twitter

Inspetores do SEF alertam para "falta de controlo" do tráfico de seres humanos

Inspetores do SEF alertam para "falta de controlo" do tráfico de seres humanos
Fotografia

Publicado em 19 de abril de 2018, às 10:02

O RASI de 2017 indica que as autoridades portuguesas sinalizaram um total de 45 crianças e jovens e 100 adultos vítimas de tráfico em Portugal.

O sindicato que representa os inspetores do SEF alertou hoje para “falta de controlo” do tráfico de seres humanos em Portugal devido à escassez de meios para prevenir e combater este crime, que está a aumentar no país.

“Os inspetores do SEF querem alertar a sociedade portuguesa, os deputados e principalmente o Governo para a necessidade de combater melhor e de prevenir este flagelo em Portugal”, disse à agência Lusa o presidente do sindicato para justificar a realização de uma conferência sobre o tráfico de seres humanos.

O Sindicato da Carreira de Investigação e Fiscalização do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SCIF/SEF) realiza a 27 de abril, em Lisboa, a conferência “Tráfico de seres humanos – o SEF e a luta contra o tráfico de pessoas”.

Acácio Pereira adiantou que a escolha deste tema para a conferência está relacionada com “a subida assustadora, nos últimos anos, do tráfico de seres humanos na Europa, nomeadamente em Portugal”.

Segundo o sindicalista, o tráfico de seres humanos é a “moderna escravatura” e constitui um crime que “tem de ser melhor combatido”.

“Os inspetores do SEF sentem a impotência de quem não tem meios, nem para prevenir, nem para combater e perseguir a maior parte dos crimes”, sustentou, dando conta de dados de 2017, que mostram que em Portugal há dezenas de milhares de estrangeiros a sofrerem abusos em explorações agrícolas e que o país começou a ser usado como nova rota de tráfico de crianças africanas.

Acácio Pereira referiu que essas crianças e adolescentes são utilizadas para exploração e escravatura em países como França ou Alemanha, funcionando Portugal como porta de entrada para o espaço Schengen.

“Na maior parte dos casos as crianças africanas chegam com documentos falsos, mas acompanhadas de adultos com a documentação legal, quase sempre de países lusófonos”, afirmou, frisando que os inspetores do SEF “têm conseguido prender traficantes e resgatar algumas crianças”, mas a perceção é que se deve “aumentar o dispositivo para que a maior parte deste tráfico não continue a escapar ao controlo” português.

De acordo com o SCIF/SEF, a exploração laboral em zonas agrícolas, especialmente no Alentejo, “está fora de controlo por falta de capacidade do SEF para fiscalizar a esmagadora maioria das herdades onde trabalhadores ilegais são vítimas de abusos”.

“Com a progressiva concretização de projetos de regadio no Alentejo, em especial nas zonas do Alqueva e litoral alentejano, há picos de trabalho sazonal em diversas culturas, o que faz com que, ao longo do ano, estejam sempre a entrar e a sair dezenas de milhares de trabalhadores, boa parte dos quais ilegais. A situação ilegal fragiliza-os e facilita os abusos. O problema é que só uma ínfima parte desses abusos são detetados e reprimidos pelo SEF”, disse Acácio Pereira.

O mesmo responsável avançou que os inspetores do SEF têm a noção dos abusos cometidos em Portugal, considerando, por isso, "ridículo” e “um insulto" os dados do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) sobre os inquéritos-crime instaurados pelo SEF, número de arguidos e detidos.

O sindicato dos inspetores defende que é necessário discutir medidas como o reforço de meios do SEF nos distritos do Alentejo para permitir uma recolha permanente de informação no terreno e o planeamento de ações de fiscalização que tenham a participação de todas as entidades com competências na matéria.

No âmbito da criminalidade relacionada com o tráfico de pessoas foram instaurados, no ano passado, 53 processos de inquérito-crime pela Policia Judiciária e 20 pelo SEF, tendo sido constituídos 11 arguidos e detidas seis.


Autor: Lusa