“O ‘cluster’ do calçado assumiu como visão ser a referência internacional no desenvolvimento de soluções sustentáveis, reforçando as exportações portuguesas alicerçadas numa base produtiva nacional altamente competitiva, fundada no conhecimento e na inovação”, avança a Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS).
Neste sentido, no âmbito do projeto ‘BioShoes4All’ está a ser desenvolvida uma nova geração de produtos elaborados, por exemplo, com recurso a materiais como arroz, borras de café, cascas de maçã ou garrafas de plástico, tendo por base a premissa de que “nada se desperdiça, tudo se transforma”.
Citada num comunicado divulgado pela APICCAPS, a coordenadora do projeto explica que o ‘BioShoes4All’ tem “a ambição de promover uma mudança radical nos materiais, tecnologias, processos e produtos de calçado e marroquinaria, gerando soluções sustentáveis, valorizáveis economicamente no mercado internacional”.
“Esta ambição é suportada pelo consórcio de excelência que estabelecemos, composto por 70 parceiros de diferentes setores, desde os recursos biológicos, materiais, produtos químicos, componentes, calçado, marroquinaria, a produtores de tecnologias de produção e ‘softwares’, valorizadores de resíduos, comerciantes e retalhistas que, em conjunto, irão partilhar recursos, riscos e oportunidades”, concretiza Maria José Ferreira.
De acordo com esta responsável, “nos três próximos anos serão desenvolvidos cerca de 50 novos produtos com melhor pegada ecológica, implementadas 25 linhas piloto industriais e realizadas mais de 50 publicações e um número alargado de ações de disseminação, promoção e capacitação”.
Cofinanciado pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), o projeto ‘BioShoes4All’ aposta, assim, no “desenvolvimento e produção de novos biomateriais e componentes e ecoprodutos de calçado e marroquinaria, alicerçados nos princípios da bioeconomia circular e do desenvolvimento sustentável em todas as suas dimensões”.
O objetivo é criar “soluções diferenciadas, valorizadas pelos clientes e consumidores, contribuindo para catalisar uma nova bioeconomia sustentável, a valorização eficiente de biorrecursos regionais e nacionais e a descarbonização”.
Adicionalmente, tem como propósito “o desenvolvimento e a aplicação de novas abordagens e tecnologias visando a minimização e a valorização dos resíduos de produção e pós-consumo, e a produção ágil e ecoeficiente de materiais, componentes, calçado e marroquinaria com menor pegada ambiental, reciclados e/ou recicláveis, no contexto de uma economia verde, digital, competitiva e circular”.
Desta forma, salienta a APICCAPS, contribui-se para o aumento do ciclo de vida dos materiais, uma gestão mais eficiente dos recursos materiais e energéticos, a neutralidade carbónica, o combate às alterações climáticas e o aumento da competitividade do setor à escala internacional.
Conforme explica a associação, o ‘BioShoes4All’ está dividido em cinco pilares de intervenção: Biomateriais (Pilar 1), Calçado Ecológico (Pilar 2), Economia Circular (Pilar 3), Tecnologias Avançadas de Produção (Pilar 4) e Capacitação e Promoção (Pilar 5).
Para atingir os objetivos, previu “um leque alargado e complementar de ações”, nomeadamente “investigação, desenvolvimento e inovação desde o processo de investigação industrial até à transferência para o mercado”, “inovação em matéria de processos e organização, incluindo novas linhas de produção e investimentos produtivos” e “capacitação, comunicação e promoção ampla do projeto e do ‘cluster’ à escala nacional e internacional, incluindo conteúdos dirigidos a consumidores, empresas e instituições”.
O Pilar 1 do ‘BioShoes4All’ propõe-se a um estudo e ao desenvolvimento de novos biocouros, biomateriais, biocompósitos, componentes e processos, por incorporação de materiais de base biológica, incluindo biomassas e subprodutos agroindustriais, redução no uso de matérias sobretudo de base fóssil, aumento da eficiência de uso de recursos e eliminação de substâncias críticas.
Já o Pilar 2 assume o desenvolvimento de estudos metodológicos de ecodesign e pegada ambiental dos produtos, de novos conceitos de calçado e marroquinaria ecológicos com menor pegada ambiental, duráveis, reparáveis, recicláveis, diferenciados, customizáveis com elevado valor acrescentado.
Por sua vez, o Pilar 3 visa o desenvolvimento e demonstração de soluções para regenerar/valorizar as principais tipologias de resíduos de produção do ‘cluster’ e iniciar a valorização de produtos de pós-consumo, “aumentando a circularidade nos processos produtivos ao longo das cadeias de valor e as simbioses industriais”.
O Pilar 4 disponibilizará tecnologias inovadoras para a “digitalização vertical e horizontal do ‘Cluster do Calçado 4.0’”, nomeadamente soluções para rastreamento dos processos produtivos e produtos, planeamento avançado, automação/robotização de operações de produção críticas e introdução de ecoprocessos de fabrico.
Finalmente, o Pilar 5 procederá à “preparação e à execução das ações de capacitação e promoção e disseminação globais do projeto, em articulação com os trabalhos a realizar em cada um dos pilares”.
Autor: Agência Lusa