Ponte de Lima celebrou «a democracia e a amizade» à volta da Mesa dos Quatro Abades, um «fórum popular» que remonta ao século XVII.
Foi desta forma que o presidente da Câmara, Vasco Ferraz, definiu a cerimónia que decorreu, no passado domingo, à volta da mesa em granito que se apoia no marco divisório que une as freguesias de Calheiros, Cepões, Bárrio e Vilar do Monte.
Antigamente, os representantes das paróquias sentavam-se nos quatro bancos que ladeiam a mesa, cada um assente no território da respetiva localidade, para debater e resolver os mais diversos assuntos, consultando os fiéis, que se encontravam ao seu redor.
Com a organização a cargo de Vilar do Monte, cumprindo a tradição de rotatividade, a edição deste ano contou com a participação do presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, António Cunha, e do vice-presidente para a Cultura e Património, Jorge Sobrado, bem como com a presença dos vereadores municipais.
Debaixo de chuva, a realização começou com o presidente da Associação da Mesa dos Quatro Abades, Francisco Calheiros, a dirigir-se aos convidados, manifestando a expetativa que haja um Programa de Valorização Económica dos Recursos Endógenos (PROVERE) para valorizar as aldeias e os territórios do interior.
Este responsável apresentou também a proposta de uma variante denominada “a Caminho de Santiago pela Mesa dos Quatro Abades”, que passe por Brandara, Calheiros, Vilar do Monte, Labrujó, Rendufe, Paredes de Coura e S. Bento, juntando-se ao Caminho Central em Fontoura (Valença).
Em resposta, António Cunha classificou esta sessão como um «ato de cultura», prometendo tentar encontrar os modos mais adequados para atender às solicitações.
O dirigente regional, antigo reitor da Universidade do Minho, anunciou que os planos da cultura e do turismo estão em fase final de publicação e que em breve será anunciado o novo PROVERE, mantendo-se os consórcios do anterior quadro de financiamento.
Cumprindo a tradição, os presidentes das Juntas de Vilar do Monte, Manuel Rodrigues, de Calheiros, Agostinho Araújo, e de Bárrio e Cepões, Pedro Lima, apresentaram as solicitações destas localidades ao presidente da Câmara Municipal.
Perante os pedidos, Vasco Ferraz garantiu a determinação da autarquia em trabalhar com as Juntas para a «melhoria da qualidade de vida dos concidadãos».
Relativamente a questões transversais ao concelho, revelou que está na reta final a alteração do Plano Diretor Municipal, manifestando a esperança que a abertura da discussão pública do documento possa ser aprovada na Assembleia Municipal de setembro.
Relativamente ao TGV, o edil ressalvou que grandes projetos desta natureza trazem sempre vantagens e inconvenientes aos territórios. Admitindo que algumas pessoas vão ficar tristes com a destruição do seu património, defendeu que uma paragem para passageiros do TGV em Ponte Lima e a existência de um comboio regional é uma oportunidade «extraordinária» e um «projeto que o concelho ambiciona há mais de um século». Adiantou que o espaço canal para o estudo de impacto ambiental é quase da largura do concelho, deixando de fora muito poucas áreas, o que leva o autarca a acreditar que há mais do que um canal de passagem da infraestrutura em estudo.
O evento ficou marcado pela presença dos padres Jorge Ramos e Ricardo Correia. O abade de Vilar do Monte, padre Jorge Ramos, destacou a importância da preservação desta tradição e do trabalho conjunto entre a Igreja, a Câmara e as Juntas. Enfatizou a trabalho «muito importante» da Igreja na área social, que tem dado uma «grande ajuda ao Estado» na resposta às necessidades da população.
O sacerdote adiantou que em breve vai ser publicado um livro, com a colaboração do Diário do Minho, centrado na história de Calheiros e das freguesias envolventes.
O programa culminou com o almoço, servido no Centro de Interpretação da Mesa dos Quatro Abades, com arroz de pica no chão na ementa.