Respeito por todos os que morreram em nome do espaço e tempo de direito democrático, social, livre e verdadeiro. Calcula-se que morreram cerca de 12.000 soldados lusos na I Grande Guerra, incluindo inúmeros africanos que combateram nas frentes respectivas sobretudo contra as incursões do Império Alemão.
Já as vítimas civis atingirão em Portugal por volta das 220.000. 82.000 por fome e 138.000 por causa da “gripe espanhola de 1918” – a qual, espalhada pelo mundo, conhecida por H1N1-A, vitimou mortalmente por volta das 75 milhões de pessoas, ou seja, a pandemia mais letal da Humanidade.
Há quem fale em 100 milhões, ou “menos de” 60 milhões. Nos tempos mais recentes, esta “gripe” voltou, mas não chegou nunca a ser pandemia. Já a I Grande Guerra vitimou mortalmente por dolo e negligência humanas cerca de 10 milhões de pessoas.
Em 11/11/1918 é assinado no norte de Paris, Compiègne, um Armistício entre os Aliados e o Império Alemão, o qual “reconhece a derrota”. A I Grande Guerra terminou. Uma multidão aplaude o chefe do Governo francês, Georges Clemenceau.
Mas o sentimento na Alemanha, acrescido ao famoso Tratado de Versalhes, é de profunda humilhação. Será precisamente daqui que nascerão as raízes da ascensão e afirmação do nazismo em todo o seu esplendor de terror. E que somente poderia resultar, afinal, na II Grande Guerra mundial, ainda mais horrorosa e mortífera do que a primeira. Enfim, na derrota dos direitos e deveres humanos.
Apesar da velha Aliança diplomática entre Portugal e Inglaterra, a mais velha do mundo em vigor, i.e., o tratado mais antigo do mundo que está activo: Tratado Anglo-Português de 1373 – e apesar de algumas deslealdades históricas, “perpétua amizade, sindicato (e) aliança”, a própria Inglaterra opôs-se sempre à entrada de Portugal na I Grande Guerra. Os motivos eram estratégicos e militares de modo a usar o território luso de modo mais discreto. E porque é que Portugal se tornou beligerante?
Existiram várias razões, entre outras: 1- Afirmação política do Professor da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra “mata-frades” (porque defensor do Estado Laico) Doutor Afonso Costa e de seus correligionários e da “República”, a qual, recorde-se, no meio das monarquias europeias, foi fruto do cobarde Regicídio do Rei D. Carlos de Bragança e do herdeiro Luís Filipe;
2- Manutenção das colónias lusas e travagem da crescente influência do Império Alemão em África; 3- Emancipação da autonomia bilateral diplomática perante a Inglaterra. Na I Grande Guerra os sacrifícios humanos lusos são muito vastos e a guerra torna-se cada vez mais impopular: falta comida e aumenta o desemprego, crescendo greves e criminalidade.
Unionistas e monárquicos tornam-se mais populares, mas Costa acentua o seu “autismo político”. No campo de batalha são os próprios soldados lusos que se amotinam. Em 9 e 10/4/2018, Batalha de Lys, a 2ª Divisão do Corpo Expedicionário Português, já em retirada, é bombardeada e atacada de modo traiçoeiro pelos alemães.
Apesar de alguns heróis, o massacre é concretizado. Os sobreviventes distribuem-se pelo exército inglês e outros tornam-se em mão de obra de trincheiras. A desmoralização apodera-se dos lusitanos.
Apesar de tudo, e de todo o absurdo de mais esta guerra em nome, neste caso, da ambição política republicana portuguesa, mas também da megalomania teutónica imperial, os soldados portugueses integraram em 1919 a Marcha da Vitória em Paris, trazendo, trazendo, e apesar de tudo, uma determinada heroicidade, glória, mas também honra e brio para Portugal.
Estão entretanto sepultados mais de 1800 portugueses no cemitério militar português de Richebourg, França. O único que tem apenas portugueses por terras dos Francos... A Europa não aprenderia a lição... Recorde-se que a União Europeia nasce fruto da prevenção da guerra. Será que ao eliminarmos ou tornarmos opcional o seu estudo e defesa, estamos a contribuir para aprender a lição?
Autor: Gonçalo S. de Mello Bandeira