Em Espanha, o processo de classificação está mais atrasado, mas não é motivo para “tirar brilho à festa “em torno de um legado comum”.
“É preciso criar valor em torno das pesqueiras para não as deixar morrer e passar o legado às gerações futuras”, afirmou à agência Lusa, Isabel Domingues.
Isabel Domingues, sócia e secretária da Assembleia Geral da Pesqueiras - Associação dos Pescadores do Rio Minho, sublinhou que “só juntos, pescadores portugueses e galegos, será possível preservar e valorizar um legado partilhado, único e ancestral”.
“O rio Minho é um elemento agregador dos dois povos. Tal como do lado português, no espanhol a tradição das pesqueiras tem o mesmo peso, tal como o regulamento que rege a atividade. É o mesmo dos dois lados”, apontou.
Fronteira natural entre o Alto Minho e a Galiza, o curso internacional do rio Minho concentra, nas duas margens, só no troço de 37 quilómetros, entre Monção e Melgaço (Viana do Castelo), cerca de 900 pesqueiras, "engenhosas armadilhas" da lampreia, do sável, da truta, do salmão ou da savelha.
Das 900 pesqueiras existentes no rio Minho, em Portugal estão ativas 150 e, do lado espanhol, cerca de 90.
“O sonho maior de ambos os lados do rio Minho, dada a dimensão do património existente, é conseguir a classificação como Património Imaterial da UNESCO. Para isso, é preciso que esteja classificado em cada um dos países. Só assim poderemos dar esse salto tão importante”, afirmou Isabel Domingues.
As pesqueiras são estruturas antigas em pedra, "umas milenares e outras centenárias”, descritas como "habilidosos sistemas de muros construídos a partir das margens, que se assumem como barreiras à passagem do peixe, que se vê assim obrigado a fugir pelas pequenas aberturas através das quais, coagido pela força da corrente das águas, acaba apanhado nas engenhosas armadilhas".
Desde a foz, em Caminha, até Melgaço, o peixe vence mais de 60 quilómetros de rio, numa viagem de luta contra a corrente que termina, para alguns exemplares, nas “autênticas fortalezas” construídas a partir das margens, “armadas” com o botirão e a cabaceira, as “artes” permitidas para a captura das diferentes espécies.
No sábado, a partir das 10:30, a festa dos pescadores das pesqueiras do rio Minho vai acontecer ao ar livre, num parque de lazer no acesso à freguesia de Alvaredo, em Melgaço.
O convívio “vai marcar o encerramento da época piscatória, nos dois lados do rio, no troço compreendido entre a linha que passa pelas torres do Castelo da Lapela, em Monção, no distrito de Viana do Castelo, e entre a igreja do Porto, em Espanha, e o limite superior da linha de fronteiriça”.
A festa pretende “potenciar a troca de experiências e vivências entre os pescadores”, e envolver também “as diversas instituições e entidades com as quais mantêm relações, como as capitanias, juntas de freguesia e câmaras municipais”.
O objetivo passa ainda por “chamar a atenção para a importância da atividade piscatória nas pesqueiras do rio Minho, nomeadamente ao nível dos aspetos económicos, ecológicos, sociais, patrimoniais e culturais”.
“A maior parte dos pescadores tem, em média 75 anos. É preciso passar o testemunho aos mais jovens”, apontou.
Nos últimos cinco anos, adiantou Isabel Domingues, “com a dinâmica criada em torno do processo de classificação das pesqueiras, os mais novos começaram a olhar de forma diferente para este legado”.
“Após a inscrição das pesqueiras no inventário nacional do Património Imaterial, há mais jovens a ter o gosto que os mais velhos têm na ligação ao rio e, às artes de pesca”, observou.
Em 2022, a primeira festa organizada pela associação Pesqueiras, composta por 65 pescadores, “coincidiu com o lançamento de um pacote turístico criado pelos pescadores, juntamente com uma empresa”.
No sábado, a festa vai terminar com um almoço “em que os próprios pescadores, portugueses e galegos vão cozinhar o salmão, o sável, a savelha e, sobretudo, a lampreia, à maneira tradicional”.