Os alunos de escolas que participam nos projetos de flexibilidade e autonomia curricular poderão, numa primeira fase, ter notas mais fracas, mas, no futuro, o projeto trará "benefícios maiores e mais profundos", defende um estudo da OCDE.
Uma equipa de investigadores da OCDE, que visitou escolas portuguesas que aderiram ao projeto-piloto de flexibilização curricular, admite que os alunos que participem no programa poderão não ter, no imediato, os melhores resultados nos testes, mas tal não deverá ser visto como uma evidência do fracasso do projeto.
“Pelo contrário, deve ser entendido como uma característica inicial familiar de muitos programas de inovação que mais tarde colherão benefícios maiores e mais profundos”, lê-se no estudo que analisou o Programa de Autonomia e Flexibilidade Curricular (PAFC), que começou a ser aplicado este ano letivo de forma voluntária em cerca de 200 escolas do país.
Os investigadores acreditam que a longo prazo poderão surgir melhores resultados.
O relatório enumera dois dos objetivos primordiais do PACF - maior equidade e inclusão e redução das elevadas taxas de retenção e evasão – para depois recordar que, nem sempre, as novidades são bem acolhidas.
“As reformas de Portugal podem provocar um choque cultural, uma vez que os alunos que experimentam abordagens participativas, relevantes e baseadas em competências para a aprendizagem, no contexto de currículos flexíveis, podem ficar insatisfeitos com as práticas tradicionais nas escolas”, refere o documento.
O relatório recorda ainda que a autonomia dada às escolas criou preocupação entre alguns pais, professores e alunos, em parte devido a uma “perceção errada” de que uma maior flexibilidade no currículo implicaria a redução dos padrões de aprendizagem.
Lembrando que os alunos que participam do PACF podem vir a ter mais dificuldades “quando encontrarem práticas mais convencionais e baseadas em conteúdo”, a equipa da OCDE sugere às escolas que desenvolvam estratégias para que os alunos consigam lidar com essas transições.
“O PACF promove abordagens participativas de alta qualidade para a aprendizagem, que estão menos preocupadas com a cobertura de conteúdo e mais voltadas para a aprendizagem mais profunda. Por causa disso, os estudantes terão que aprender a administrar diferentes modos de estudo”, sublinha.
A OCDE defende que é preciso incorporar e envolver progressivamente as escolas que atualmente não participam no PACF e recomenda ao Ministério da Educação que faça um levantamento com as práticas consideradas inspiradoras e promissoras, e que aponte os casos de satisfação do professor e as práticas menos bem-sucedidas.
A divulgação do trabalho realizado, assim como o investimento na formação de professores são outras das sugestões da OCDE: “O sucesso desta iniciativa pode depender de um investimento forte e eficiente nas habilidades de professores e liderança. Isso deve, portanto, ser priorizado”.
Um debate sobre o processo de admissão nas universidades é outro dos pontos-chave, segundo o relatório, que lembra que muitos dos constrangimentos das escolas secundárias estão relacionados, precisamente, com o acesso ao ensino superior.
“Há uma necessidade urgente de debate sobre o acesso às universidades”, lê-se no documento, que sublinha que “o empobrecimento da aprendizagem nas escolas secundárias resultou de um estreitamento das atividades devido ao grande peso dos exames nacionais”.
Autor: Lusa