Os professores têm-se queixado das tarefas burocráticas que dizem retirar-lhes tempo para ensinar. Assim, exigem uma redução destes processos, sendo esta uma das reivindicações das greves que têm feito desde dezembro do ano passado.
Em declarações à Lusa, a professora Catarina Carvalho, que leciona Inglês na Escola Maria Veleda, conta que entre atas, relatórios e papeladas, ainda atende os encarregados de educação, gere conflitos entre alunos e tem ao seu cargo a direção de sete turmas. Este problema foi já reconhecido pelo ministro da Educação, João Costa, que em janeiro anunciou que iria apresentar um plano para eliminar “documentos e plataformas que não contribuem para a qualidade do processo de ensino e aprendizagem”. O ministro prometeu “simplificar documentos administrativos” e “eliminar redundâncias”, o que ainda não aconteceu, levando os professores a sentirem-se “exaustos e frustrados”.
De acordo com os sindicatos, os diretores de turma e os professores do 1º ciclo são os mais penalizados por raramente conseguirem cumprir o horário de trabalho máximo de 35 horas semanais. Catarina Carvalho partilha que, embora só tenha aulas de manhã, acaba por ficar a trabalhar “até às oito da noite” para “tratar de burocracias que acabam por prejudicar o trabalho pedagógico”.
O seu trabalho quotidiano inclui preparar diferentes materiais de ensino, dados os diferentes níveis de ensino dos alunos portugueses e os internacionais. Tem ainda de supervisionar as faltas dos alunos e fazer o acompanhamento das justificações junto dos pais. Além disso, naquela escola há alunos em risco de insucesso e de pobreza. “Há situações que temos de sinalizar para a Comissão de Proteção de Menores e, se o caso segue para tribunal, somos nós que temos de elaborar todo o processo”, explica a docente.
A professora acrescenta que, numa turma de 28 alunos, “cada um tem a sua problemática” e o acompanhamento de cada caso obriga a que a preparação das aulas passe para segundo plano. Recorda o caso de uma menina chegada da Guiné, cuja família não tinha possibilidades financeiras para fornecer os bens essenciais. Por isso, a escola uniu-se e reuniu roupa, dinheiro para compras, comida e até para ir cortar o cabelo ou fazer o cartão de cidadão.
Autor: Redação/Lusa