O novo espetáculo do Teatro da Didascália estreia, hoje, na abandonada fábrica Sampaio Ferreira, na vila de Riba D'Ave, em Famalicão. Retrata o que resta depois da falência da indústria têxtil e como ficaram as vidas dos operários da região do Vale do Ave. Mas também o que o teatro pode resgatar ao presente.
A vila de Riba D'Ave tem imensas vidas tecidas nas fábricas. Ao longo de gerações, famílias moldaram as suas vidas de trabalho pelos batimentos ritmados das máquinas de fiação e tecelagem. Depois veio a crise e as bandeiras negras. O processo de produção sofreu rudes golpes e as vidas de muitos também.
«Aqui, a fábrica está por toda a parte: nas margens e na água do rio, no mercado, no hospital, nas escolas, no hóquei, no cineteatro e até dentro das próprias casas. A fábrica está em todos os lugares mas já não está na fábrica. Fechou, está vazia, tirou férias ou foi dar uma volta. Mas a sua presença faz-se sentir pelo silêncio que deixou no centro da vila e por tudo o que cresceu a partir dela», ilustra ao 'DM' o diretor artístico do Teatro da Didascália, Bruno Martins. Abordando o "primeiro ato" do espetáculo que estreia hoje, pelas 19h00, na abandonada fábrica Sampaio Ferreira, o responsável acrescenta que foi «a partir desse centro, desse átomo gerador do 'big-bang' da revolução industrial de Riba d’Ave que partimos», num trabalho que foi à procura, ao longo dos últimos meses, «de vestígios, histórias e imagens que nos falassem da fábrica, do trabalho, dos operários, das operárias, mas também do rio que dá nome à vila e que se esconde atrás da fábrica».
De tudo aquilo, mas também do que resta depois da falência da indústria e de como ficaram as vidas dos operários, será tecida a mais recente criação do grupo que hoje estreia "Paisagem Efémera – industrial e urbana".
Os registos dizem que eram 200 os teares da Fábrica Sampaio Ferreira, a empresa fundada por Narciso Ferreira, em 1896. Foi a primeira empresa têxtil moderna de Vila Nova de Famalicão. O seu marco no território é inquestionável e, mesmo depois de desativada, os ecos do seu legado ainda se fazem sentir por toda a vila: no mercado, no hospital, nas escolas, no cineteatro e até dentro das próprias casas. Na forma como olha para a paisagem industrial e urbana de Riba d’Ave, o Teatro da Didascália procura agora «dar voz aos operários anónimos que permanecem na sombra da história, onde por norma sobressaem apenas os nomes dos grandes empresários».
No espaço onde agora impera o silêncio e o vazio vão projetar-se sons de máquinas, personagens e narrativas imaginárias. Bruno Martins, António Júlio, Margarida Gonçalves e Rui Souza, criadores e intérpretes do primeiro ato do "Paisagem Efémera – industrial e urbana", vão explorar diferentes elementos que compõem o universo industrial, fazendo da antiga fábrica uma página em branco para escrever o presente.
O primeiro ato de Paisagem Efémera pode ser visto esta quinta e sexta-feira, às 19h00, e no sábado, às 11h00, na Fábrica Sampaio Ferreira cuja lotação está limitada a 53 lugares. O preço dos bilhetes é de cinco euros.
Autor: R. de L.
Riba D'Ave recebe teatro em fábrica vazia sobre vidas de operários têxteis
Publicado em 27 de maio de 2021, às 18:35