Esse dinheiro não chega nem de perto para corrigir o mal infligido aos vulneráveis, disse o responsável, acrescentando: “700 milhões de dólares é aproximadamente o salário anual dos 10 futebolistas mais bem pagos do mundo”.
António Guterres falava no início do diálogo de Alto Nível sobre Perdas e Danos da cimeira do clima da ONU, a COP29, que decorre em Baku, no Azerbaijão. O fundo foi criado há dois anos na COP27, no Egito, e destina-se a apoiar os países que mais sofrem os efeitos das alterações climáticas.
A criação do Fundo de Perdas e Danos “é uma vitória para os países em desenvolvimento, para o multilateralismo e para a justiça”, mas os 700 milhões não representam sequer um quarto dos danos causados no Vietname pelo furacão Yagi, em setembro, disse António Guterres, acrescentando: “Temos de ser sérios quanto ao nível de financiamento necessário”.
“O nosso mundo está a ficar mais quente e mais perigoso. E isto não é uma questão de debate. É uma questão de facto. Acabámos de ter o dia mais quente, os meses mais quentes, os anos mais quentes e a década mais quente da história”, começou por dizer o secretário-geral da ONU, lembrando depois que as catástrofes climáticas prejudicam os que menos contribuíram para o aquecimento global, matando pessoas, destruindo economias e meios de subsistência.
“E, entretanto, aqueles que mais contribuem para a destruição - em particular a indústria dos combustíveis fósseis - continuam a colher lucros e subsídios maciços”, adiantou.
Além de pedir mais dinheiro para o fundo António Guterres salientou que os fluxos bilaterais, por si só, não serão suficientes e que serão precisas novas respostas e novas fontes para responder à escala das necessidades. “Exorto os governos a cumprirem os objetivos. Em nome da justiça”, disse.
Intervindo também noutro evento da COP29, sobre as energias renováveis em África, o secretário-geral das Nações Unidas salientou a importância da energia limpa para o continente e disse que para que ela exista são precisas políticas, com todos os países a apresentarem as suas contribuições para a diminuição da emissão de gases com efeito de estufa, e os países mais ricos a liderar esses esforços e uma eliminação justa e global dos combustíveis fósseis.
Depois, acrescentou, é preciso financiamento, explorando fontes inovadoras, como taxas de solidariedade sobre o transporte marítimo, aéreo e extração de combustíveis fósseis. E são precisos os chamados minerais essenciais, quase um terço deles em África.
“Demasiadas vezes assistimos a uma corrida aos recursos africanos, que explora o vosso povo, espezinha os seus direitos e arruína a vossa natureza”, disse, referindo ainda a “injustiça intolerável” que os países africanos enfrentam, que com emissões mínimas são atingidos pela crise climática.
“Precisamos urgentemente que os países desenvolvidos honrem o seu compromisso de duplicar o financiamento da adaptação para, pelo menos, 40 mil milhões de dólares por ano até 2025. E precisamos de contribuições significativas para o novo Fundo de Perdas e Danos”, disse.