A Confraria Gastronómica do Sarrabulho à Moda de Ponte de Lima promoveu uma ceia natalícia, na Casa da Cuca, em Moreira do Lima.
A iniciativa pretendeu reforçar os laços fraternais que unem os membros desta organização de defesa da gastronomia limiana e ficou marcada pelo agradecimento a todos os envolvidos na caminhada de qualificação do Arroz de Sarrabulho à Moda de Ponte de Lima como Especialidade Tradicional Garantida (ETG).
A presidente desta organização, Cristina Mendes, afirmou que o emblemático prato limiano aguarda a validação final da União Europeia para o Arroz de Sarrabulho à Moda de Ponte de Lima assumir de pleno direito a insígnia de ETG.
O Arroz de Sarrabulho à Moda de Ponte de Lima vai juntar-se ao bacalhau de cura tradicional e à Sopa da Pedra de Almeirim, únicos em Portugal com esta distinção no âmbito da categoria de produtos agrícolas e géneros alimentícios.
No entender desta responsável, a classificação do Arroz de Sarrabulho à Moda de Ponte de Lima «assume especial relevância no sentido de contribuir para a preservação e perpetuação desta receita tradicional, na medida em que oferece ao consumidor a garantia da sua origem, genuinidade e o respeito pelos métodos de produção tradicionais. Trata-se de um prato portador de elevado conteúdo simbólico, associado à ruralidade, ao espaço geocultural, sentido de pertença imbuída de tradições singulares que urge preservar e dinamizar».
«O processo de registo revela-se como um relevante instrumento, eficaz para criar economias de escala, sendo o processo de certificação uma mais-valia para o produto em si, para a segurança alimentar dos consumidores e um estímulo para a sua comercialização, num contexto em que o consumidor é cada vez mais fidelizado e exigente», acrescenta.
A dirigente explicita que «a classificação do Arroz de Sarrabulho como ETG pretende preservar o modo de transformação e composição que corresponde a uma prática tradicional de confecionar este prato gastronómico, produzido a partir de matérias-primas ou ingredientes utilizados tradicionalmente e elevar Ponte de Lima a um patamar de excelência como destino turístico gastronómico».
Na mesma linha, o vice-presidente da Câmara, Paulo Sousa, sublinhou a necessidade de continuar a valorização da enograstronomia, consolidando o concelho como uma «grande referência» neste setor, tanto a nível nacional como internacional.
O autarca enfatizou a importância económica que a restauração tem para a economia local, com mais de cem restaurantes a operar no concelho, incluindo nas freguesias rurais.
O responsável pelo pelouro do Turismo defendeu que os estabelecimentos têm de trilhar os caminhos da sustentabilidade ambiental, privilegiando produtos locais de qualidade, e desafiou o setor a incluir os vinhos do concelho nas suas cartas, uma vez que existem cerca de 40 referências no mercado.
Neste âmbito, foi destacado que a Casa da Cuca, anfitriã do encontro festivo, se tem enquadrado no esforço de afirmação e valorização da identidade limiana, tendo vindo a trabalhar no relançamento das castas tradicionais de Moreira do Lima.
José Carlos Amorim, em representação da empresa familiar, explicou a preocupação que existe em dar a conhecer o património daquela freguesia limiana aos hóspedes de turismo rural da Casa da Cuca, a começar pela capela do Espírito Santo, exemplar do românico português, que poderá remontar ao século XIII.
Por seu turno, o padre Bruno Barbosa respondeu ao repto de uma reflexão sobre a luz e a alegria tão associadas à quadra de Natal, dizendo que o Evangelho propõe a toda a humanidade que se recuse a andar na escuridão e apelando à esperança.
O sacerdote referiu que o «Natal é a metáfora do amor porque Deus está no meio de nós», descendo das alturas e assumindo a nossa humanidade.
Referenciou que a partilha, a luz e a esperança são valores primeiros que devem ser celebrados em cada novo dia para que todos os dias do ano sejam sempre Natal.
Outro dos pontos altos do serão foi a intervenção do professor Jaime Ferreri, ilustre personalidade do mundo cultural, que presenteou os convivas com uma reflexão em torno do vinho e com um conto de Natal da sua autoria.
Declamou de forma magistral um poema de sua autoria alusivo ao Sarrabulho e a todas as tradições rurais associadas à matança do porco e respetivos rituais que habitam as reminiscências da nossa memória coletiva.
Pretendemos celebrar os laços que têm sido reforçados nos diferentes momentos de partilha, repletos de saber, sabor, aroma e bem estar, desejando que a palavra Natal permaneça, se prolongue e que a sua simbologia transfigure e renove o modo de sentirmos a paz e a harmonia. Cristina Mendes