“O grande objetivo é termos ajuda de quem sabe tratar da questão dos suicídios. O trauma é grande e nós, gestores de infraestruturas, não sabemos lidar com as pessoas e queremos habilitar os nossos profissionais para que sejam agentes de prevenção do suicídio e que nos ajudem a identificar que medidas físicas podem ter maior sucesso na prevenção”, explicou a diretora de segurança da IP, Luísa Garcia.
A responsável recordou que o suicídio corresponde a mais de 50% das mortes que ocorrem na Rede Ferroviária Nacional e que, no primeiro trimestre deste ano, este tipo de morte aumentou em 60%, em relação a 2018.
Já no seminário, o diretor de segurança da empresa, João Sosha Pereira, referiu que “nos últimos 11 anos aconteceram 600 suicídios na Rede Ferroviária Nacional, o que corresponde a mais de um por semana”.
Perante esta situação, que causa não só danos psicológicos, como atrasos, supressões e danos no material circulante, a empresa decidiu agir e pedir o contributo da Sociedade Portuguesa de Suicidologia (SPS) para perceber que medidas de prevenção podem ser aplicadas.
A este propósito, o presidente da SPS, Fausto Amaro, saudou o facto de a IP ser a “primeira empresa em Portugal a tomar medidas no domínio da prevenção”.
“Termos a oportunidade de mostrar à população caminhos alternativos de melhoria de vida mais positivos e é muito importante resolvermos um problema de saúde pública”, frisou.
A principal medida mencionada nas intervenções, em que participou também uma psicóloga e um psiquiatra, foi a formação dos profissionais da empresa para que consigam identificar sinais de que uma pessoa está a pensar cometer suicídio e, desta forma, conseguir intervir e impedir o ato.
“Muitas vezes as pessoas não sabem o que dizer nestes casos, mas não é preciso dizer nada, apenas precisamos de escutar e perguntar se podemos ajudar”, referiu a psicóloga e investigadora Inês Rothes.
A psicóloga falou ainda da importância do apoio que deve ser dado aos trabalhadores no caso de acontecer um suicídio na ferrovia, reduzindo o impacto que a ocorrência pode causar e eventuais traumas, o que, por si, “é também uma medida de prevenção futura”.
Além disso, segundo Inês Rothes, é preciso “uniformizar registos e procedimentos” para que seja possível, por exemplo, estudar quais as zonas com maior número de ocorrências ou qual o perfil das vítimas e, assim, perceber se existem pontos em comum e em que áreas atuar.
À semelhança do que aconteceu em Inglaterra, com a campanha “Small Talk Save Lives”, a empresa equaciona a elaboração de uma estratégia de comunicação e sensibilização dos utentes.
A este propósito, Fausto Amaro advertiu para os cuidados a ter quando se fala sobre suicídios, mostrando informação positiva, onde pedir ajuda e nunca mostrar imagens ou locais.
Ainda não há certezas de quais as medidas concretas que serão aplicadas, mas, segundo Luísa Garcia, hoje deu-se o “arranque do projeto” e agora é a altura de falar e “construir cenários”.
Autor: Redação / NC