OArcebispo de Braga defendeu, ontem, que «urge uma mentalidade nova que proteja a criação e respeite a natureza» e que «é legítimo esperar novas políticas a nível governamental e autárquico que garantam um futuro mais tranquilo» em Portugal.
Uma semana depois da tragédia dos incêndios no Centro e Norte do país, que provocaram 43 mortos e cerca de 70 feridos, D. Jorge Ortiga disse que «não bastam os discursos», exige-se «medidas concretas que garantam, tanto quanto possível, um clima sem grandes perturbações».
«As mortes de tantos portugueses e a destruição de tantos bens exigem ações concretas que mostrem que os cidadãos podem confiar em quem governa e que deveria servir o povo com competência e não por carreirismo», preconizou.
O Arcebispo de Braga deixou esta ideia na homilia da missa da solenidade de S. Martinho de Dume, padroeiro principal da Arquidiocese, e do XXXIII Dia Mundial das Missões, na Sé de Braga.
Em quatro meses, os incêndios em Portugal tiraram a vida a mais de uma centena de pessoas e provocaram ferimentos a mais de 250, sem contar os avultados prejuízos materiais causados às populações e empresas atingidas. As alterações climáticas são um «fator determinante neste contexto, mas todos sabem que as grandes potências não querem assumir compromissos para assim defenderem interesses nacionais ou de grupos económicos», disse D. Jorge Ortiga.
O prelado afirmou ainda que «é necessário confiar nas instituições que estão no terreno e prestam assistência personalizada e de primeira necessidade», recordando, a propósito, o trabalho «meritório» das Cáritas Diocesanas que, articuladas com a Cáritas Nacional, têm «assistido pessoas, reconstruído casas e gerido corretamente o dinheiro dos peditórios».
Ainda na homilia, o Arcebispo de Braga exortou os fiéis a colocarem, «nestes tempos de indiferença», a esperança cristã em todos os ambientes humanos, referindo que «não é com pessimismo ou alarmismo» que se constrói algo de positivo.
Citando S. Paulo, lembrou que «a atividade da fé, o esforço da caridade e a firmeza da esperança» devem ser o itinerário da vida de um cristão.
«O cristão pode até não ser um político, mas não está dispensado de fazer política, ou seja, de pensar e construir um mundo mais equitativo e solidário», considerou D. Jorge, notando que a «caridade deve ser o estatuto de vida do cristão, pois sem caridade o mundo torna-se um inferno».
No Dia Mundial das Missões, o Arcebispo de Braga pediu aos fiéis que sejam sempre generosos e ajudem a revitalizar nas paróquias a Santa Infância, uma das quatro obras missionárias pontifícias, constituindo grupos de 12 crianças dos 7 aos 14 anos, para aí nascer a consciência missionária. O peditório de ontem foi a favor das missões.
Na celebração foi também evocado S. Martinho de Dume, principal padroeiro de Braga, para que «coloque a missão no coração de uma fé».
«Com S. Martinho de Dume sejamos discípulos missionários que acreditam na presença e na esperança que Cristo oferece e se comprometem como profetas da esperança para um mundo mais solidário e mais irmão», exortou D. Jorge Ortiga.
O prelado lembrou que este antigo bispo de Braga deixou o testemunho de uma «missão multidisciplinar», destacando a evangelização dos povos suevos.
«À sua imagem devemos prosseguir a redescoberta da nossa vocação de sermos de discípulos e discípulos missionários», conclui. A missa foi celebrada com a catedral repleta, notando-se a presença de pessoas provenientes também de outros países.
D. Jorge saudou um grupo de brasileitos de passagem por Braga.
Autor: Jorge Oliveira
D. Jorge Ortiga quer nova mentalidade que proteja a criação e respeite a natureza
Publicado em 23 de outubro de 2017, às 15:20