Numa oração pela humanidade, seguida de uma bênção extraordinária pelo fim da pandemia de Covid-19, o Papa falou dos médicos, dos enfermeiros, dos trabalhadores dos supermercados e das limpezas, das forças policiais, dos bombeiros, dos sacerdotes e religiosas e dos voluntários, considerando que estes compreenderam a mensagem de que «ninguém se salva sozinho».
«Podemos ver tantos companheiros de viagem exemplares, que no medo reagiram oferecendo a própria vida. É a força operante do Espírito derramada e plasmada em entregas corajosas e generosas», disse o Papa na cerimónia transmitida para todo o mundo a partir da praça de S. Pedro, completamente vazia.
«É a vida do Espírito, capaz de resgatar, valorizar e mostrar como as nossas vidas são tecidas e sustentadas por pessoas comuns (habitualmente esquecidas), que não aparecem nas manchetes dos jornais e revistas, nem nas grandes passarelas do último espetáculo, mas que hoje estão, sem dúvida, a escrever os acontecimentos decisivos da nossa história: médicos, enfermeiros e enfermeiras, trabalhadores dos supermercados, pessoal da limpeza, transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes, religiosas e muitos – mas muitos – outros que compreenderam que ninguém se salva sozinho», frisou.
Na sua mensagem ao mundo, o Papa relembrou o momento conturbado que atinge toda a humanidade na sequência da pandemia que já matou 25 mil pessoas.
«Desde há semanas que parece o entardecer, parece cair a noite. Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo dum silêncio ensurdecedor e um vazio desolador, que paralisa tudo à sua passagem: pressente-se no ar, nota-se nos gestos, dizem-no os olhares. Revemo-nos temerosos e perdidos», disse.
Francisco comparou o momento a um relato bíblico de uma tormenta enfrentada pelos discípulos de Cristo, considerando que tal como eles a humanidade foi agora surpreendida por uma tempestade inesperada em que todos estão «no mesmo barco, todos frágeis e desorientados, mas ao mesmo tempo importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento».
«Neste barco, estamos todos», salientou.
Sobre a sociedade moderna Francisco disse que é preciso parar, pensar e mudar e que os tempos difíceis que a humanidade enfrenta desmascararam a vulnerabilidade deixando a descoberto «falsas e supérfluas seguranças» com que foram construímos os programas, os projetos, os hábitos e as prioridades.
«Mostra-nos como deixamos adormecido e abandonado aquilo que nutre, sustenta e dá força à nossa vida e à nossa comunidade», disse o Papa adiantando que «com a tempestade, caiu a maquilhagem dos estereótipos com que mascaramos o nosso «eu» sempre preocupado com a própria imagem; e ficou a descoberto, uma vez mais, aquela (abençoada) pertença comum a que não nos podemos subtrair: a pertença como irmãos».
A humanidade, frisou, avançou a toda a velocidade sentindo-se forte e capaz, deixando absorver-se pelas coisas, não ouvindo o grito dos pobres e do planeta gravemente doente.
«Avançamos destemidos pensando que continuávamos saudáveis num mundo doente», disse adiantando que agora é o tempo de reajustar a rota da vida.
O momento de oração com o Papa Francisco começou, pelas 17h00, no adro da Basílica de São Pedro, tendo o Papa dado a bênção Urbi et Orbi, concedida tradicionalmente no domingo de Páscoa, que se celebra apenas daqui a três semanas.
A Urbi et Orbi é uma bênção solene para conceder indulgência plenária, ou seja, o perdão dos pecados.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou cerca de 540 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram perto de 25 mil.
Dos casos de infeção, pelo menos 112.200 são considerados curados.
Autor: Redação/Lusa