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Estudo macro revela que pesticidas são responsáveis pela crise da biodiversidade

Estudo macro revela que pesticidas são responsáveis pela crise da biodiversidade
Fotografia DR

Agência Lusa

Agência noticiosa

Publicado em 14 de fevereiro de 2025, às 10:12

Além de exterminar as espécies a que se destinam, os pesticidas estão a provocar efeitos devastadores em centenas de tipos de micróbios, fungos, plantas, insetos, peixes, aves e mamíferos em todo o planeta.

Por isso, os pesticidas são uma das principais causas da crise da biodiversidade, de acordo com o primeiro estudo a avaliar o impacto dos pesticidas em todos os tipos de espécies em habitats terrestres e aquáticos.

A investigação, conduzida por uma equipa internacional e liderada pela Universidade de Ciência e Tecnologia da China Oriental, foi publicada na quinta-feira na Nature Communications, noticiou a agência Efe.

Para conduzir esta meta-análise, a equipa reviu mais de 1.700 estudos de laboratório e de campo sobre os efeitos de 471 tipos diferentes de pesticidas (fungicidas, inseticidas ou herbicidas) utilizados na agricultura, no comércio ou no lar.

Em mais de 800 espécies terrestres e aquáticas, os pesticidas afetaram a taxa de crescimento, o sucesso reprodutivo e até alteraram comportamentos, como a capacidade de capturar presas, encontrar plantas para se alimentar, movimentar-se ou atrair um parceiro.

Além disso, os pesticidas podem também afetar o metabolismo dos organismos e danificar as células.

Estes efeitos negativos podem levar à morte prematura dos organismos selvagens e reduzir as suas populações, conclui a meta-análise.

Os investigadores dizem que, ao contrário de estudos anteriores, que tendiam a focar-se em grupos específicos de espécies, como abelhas, peixes ou plantas, ou em habitats particulares, analisaram todo o espetro de espécies encontradas no mundo natural.

"Os pesticidas são um mal necessário, sem os quais a produção global de alimentos e os meios de subsistência dos agricultores provavelmente entrariam em colapso. Mas as nossas descobertas realçam a necessidade de políticas e práticas que reduzam a sua utilização", alertou o coautor Ben Woodcock, ecologista do Centro de Ecologia e Hidrologia do Reino Unido (UKCEH).

"Isto pode incluir iniciativas de baixo para cima lideradas pelos agricultores, como a agricultura regenerativa, bem como políticas governamentais como o Incentivo à Agricultura Sustentável do Defra, que paga aos agricultores para reduzirem o uso de inseticidas nas plantações", sugeriu.

Para Dave Goulson, investigador da Universidade de Sussex e coautor do estudo, é preocupante ter descoberto que os pesticidas "têm efeitos negativos generalizados nas plantas, animais, fungos e micróbios, ameaçando a integridade dos ecossistemas".

O estudo recorda que o uso excessivo de pesticidas não só ameaça espécies benéficas para as quais não foram concebidos, como também pode fazer com que as pragas desenvolvam resistência aos produtos químicos, tornando-os ineficazes.

Na União Europeia, mais de 10% das terras utilizadas para a produção agrícola são biológicas e não utilizam pesticidas sintéticos.

Como opções alternativas para os agricultores, o estudo propõe a plantação de flores silvestres e de bancos de escaravelhos para apoiar as espécies que se alimentam de pragas, permitindo-lhes reduzir a pulverização quando um grande número destes predadores naturais está presente.

Outras medidas, acrescentam os autores, poderiam incluir o adiantamento do momento da sementeira para evitar pragas e a rotação de culturas para interromper os ciclos de vida das espécies e reduzir os seus efetivos.

Os jardineiros também podem ajudar a reduzir o uso de produtos químicos com opções naturais de controlo de pragas, como a introdução de nemátodos, joaninhas ou ácaros, que podem ser comprados online, e incentivar outros predadores naturais, como sapos, pássaros e ouriços, através de jardinagem que respeita a vida selvagem.

Além disso, as barreiras físicas, como as redes, podem evitar danos causados por lagartas e aves, acrescentam os autores.