem contra a natureza sempre, ao longo dos tempos, se manifestou com graves prejuízos para aquele, basta recordarmos algumas das pandemias ou epidemias que ocorreram, aleatoriamente, nos últimos séculos: varíola (1796-1840), sarampo (1954- 1963), gripe asiática (1957-1959), ébola (2013 - 2016), gripe suína ou gripe A (2009), dengue (2015-2016), zica ((2015-2016), sida (1960), tifo (1918-1922), peste negra (1343-1353), gripe espanhola ou pneumónica (1918-1940), febre amarela (1960-1962), gripe das aves (2003-2004), gripe de Hong Kong (1968-1970), cólera (1817-1824 e 1829-1951), malária (desde 1890), tuberculose (1850-1950).
Pois bem, se fossemos a contabilizar, por exemplo, o número de mortos provocados pela tuberculose, durante os 100 anos que durou, ele cifra-se em um bilião, enquanto que a gripe espanhola ou pneumónica que durou 22 anos foi responsável por 100 milhões de vítimas; e, para além da catástrofe humana que sempre estas calamidades originam, ainda há a referir os problemas económicos e sociais, como a miséria e a fome, a elas sempre associados.
Felizmente que a ciência tem evoluído a um ritmo capaz de se antecipar, desenvolvendo meios de os colmatar ou diminuir os seus feitos; todavia, como acontece com o Coronavírus SARS-Ca2 responsável pela Covifd-19, a luta tem sido desigual e, devido às constantes mutações do vírus, a vitória final tem escapado à ciência.
Ora, voltando ao tema que aqui nos trouxe e é a incerteza e o medo que nos acompanham neste dealbar de um novo ano, uma evidência se impõe: ainda temos muito de lutar afincadamente para regressarmos à normalidade; e para vencermos esta luta continuaremos a sofrer a privação das liberdades, individuais e coletivas e dos afetos e onde também fundamental é manter o estado de isolamento, de confinamento, o uso de máscara e as medidas higiénicas, para além de muitas restrições ao globalismo e ao cosmopolitismo que congregam homens e nações.
Hoje em dia, a privação à globalização e ao cosmopolitismo, sendo responsáveis pela abertura de fronteiras e o intercâmbio entre países, coloca, assim, entraves fundamentais ao desenvolvimento de interesses económicos, culturais e tecnológicos que fazem avançar o mundo; e, sabendo que muitos países, porque pobres e atrasados, ficam impossibilitados de obter os meios para o combate à pandemia, como, por exemplo, o acesso a vacinas, a testes, a máscaras e aos serviços de saúde universais e gratuitos, os países ricos e desenvolvidos sofrem o drama de continuarem a ser confrontados com a propagação do vírus, vindo desses países.
Agora, um propósito me parece óbvio e imprescindível a nível global: que os países mais ricos e desenvolvidos apoiem os países mais pobres e menos desenvolvidos com meios de combate à pandemia; e um dos meios fundamentais passa pelo fornecimento de vacinas e de apoio médico-sanitário, pois assim talvez se impedisse o vírus de circular com maior facilidade e nova violência.
E só esta cooperação, partilha, tolerância e solidariedade entre quem mais tem e quem nada ou pouco possui pode trazer-nos um ano de 2022 verdadeiramente novo que seja capaz de enfrentar com mais propósito a pandemia e dela conseguir sair triunfante; e, então, seremos novamente autênticos, livres e felizes e firmes na intenção de defendermos e não agredirmos a mãe-natureza.
Então, até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado