O livro, que foi buscar o título a uma música de Sérgio Godinho num epígrafe da autora, retrata pequenas histórias atuais como os incêndios que devastaram o país, em 2017, aos dramas íntimos de portugueses convertidos ao estado islâmico, de refugiados sírios num lar de velhos ou de uma mulher tunisina que dá à luz num barco apinhado de gente durante a travessia do Mediterrâneo. Uma mistura os dois lados profissionais da autora, a realidade do jornalismo e a imaginação da escritora.«Trata de um conjunto de contos que surpreende o leitor pela invulgar atualidade temática e sociológica. Um notável trabalho de precisão e depuramento da palavra e, acima de tudo, a um olhar atento aos dramas humanos, independentemente do lugar mais ou menos doméstico que lhes serve de palco», disse o juri. O presidente da Câmara de Famalicão destacou a importância do prémio num contexto onde o patrono da distinção é intimo de Famalicão. «O nosso concelho continua focado naquilo que é a sua história, memória e identidade. É um autor que não pode ser esquecido e este grande prémio é uma forma de perpetuar a memória de Camilo Castelo Branco. Ao mesmo tempo traz para Famalicão vultos da cultura nacional como é o caso da premiada deste ano e outras de ano interiores cujo as obras ajudam em muito a valorizar o prémio que é concedido», apontou Paulo Cunha. Já a escritora mostrou «orgulho» e «honra» na distinção.
«Um prémio permite ao livro ganhar uma nova vida, uma espécie de segunda oportunidade ao livro, pois como é sabido os livros têm, infelizmente, menor prazo do que os iogurtes», frisou Ana Margarida de Carvalho, que acrescentou ainda que o livro não pretende transmitir mensagens, mas sim «mais fazer perguntas do que dar respostas».«O que une estes contos é uma ideia de casa, de lar, de desejo regressar a uma casa perdida», destaca a autora, que num dos contos conta o momento que passou ao perder uma casa nos incêndios de 2017, um testemunho passado ao vivo. Ana Margarida de Carvalho é jornalista e escritora. Licenciada em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa. O primeiro romance “Que Importa a Fúria do Mar” valeu-lhe o prémio APE 2013. “Não se Pode Morar nos Olhos de um Gato” é o seu segundo romance, foi considerado livro do ano 2017, nomeado pela SPA, e vencedor do Prémio Manuel Boaventura.


Autor: Nuno Cerqueira