Promover “relações significativas e duradouras” de migrantes e refugiados com a comunidade local, quando as instituições de acolhimento saem de cena, é um dos objetivos do projeto Meeru - Aproxima, que desde 2020 já apoiou 32 famílias.
O resumo foi feito à Lusa por Isabel Martins da Silva, uma das fundadoras, de 27 anos, natural de Barcelos, que criou o Meeru com outros seis jovens que tinham estado envolvidos em projetos com refugiados e migrantes.
“Havia várias entidades de acolhimento, mas nada que promovesse relações significativas e duradouras com a comunidade local, nomeadamente quando o trabalho de acolhimento termina. Este projeto é quase uma incubação de relações, que só acontece se a família aceitar. A única coisa que prometemos é que não vamos desaparecer”, explica.
Os voluntários são “amigos, guias, mediadores, suavizam relações mais tensas com instituições ou com senhorios, por exemplo”, explica a responsável.
“Levam a passear, acompanham a entrevistas de emprego, partilham refeições, ajudam a descobrir o parque infantil existente nas redondezas do sítio onde as famílias vivem. Fazem um trabalho complementar ao das instituições de acolhimento. No fundo, tudo depende do que a família quer. Pode ser, por exemplo, ir ver o mar”, observa.
Os voluntários, com idades entre os 18 e os 70 anos, são “entre 120 a 130”, tantos quanto o número de pessoas de várias nacionalidades ajudadas.
“O critério [para o apoio do projeto] é a vulnerabilidade e o isolamento social relativamente à comunidade onde vivem”, afirma.
Como assenta num trabalho de proximidade e a equipa reduzida (um total de nove pessoas entre a equipa técnica e a de coordenação) é formada por pessoas do Norte, é aí que o Meeru atua.
“O mais a norte que estivemos foi em Viana do Castelo. Mais a sul estivemos em São João da Madeira e o mais no interior que estivemos foi em Braga”, descreve.
O projeto arrancou com a mentoria do coordenador da Plataforma de Apoio a Refugiados, que ajudou o grupo de fundadores do Meeru a “perceber o que faria sentido” oferecer e “que lacunas existiam” no apoio dado em Portugal.
O financiamento do projeto, que desde o início teve parcerias com a Universidade Católica Portuguesa no Porto e o Instituto Padre António Vieira, chegou com fundos europeus da Estrutura de Missão Portugal Inovação Social.
Também já receberam apoio dos Prémios BPI La Caixa, do programa Cidadãos Ativos da Fundação Calouste Goulbenkian, de empresas, e aguardam resposta a uma candidatura ao financiamento do Fundo para a Integração de Migrantes e Refugiados.
Enquanto isso, trabalham no projeto Meeru – Reconstruir, um projeto-piloto que, em parceria com uma associação de Braga, visa “promover a acesso à habitação” com “mão de obra voluntária e donativos”.
“Vamos fazer uma reconstrução e vender os apartamentos às famílias, com um pagamento sem juros e prestações adequadas ao orçamento familiar, que podem ser abatidos em horas de trabalho na construção”, esclareceu Isabel Martins da Silva.
As casas vão servir para acolher quatro famílias de migrantes e uma família portuguesa, reservando um apartamento para situações de emergência.