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Varrer para debaixo do tapete…

Às vezes certas ‘cenas’ da vida pública – política, social, económica, desportiva, cultural ou mesmo religiosa – fazem-nos lembrar essa imagem de quem, estando em tempo de limpezas e querendo atalhar no tempo e nas ações, como que varre para debaixo do tapete algum do lixo e com isso, tirando-o da vista, faz parecer que a coisa desapareceu… quando, no mínimo, foi escondida ou encoberta.

Eis algumas questões e ‘campos’ de intervenção:

* Foi porque um tal senhor acusado num complexo processo de corrupção, que, tendo-se desfiliado do partido e entregado o cartão de militante, o problema dele e da agremiação a que pertencia resolveu alguma das questões?

* Foi porque se deitou mais dinheiro para cima dos incêndios – com discursos e planos de intenção à mistura com acusações, erros e incompetências – que deixou de haver fogos, mesmo a destempo e em locais menos apropriados?

* Foi porque surgiram outras vitórias – em modalidades diversas e com expressão diferente – que se fez obnubilar o mau ambiente em certos clubes desportivos não-vencedores quase há duas décadas no âmbito do futebol?

* Foi porque, após protestos e diatribes ideológicas, se abriram os cordões para dar dinheiros às artes que isso levou mais gente aos teatros e às (ditas) manifestações culturais subsídio dependentes?

* Foi porque o Papa atual passou a ter um discurso mais entendível e apelativo, que se resolveram os problemas de evangelização, de compromisso na Igreja ou se verifica um maior e melhor testemunho de vida e não de escândalo dos que se dizem cristãos/católicos?

* Foi porque se passou a usar a internet e as (ditas) redes sociais que as pessoas mal-intencionadas se tornaram aceitáveis ou que a solidão foi atenuada com ‘gostos’ e ‘amigos virtuais’?

Estes e outros campos bem como aspetos de intervenção poderão ser ou não espaços onde o ‘varrer para debaixo do tapete’ possa parecer uma solução sem nada resolver ou que continuemos a viver num engano prolongado e sem enfrentar as causas, mas antes tentando debelar as consequências. Com efeito, a maturidade humana, psicológica e espiritual revela-se pela capacidade de enfrentar os problemas e não em pretender viver iludidos, adiando-os ou fazendo-os esquecer com distrações mais ou menos corretas ou mesmo toleradas.

Atribuiu-se a um político da nossa praça lusitana – de grande longevidade governativa à sua maneira – o seguinte critério, quando tinha de enfrentar os assuntos: ‘se quero resolver, eu decido; se é para adiar, nomeio uma comissão’… Decorridas mais de quatro décadas de (pretensa) democracia o que temos visto é pontificar a segunda parte do critério de tal governação e do modo de adiar os problemas e de subverter as questões…

- Somos um país/nação muito típico no contexto europeu e até internacional: com facilidade entronizamos com quem simpatizamos e quase diabolizamos quem nos pareça não estar muito na linha da nossa conveniência. Quantas vezes nos deixamos guiar mais pelo que se ouve dizer – normalmente mal – do que por aquilo que se conhece, de facto. Quantas vezes uma pessoa se torna muito popular porque caiu nas boas graças de quem manipula os outros ou com que dificuldade alguém sai da proscrição se aí foi colocada por interesses quase subterrâneos.

- É público e notório – sobretudo para os que não estão a recibo da governança geral ou local – que uma parte significativa da comunicação social está ao serviço de quem a comprou ou a quem ela se vendeu, particularmente iludindo os auscultados nas sondagens, sendo desta forma mais fácil fazer crer que, mesmo escondendo o cotão que tresanda a mofo e bafio, sob o leito de tantos enfermos e muitos outros já defuntos, tudo vai aparecendo como sucesso à custa da ignorância de tantos outros.

Quantas vezes se vão começando a vislumbrar indícios de que uns certos ratos já estão a querer-se esgueirar do porão. Quantas vezes vemos as mesmas figuras – só mudando de indumentária – a desempenharem papéis nem sempre compatíveis com as patentes desejadas… Estar sobre a onda faz viver algum ridículo!

- Em breve perceberemos se o ninho de vespas vai continuar a fazer de conta que tudo corre bem porque se faz sucesso e se ganha… pois os tentáculos das ideologias começarão a cobrar as quotas do suportado…


Autor: António Sílvio Couto
DM

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14 maio 2018