Falando aos jornalistas na quinta-feira à noite à entrada para a reunião da Comissão Política Nacional do PS, António Costa disse que João Galamba estará na Assembleia da República hoje nas audições sobre o Orçamento do Estado para 2024.
Já sobre a continuidade de João Galamba no Governo, respondeu: “Fiquei de falar com o senhor Presidente da República sobre esse assunto”.
Interrogado se já teve a oportunidade de falar com a procuradora-geral da República, Lucília Gago, desde terça-feira, ou com algum responsável do do Ministério Público, sobre o processo que o atinge, António Costa respondeu: "Não, enfim, ninguém falou comigo”.
“A senhora procuradora-geral da República não falou comigo, ninguém do Ministério Público falou comigo. A única coisa que eu sei é o que está no comunicado [do gabinete de imprensa da PGR] e o que vou lendo nos órgãos de comunicação social”.
“O Observador, designadamente, vai acompanhando bastante a par e passo. Vai dizendo que parece que há uma certidão que saiu aqui da Procuradoria-Geral para o Supremo Tribunal de Justiça. Vou vendo que há umas escutas em que eu participo”, disse.
Neste ponto, insistiu que o que tem sabido “é através da comunicação social”.
“E, portanto, agradeço, aliás, que me mantenham informado, que é para eu saber de que é que estão a tratar", completou.
Confrontado com a ideia de que o processo em que está envolvido ter chocado o país, o líder dos socialistas reagiu: "Quer dizer, chocou o país e, para já, chocou-me a mim. Mas eu não posso acrescentar nada sobre uma coisa que eu ignoro totalmente”.
“Posso repetir olhos nos olhos aos portugueses que nada me pesa na consciência de ter praticado qualquer ato ilícito ou sequer qualquer ato censurável. Nós vivemos num país onde eu me orgulho muito e sempre tenho enfatizado de termos um regime democrático, onde o sistema de justiça é independente, onde ninguém está acima da lei e onde, portanto, se a justiça entende que há alguma suspeita a meu respeito, tal como a respeito de qualquer outra pessoa, o dever que tem é investigar e elucidar. E nós devemos deixar, que é o que eu farei, o sistema de justiça funcionar", afirmou.
Interrogado se está desiludido com o advogado Lacerda Machado, também classificado como o seu melhor amigo, o primeiro-ministro alegou que não pode dizer nada sobre um processo que desconhece “em absoluto, a não ser aquilo que aparece na comunicação social”.
“No que me diz respeito, aguardarei muito serenamente que alguém me diga se há mesmo um inquérito, se não há e sobre o quê", acrescentou.
O primeiro-ministro, António Costa, pediu na terça-feira a demissão ao Presidente da República, que a aceitou.
António Costa é alvo de uma investigação do Ministério Público no Supremo Tribunal de Justiça, após suspeitos num processo relacionado com negócios sobre o lítio, o hidrogénio verde e o ‘data center’ de Sines terem invocado o seu nome como tendo intervindo para desbloquear procedimentos.
Na investigação, de acordo com a Procuradoria-Geral da República, podem estar em causa os crimes de prevaricação, corrupção ativa e passiva de titular de cargo político e tráfico de influência.
Segundo a indiciação, a que a Lusa teve acesso, o Ministério Público (MP) considera que houve intervenção do primeiro-ministro na aprovação de um diploma favorável aos interesses da empresa Start Campus, responsável pelo ‘data center’.
No dia da demissão, António Costa recusou a prática “de qualquer ato ilícito ou censurável” e manifestou total disponibilidade para colaborar com a justiça.