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11-S, o dia que não terminou!(1)

1. Em 11 de Setembro de 2021 passam 20 anos sobre os ataques às Torres Gémeas (Nova Iorque) e ao Pentágono (Washington), que deixou um rastro de cerca de 3000 vítimas – um dos mais nefastos para a memória histórica estadunidense, desde o ataque a Pearl Harbor (1941). Recordemos: naquele dia, nos EUA, 4 voos comerciais foram sequestradas por 19 membros da organização terrorista al-Qaeda, embatendo 2 dos aviões nas chamadas Torres Gémeas, situadas no complexo empresarial World Trade Center, na zona de Wall Street – visando o capitalismo financeiro americano –, cujo impacto matou os passageiros a bordo e trabalhadores e visitantes nas Torres e edifícios circundantes, que, horas depois, se desmoronaram. Um 3º avião embateu no Pentágono, em Washington, sede da defesa dos EUA. O 4º avião, que ia também para Washington, caiu num campo em Shanksville (Pensilvânia), possivelmente pela resistência heróica de tripulantes e passageiros. O hediondo ataque terrorista perpetrado contra a superpotência que emergiu, após o termo da Guerra-fria, como a única, visava o poder – financeiro, defensivo e político – americano, com o fim de provocar o maior número de vítimas e a ruína dos EUA. Então, o terror entrou-nos casa adentro pela televisão, suscitando, desde a dúvida à incredulidade perante que se via e abalando-nos pelo que havia para além do que se via. Para quê tanto sofrimento e morte? Para quê tanto mal?

2. O problema foi que o dia 11 de Setembro não chegou ao fim; continua, passados 20 anos, tudo mudando nos EUA e no mundo, e para pior! O sofrimento e o medo espreitam em qualquer lugar, os riscos multiplicaram-se, a segurança diminuiu, o terrorismo surgiu inopinadamente de cada canto da rua ou espaço colectivo: a dignidade humana passou a uma quimera e os métodos sanguinários, bárbaros e medievais impuseram-se em vastas zonas do globo.

Não se esqueça: fizeram-se duas dispendiosas guerras – no Afeganistão e no Iraque – que agravaram a já difícil situação, além de que a superpotência teve de aumentar desmedidamente o orçamento da defesa, o que, conjuntamente com juros baixos, fez triplicar a dívida americana. Entretanto, os efeitos mais devastadores têm vindo a acontecer ao longo dos últimos anos, muitos decorrendo dessas duas guerras. Se a do Afeganistão se justificou então pela necessidade de retaliação e erradicação do terrorismo que aí encontrara abrigo (em 2 de Maio de 2011, os EUA anunciavam a morte do terrorista Osama Bin Laden, líder da rede al-Qaeda, numa operação realizada próximo de Islamabad, capital do Paquistão), já a invasão do Iraque – iniciada em 20 de Março de 2003 – foi um dos conflitos mais tenebrosos do início do século XXI, feito sem autorização da ONU e que esbarrava com a rejeição da opinião pública – mormente a europeia –, e que, ao contrário do apregoado, revigorou o jihadismo, que, à época, estava bastante debilitado. Se a promessa era uma intervenção rápida, assistiu-se a uma guerra prolongada no tempo, deixando um país fragmentado, enfraquecido por conflitos sectários; mais ainda: verificou-se a ascensão de grupos extremistas, como o autodenominado Estado Islâmico; aliás, o vazio originado, dez anos depois, com a saída das tropas americanas, veio engrossar mais uma nova geração de jihadistas que emergiu para enfrentar as “forças de ocupação”, ou os que vagueavam desocupados, demitidos do exército de Saddam; tudo isso favoreceu o surgimento do grupo extremista do Estado Islâmico, o seu ‘califado’ entre o Iraque e a Síria, o Daesh que se vangloriava em decapitar sírios, até que o mundo acordou para a tragédia quando os decapitados começaram a ser americanos e britânicos. As tão apregoadas armas de destruição maciça nunca apareceram no Iraque, onde houve mais de dois milhões os mortos, e a pobreza extrema atingiu mais de um quarto dos habitantes. Por alguma razão, os iraquianos diziam: “antes tínhamos um sanguinário Saddam, agora temos 100”.

3. Vinte anos depois de invadirem o Afeganistão, em resposta aos ataques de 11 de Setembro de 2001, os Estados Unidos concluíram, no passado dia 30 de Agosto, a retirada das suas forças do país, dando por findo o mais longo conflito armado. O caótico êxodo, iniciado em 14 de Agosto (um dia antes de o grupo fundamentalista dos talibãs ocupar Cabul e retomar o controlo militar do Afeganistão), foi trágico, e a inoperância estratégica fez sofrer outro duro golpe (dia 26), quando um atentado terrorista matou 13 militares americanos e mais de uma centena de afegãos, do lado de fora do aeroporto de Cabul, reivindicado pelo braço do Estado Islâmico no país.

A caótica debandada americana, que fez despertar a “síndrome do Vietname” (saída à pressa de Saigão, em Junho de 1975, após 16 anos de beligerância), é uma derrota dos EUA, e do Ocidente, cujas razões vão para além (ou aquém) de estratégia militar, pois radicam na ignorância da cultura e idiossincrasia dos povos – o que merece maior análise.

O autor não segue o denominado “acordo ortográfico”


Autor: Acílio Estanqueiro Rocha
DM

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11 setembro 2021