O Ministério da Agricultura lançou duas linhas de financiamento exclusivamente destinadas aos projetos de investimento do sub-setor agroalimentar.
A abertura dos dois concursos, no valor de 5 milhões de euros cada um, foi a fórmula encontrada pelo Ministério para ultrapassar as implicações negativas que o novo desenho de valorização das candidaturas aos fundos europeus tem no setor leiteiro.
A revelação foi feita ontem pelo presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), João Machado, à margem de uma reunião com dirigentes do Conselho Consultivo de Entre Douro e Minho.
«Foram abertos dois concursos no valor de 5 milhões de euros cada um, porque grande parte dos agricultores não pode ter seguros nem pertence a nenhuma Organização de Produtores», disse o presidente da CAP, precisando que, pelo novo modelo de avaliação, as candidaturas que não cumpram esses requisitos perdem automaticamente quatro pontos.
No caso concreto do setor leiteiro, «é mesmo impossível ter seguro agrícola», acentuou o líder dos agricultores portugueses, salientando que «o Ministério da Agricultura tem mostrado muita sensibilidade» para ultrapassar os problemas criados pelo modelo de avaliação das candidaturas ao Programa de Desenvolvimento Regional (PDR) 2020.
As mudanças operadas quer nos critérios de avaliação das candidaturas, quer no modelo de financiamento dos projetos de investimento foram as questões que estiveram no centro do encontro de João Machado com os líderes das associações de agricultores da região de Entre Douro e Minho.
O presidente da CAP alertou que este ano «não vai haver» dinheiro para financiar todos os investimentos agrícolas.
«Alertámos, por isso, os agricultores que devem pensar muito bem se podem ou não concretizar os investimentos sem apoio financeiro do PDR, porque, ao contrário dos anos anteriores, não vai haver dinheiro para todos e os investimentos que forem feitos antes de haver decisão sobre as candidaturas podem não ter financiamento», disse o "patrão" dos agricultores portugueses.
João Machado precisou que o PDR 2020 abriu um concurso no valor de 50 milhões de euros, para todo o setor agrícola nacional.
«Mas existem já candidaturas no valor de 300 milhões de euros, que transitam de concursos anteriores», vincou, deixando claro que há muitos projetos que não vão ter qualquer apoio.
Investimento em máximo histórico
A certeza de que os dinheiros europeus não vão chegar para todos não se deve ao corte nas verbas do Programa de Desenvolvimento Regional 2020, mas ao «fervilhar» de novos investimentos no setor.
«Estamos a viver um momento totalmente distinto dos últimos 10 anos. Temos muito mais intenções de investimento que o dinheiro disponível nos programas de apoio», disse João Machado, deixando claro que nunca os projetos agrícolas despertaram tanto interesse em empresários do setor e novos empreendedores.
João Machado estima que o «fervilhar de investimentos» se deve ao facto de a agricultura ter sido o setor de "refúgio" durante o período mais agudo da crise que o país atravessa.
«O setor aumentou muito as exportações e criou muitos empregos», vincou o presidente da CAP, estimando que em 2020 as exportações atinjam os 7 mil milhões de euros, igualando as importações.
Autor: Joaquim Martins Fernandes