1.Um convite de responsáveis pelo Cineclube Aurélio da Paz dos Reis levou-me a consultar o «Diário do Minho» dos dias 06, 08 e 09 de junho de 1937. Fi-lo na Biblioteca Pública de Braga. Agradeço a colaboração que me foi prestada.
Fiquei a saber que no dia 06 se realizou no Campo da Vinha – o jornal chama-lhe Campo do Conde de Agrolongo – uma grande concentração de jovens católicos. O pretexto foi a celebração das Bodas de Prata da associação Jovens Católicos de Braga, fundada em 1912.
Houve Missa campal; desfile em que participaram 14.000 jovens; à tarde, coro falado.
Na homilia da Missa e na alocução que proferiu à tarde o então arcebispo de Braga, D. António Bento Martins Júnior, citou diversas quadras de «Roteiro de Gente Moça», um livro de António Correia de Oliveira publicado um ano antes.
Na intervenção da tarde apresentou aos jovens católicos um programa: «trazer Portugal a Cristo-Rei por meio da piedade, do estudo, do exemplo, do sacrifício, da ação». E especificou o conteúdo de cada uma destas alíneas.
Muitos dos jovens permaneceram em Braga nos dias 07 e 08 a fim de participarem em várias sessões de estudo.
2.Isto fez-me pensar na forma como a Igreja reagiu à campanha persecutória contra ela movida por ocasião da I República.
Fundada em 1912, em horas incertas e difíceis para a Igreja, a Juventude Católica de Braga soube defender corajosamente os seus direitos e opor-se a que o mal alastrasse como as condições sociais favoreciam, disse António Pereira de Magalhães (Ação Católica, 1937, pag. 377).
3.A Igreja, a que também chamamos Povo de Deus, é constituída por pessoas que têm a designação de fiéis. Entre estes há os clérigos e os leigos. Todos possuem o direito/dever de participar nas atividades da mesma Igreja.
A missão dos fiéis leigos não é a de serem criados ou guarda-costas dos padres mas a de, sobretudo, levarem aos meios em que vivem a Boa Nova que o Evangelho continua a ser. Sem serem do mundo, serem Igreja no mundo.
4.É bom tomar conhecimento do papel muito ativo que desempenharam fiéis leigos em momentos difíceis para a Igreja.
Nos meus tempos de estudante ouvi muitas vezes dizer ser a História mestra da vida. Necessário é conhecê-la bem.
Hoje nota-se um certo desprezo por aspetos significativos do que foi a nossa História de mais de oito séculos. Há factos que se silenciam e acontecimentos de que se faz uma leitura enviesada, em fidelidade a preconceitos ideológicos.
Não deixaria de ser útil um estudo, o mais possível imparcial, do que foi a reação da Igreja aos novos tempos impostos pela I República. Daria boas teses de mestrado e de doutoramento. Ajudaria a desmontar certas formas de fazer «história».
Podem chamar-me saudosista, mas estou persuadido de que a Ação Católica foi, e em alguns casos ainda é, uma grande escola de formação de leigos. Leigos esclarecidos, conscientes, responsáveis, interventivos, respeitosamente desassombrados.
5.Como reage, nos nossos dias, a Igreja que somos à onda de paganização que se abateu sobre a sociedade portuguesa?
Os cristãos que somos procuramos ser fermento, sal e luz, reivindicando, sempre que necessário, o direito à diferença, ou cedemos à tentação de sermos como os outros (os que não veem Jesus como a grande referência nem adotam o Evangelho como norma de conduta) seduzidos pela cantilena do agora é assim?
Que Igreja somos, que Igreja devemos ser, que influência exercemos no mundo de hoje?
Estas fazem parte de um lote de perguntas que me inquietam.
Como no célebre conto de Hans Christian Andersen há pessoas que, receosas de não serem consideradas suficientemente evoluídas, não têm a coragem de dizer que o rei vai nu. Mas a verdade é que vai. Em minha opinião, claro.
Autor: Silva Araújo
06 de junho de 1937

DM
4 junho 2020