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Livro de homilias do Padre Joaquim Félix coloca o leitor perante os desafios de Deus

Livro de homilias do Padre Joaquim Félix coloca o leitor perante os desafios de Deus
Fotografia

Publicado em 30 de novembro de 2024, às 15:16

Obra “Teorbas dos Tempos” tem prefácio do professor Alfredo Teixeira

O livro “Teorbas dos Tempos. Da palavra turbante que remói”, da autoria do Padre Joaquim Félix, acaba de ser publicado pela Officium Lectionis. A obra, que encerra hoje, dia 30 de novembro, o período de pré-venda, é o primeiro volume - o autor garante que outros se seguirão - de homilias, relativo aos Tempos Fortes (Advento, Natal, Quaresma, Páscoa) do Ano Litúrgico. É também indicado para celebrações “especiais” como Matrimónios, Funerais, Sétimos dias, etc.
O livro tem uma estruturação interna que se diferencia dos habituais Homiliários. Conta com fotografias a cores e a preto e branco; um haiku por cada uma das homilias, em página única; e, para maior interatividade dos leitores, recorre ao usos do QR Code, o que o torna acessível através dos telemóveis e possibilita o acesso a conteúdos audiovisuais: filmes, músicas, artigos, obras literárias e de arte, etc.
«Na sua qualidade de “bordão de peregrino”, este livro pode revelar-se um ótimo companheiro de viagem através da Palavra de Deus e do Mundo», ascreve o autor. O simbolismo da capa traduz a visão do autor de “Teorbas dos Tempos”sobre o aproximar de alguém do «Medo não
medo». Enriquecida com o «Sudário» como pano de fundo, a capa da obra de Joaquim Félix é também enriquecida com esculturas de Rui Chafes, que remetem para a  exposição «Chegar sem partir», realizada no Museu de Arte Contemporânea de Serralves. A fotografia é de Joaquim Félix de Carvalho, em 2022.

Construção 
de alianças
Com prefácio do professor Alfredo Teixeira, “Teorbas dos Tempos” coloca o leitor perante o desafio de Deus. 
«Reconheçamos, hoje a dicção de Deus é um desafio com novas fronteiras. Joaquim Félix de Carvalho guarda aquela sageza bíblica acerca da nomeação de Deus. Na sua parenética descobre-se, umas vezes, a abertura ao léxico plural de Deus; outras, o falar indeferido, reconhecendo que, para dele falar, é necessário aceder ao exílio do impronunciável. Nessa via, a homilia só pode ser «salmodia», uma vez que se trata de dizer o enigma que nos habita no mistério que nos excede, de acolher a Palavra nas nossas palavras, de aceitar ser o bordão que com Deus vibra, na teorba da criação», escreve o académico.
«A prática da etnografia ensinou-me que a homilia é um laboratório instigante para identificar várias regiões de transformação na eclesiosfera católica», destaca o autor do profácio, para deixar claro que «a mesma etnografia assinalou que a importância da homilia, na receção do II Concílio do Vaticano, se agigantou». 
«Para além da ordem das legitimidades, esse ato de palavra – não já numa perspetiva política, mas segundo um enfoque pragmático – apresenta-se como um lugar privilegiado de construção de alianças. Tornou-se possível mapear a eclesiosfera católica a partir dos regimes de discipulado que se recompõem em torno dos diferentes estilos homiléticos. Essas alianças podem ser muito diversas, de acordo com as mundividências em jogo», acentua Alfredo Teixeira, que vê nas homilias de Joaquim Félix de Carvalho uma «oralidade [que] se deixa transportar na respiração comunitária dos textos».
« Nestes artefactos literários, ouvimos a voz do dizedor, a sua voz «co-movida» com o mundo, o seu diálogo com uma comunidade de fé», acentua o professor Alfredo Teixeira, destacando o carácter «intrigante» das homilias de Joaquim Félix. «As linguagens da fé, na sua criatividade própria, abrem uma brecha inesperada no mundo da vida. Podem ser vistas como uma palavra em contramão que suscita perguntas – por vezes ainda não enunciadas – ou que interpreta os enigmas da nossa vida de forma inesperada – são, por isso, «intrigantes». Intrigantes também porque elas são o rasto desse processo de inscrição das trajetórias de vida numa intriga: a história de liberdade e desafio que Deus quis fazer com a humanidade», refere o autor do prefácio, numa reflexão que também se detém na dimensão «parabóilica» das proposta de reflexão do autor de “Toerbas dos Tempos”,

Escutar 
a mundividência 
Entrando nas origens gregas da palavra, Alfredo Teixeira dá nota que a vertente da parábola nas homilias convoca «práticas e regiões de significado muito sugestivas: o que é posto de parte; uma história que fala de outra coisa para chegar ao cerne da questão; uma história que não está acabada para poder ser continuada; uma narrativa que não se assemelha à vida para dela melhor falar; uma história que tem de ser falada, para que a comunidade a realize». «Assim, a homilia só pode aspirar a ser uma metáfora viva», acentua, para deixar claro que, em “Teorbas dos Tempos”, Joaquim Félix de Carvalho confronta o leitor com homilias que são «deslocações». É que «a discursividade homilética exige o deslocamento do locutor, a peregrinação para os lugares onde se entreveem os «sinais dos tempos», e «nesse desalojamento, o locutor toma a direção do auditório, lugar onde o Espírito do Ressuscitado precede toda a palavra».
Assim, a homilia só pode ser, também, um ato de escuta da mundanidade de todos os outros peregrinos, numa aliança pela palavra. Mesmo se a “mise-en-scène” se abeira do monólogo, a natureza da homilia é dialógica, no sentido baktiniano – o discurso produzido pelo pregador responde a uma situação, recolhendo sob o modo de ressonância todo potencial criativo do vocabulário, das linguagens, das aspirações, das feridas, das esperanças da assembleia. A Palavra de Deus vive, pois, no tecido da pregação». sublinha o autor do Prefácio, notando que no livro de Joaquim Félix contemplamos «homilias competentes». Isso porque «o diálogo que antes se sublinhava pode ser entendido como uma competência especificamente cristã. (…) Nas homilias de Joaquim Félix de Carvalho descobre-se essa exercitação da fé como competência para ligar coisas heterogéneas, edificar lugares de hospitalidade, traduzir as novas linguagens, sinalizar urgências, tocar as feridas com o lodo do inaudito. Não espanta, pois, que o seu discurso se aproxime tão frequentemente do pluriverso das linguagens artísticas», sublinha Alfredo Teixeira.
Para o autor do Prefácio, as homilias que dão vida ao livro «constituem-se como um vasto átrio onde uma multidão de sons, textos, gestos, imagens, movimentos assinalam uma fenda espiritual no mundo». E «o recurso à arte, para dizer Deus, não é aqui um exercício ilustrativo ou uma retórica preparatória ou instrumental». É que «os artefactos recolhidos no discurso homilético, incluindo as suas fotografias ou a sua arte de embutimento poético, revelam a coragem de perseguir, longe da mesmice dos lugares esperados, fora dos cânones celebrados da arte sacra, as dores de parto de um mundo em transformação», remata Alfredo Teixeira.