A Câmara Municipal Vila Verde apresentou publicamente, hoje, Dia Internacional do Idoso, a médica Fátima Peixoto como Provedora do Idoso do concelho. A sessão decorreu no edifício dos Paços do Concelho e inclui a assinatura de um protocolo de colaboração com a Comissão de Proteção ao Idoso.
A presidente da Câmara de Vila Verde justificou a instituição desta figura com a necessidade de reforçar a proteção dos direitos das pessoas idosas, tendo em conta que a população está cada vez mais envelhecida, sendo Vila Verde um dos concelhos do país onde a esperança média de vida é mais elevada.
«As pessoas hoje vivem mais tempo, e isso é bom, mas é desejável que o envelhecimento seja ativo, que as pessoas idosas possam participar em atividades, de recreio, de lazer, culturais», disse Julia Fernandes, dando como exemplo o Coro da Academia Sérior de Vila Verde que abriu a sessão com uma apreciável atuação que foi aplaudida pelos presentes.
A autarca felicitou todas as instituições sociais, incluindo as da Igreja Católica, que desenvolvem a sua ação de modo a combater a solidão e o isolamento dos idosos e lembrou que o Município tem em curso um projeto em rede com outras instituições, denominado Idade Maior, que faz acompanhamento de idosos do concelho.
Embora as instituições do concelho que trabalham com idosos sejam de «excelência», a autarca notou que nem todas terão respostas suficientes para a promoção de um envelhecimento ativo dos utentes, podendo, por intermédio do provedor, encaminhá-las para projetos e atividades recreativos e de lazer.
«Os idosos são extremamente importantes para nós», vincou a autarca.
Júlia Fernandes saudou e agradeceu à provedora do Idoso de Vila Verde ter aceitado o convite, referindo que Fátima Peixoto tem todas as qualidades para exercer a função.
«O provedor tem que ser uma pessoa idónea, muito integrada na sociedade, que conheça a realidade, que esteja disponível para o outro e faça a ponte entre instituições e município», apontou.
Fátima Peixoto foi durante muitos anos médica de saúde familiar no Centro de Saúde de Pico de Regalados e também chegou a exercer o cargo de vereadora na Câmara Municipal de Vila Verde.
Na sua intervenção, após ser indigitada, a provedora do Idosos de Vila Verde apelou ao compromisso de todos na defesa dos direitos dos idosos, principalmente dos mais cadenciados, garantindo-lhes «mais qualidade de vida, segurança e apoio».
«Há casos que não estão encobertos e que nós desconhecemos. É o caso de pessoas que vivem sozinhas e que, por vezes, ainda não estão identificadas», disse Fátima Peixoto, propondo a que em cada freguesia do concelho se constitua um grupo de voluntários, no mínimo de duas pessoas (uma pode ser o/a presidente da Junta), que assuma o compromisso de assinalar situações problemáticas ao Provedor do Idoso.
«Serão uma espécie de “sentinelas” para fazer o diagnóstico de necessidade de intervenção. Este apoio é fundamental para desenvolver todo o trabalho do Provedor» sublinhou.
Fátima Peixoto lembrou que a população idosa no concelho tem aumentado (segundo o último Censos, acima dos 75 anos cresceu 28%), pelo que esta faixa etária «carece de mais atenção e mais apoios».
«Estes apoios não são só de mim ou da presidente da Câmara e dos vereadores, ou dos médicos, é uma responsabilidade de todos», reforçou.
O presidente da Comissão de Proteção ao Idoso felicitou a Câmara de Vila Verde por instituir o Provedor do Idoso e escolher o Dia Mundial do Idoso para a assinatura do protocolo com a Comissão.
Carlos Branco endereçou também uma saudação a Fátima Peixoto, que assumiu a função de provedora do Idoso de Vila Verde com a presença dos provedores do idoso dos município de Amares, Póvoa de Lanhoso e Vieira do Minho.
Lembrando que o Provedor do Idoso tem, entre outras tarefas, o compromisso de «ouvir, perceber e alertar para os problemas ou dificuldades existentes na população idosa», Carlos Branco garantiu que a Comissão que dirige vai «continuar o trabalho em prol daqueles que precisam de um olhar mais atento».
A Comissão de Proteção ao Idoso foi criada em 2013 e desenvolve a sua atividade através de um modelo colaborativo, assente numa política institucional com organizações públicas e privadas.
«Precisámos de melhorar a qualidade de vida dos idosos»
O programa de apresentação pública da Provedora do Idosos de Vila Verde inclui uma conferência proferida pelo professor Eduardo Duque, em que abordou o tema “Do respeito à marginalização: a transformação da perceção da pessoa idosa na sociedade contemporânea”.
O orador referiu que, no passado, os idosos eram tidos como detentores de grande sabedoria e respeitados pela sociedade, mas após a II Guerra Mundial no Ocidente, e no caso concreto português,a partir dos anos 80, houve uma mudança significativa, com o foco a desviar-se para a valorização exagerada da juventude.
«A sociedade hoje valoriza muito o ser jovem e ao fazê-lo está a desvalorizar as outras idades, nomeadamente a faixa dos idosos», disse o docente da Universidade Católica, observado que há num «distanciamento» entre netos e avós e até entre filhos e pais, que foi promovido, inicialmente pela escolarização, e agora é potenciado pelas redes sociais digitais.
Defendeu que em Portugal - um do países da União Europeia com a esperança média de vida é mais elevada - «precisámos de melhorar a qualidade de vida das pessoas a partir dos 65 anos», e para isso é necessário «lutar contra o idadismo», um conceito que abrange estereótipos, preconceitos e descriminação em relação aos idosos.
«Os estereótipos surgem, por exemplo, quando se diz que os idosos não podem aprender novas línguas, Isso é uma visão limitada e incorreta. Temos também de combater o preconceito sobre o idosos muitas vezes manifestado em relação a odores ou doenças», explicou.
Para Eduardo Duque o idadismo deve ser combatido a partir da Escola e da Família e também nos organismos e instituições.