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Comissão de inquérito aprova proposta do Chega para ouvir António Costa

Comissão de inquérito aprova proposta do Chega para ouvir António Costa
Fotografia DR

Agência Lusa

Agência noticiosa

Publicado em 21 de junho de 2024, às 18:21

No caso das gémeas

PSD, IL e CDS-PP aprovaram hoje o requerimento do Chega para a audição do antigo primeiro-ministro António Costa pela comissão parlamentar de inquérito ao caso das gémeas tratadas com o medicamento Zolgensma.

O requerimento para ouvir o antigo chefe de Governo foi aprovado com os votos favoráveis dos deputados do Chega, PSD, IL e CDS-PP, a abstenção de BE e PCP e os votos contra de PS, Livre e PAN. A votação foi nominal, traduzindo-se em nove votos a favor, duas abstenções e cinco votos contra.

De acordo com o regime jurídico dos inquéritos parlamentares, os ex-primeiros-ministros podem optar por "depor por escrito, se o preferirem".

Se for essa a opção de António Costa, terá de remeter à "comissão, no prazo de 10 dias a contar da data da notificação dos factos sobre que deve recair o depoimento, declaração, sob compromisso de honra, relatando o que sabem sobre os factos indicados", acrescenta o regime jurídico.

Na discussão deste ponto, o líder do Chega, justificou este pedido referindo que o “antigo primeiro-ministro recebeu no seu gabinete um email a pedir o acesso ao Serviço Nacional de Saúde” e “fez transmitir esse pedido a outras entidades dentro do seu Governo”.

"Ninguém acredita que o chefe de gabinete enviasse para o Ministério da Saúde se o primeiro-ministro não autorizasse", sustentou, e acrescentou que "a mãe das gémeas diz que teve autorização de todos os titulares políticos" e que António Costa era responsável enquanto chefe de Governo.

João Paulo Correia, do PS, acusou o Chega de fazer uma "chamada política" sem "relevância mínima para a comissão de inquérito" e que, "se tivesse o mínimo de relevância, teria feito parte dos planos iniciais do Chega, não o fez", acusando o Chega de ter "como único objetivo atingir politicamente" o ex-primeiro-ministro.

"Da documentação que nos foi disponibilizada, que fique claro que não há a mínima intervenção do dr. António Costa", afirmou o coordenador socialista, indicando que a "documentação recebida da Casa Civil foi dirigida ao seu gabinete e daí transitou para o Ministério da Saúde".

Pelo PSD, o deputado António Rodrigues indicou que iria apoiar esta proposta "por princípio", referindo que o partido também não obstaculou o pedido de depoimento do Presidente da República. No entanto, o social-democrata disse não ver "qualquer tipo de utilidade nesta chamada".

Joana Mortágua, do BE, fez questão de salientar que o que está em causa é um "email oficial da Presidência para o chefe de gabinete do primeiro-ministro, que despachou para a ministra da Saúde", afirmando que este é um "procedimento absolutamente normal que não faz prever nenhum envolvimento de António Costa neste caso".

A deputada única do PAN, Inês de Sousa Real, justificou o voto contra considerando que "há precipitação" e "não há indícios de que o ex-primeiro-ministro tenha tido acesso à informação".

Na reunião de hoje foram também aprovadas, por unanimidade, as audições do ex-assessor do Presidente da República para a área da saúde Mário Pinto, do antigo Cônsul-Geral de Portugal em São Paulo, Paulo Jorge Nascimento, propostas pelo Chega, e da antiga secretária-geral do Ministério da Saúde, Sandra Cavaca, proposta pelo PS.

Os deputados aprovaram ainda um requerimento do BE para que a comissão solicite informações ao Hospital de Santa Maria.

A reunião da comissão de inquérito arrancou pelas 14:00, enquanto ainda decorria o plenário da Assembleia da República, e foi interrompida cerca de meia hora depois, para que os deputados participassem nas votações regimentais.

Em causa no processo, que tem como arguidos o ex-secretário de Estado da Saúde Lacerda Sales e Nuno Rebelo de Sousa, filho do Presidente da República, está o tratamento hospitalar das duas crianças luso-brasileiras que receberam o medicamento Zolgensma. Com um custo de dois milhões de euros por pessoa, este fármaco tem como objetivo controlar a propagação da atrofia muscular espinal, uma doença neurodegenerativa.

O caso está ainda a ser investigado pela Procuradoria-Geral da República, mas a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde já concluiu que o acesso à consulta de neuropediatria destas crianças foi ilegal.

Também uma auditoria interna do Hospital Santa Maria concluiu que a marcação de uma primeira consulta hospitalar pela Secretaria de Estado da Saúde foi a única exceção ao cumprimento das regras neste caso.