À chegada ao dia eleitoral, na terça-feira todas as sondagens apontavam para um empate técnico com a candidata democrata, Kamala Harris, nos sete estados considerados decisivos, mas Trump acabou por vencer em pelo menos quatro deles – Pensilvânia, Carolina do Norte, Geórgia e Wiscosin -, ultrapassando os 270 votos eleitorais necessários para, quatro anos depois, voltar a sentar-se na Sala Oval.
Na contagem nos restantes três estados apontados como determinantes - Michigan, Nevada e Arizona -, às 11:00 de hoje (hora de Lisboa), o antigo líder norte-americano entre 2017 e 2021, que nunca concedeu a derrota nas últimas presidenciais para o democrata Joe Biden, seguia também na dianteira.
Descrito pelos adversários como uma ameaça para a democracia, um retrocesso para o direito de escolha das mulheres e incitador de violência, as “bandeiras” de Trump centradas no desempenho da economia e no controlo da imigração acabaram por vingar e permitiram-lhe também uma vitória no voto popular, seguindo com 51,1% contra 47,4% de Kamala Harris, ou cerca de 71 milhões das escolhas a nível nacional, mais cinco milhões do que a oponente democrata.
Num país pintado com o vermelho republicanos e pouco azul democrata, os partidários de Trump celebraram ainda na noite eleitoral a recuperação do Senado, ao ultrapassarem a fasquia de 51 eleitos, enquanto na Câmara dos Representantes seguiam igualmente na frente no apuramento com 201 mandatos, a apenas 17 da maioria e o controlo da totalidade do Congresso.
Com as contas ainda por fechar, Kamala Harris remeteu-se ao silêncio, tendo um dos seus coordenadores de campanha anunciado aos apoiantes reunidos, num ambiente sombrio, na Universidade de Howard, em Washington, que a atual vice-Presidente democrata apenas se irá pronunciar ao longo do dia de hoje.
Em contraste, Trump surgiu triunfante no Centro de Convenções de Palm Beach, na Florida, a declarar perante milhares de seguidores eufóricos “uma vitória nunca antes vista” na política norte-americana, depois de ter acompanhado a noite eleitoral no seu ‘resort’ em Mar-a-Lago.
Quando apenas a cadeia televisiva Fox, próxima dos republicanos, o declarava reeleito para um novo mandato, o ex-líder da Casa Branca destacou que os resultados lhe deram um “grande sentimento de amor” e que a nação lhe endossou “um mandato poderoso”.
Trump discursou cerca de meia-hora acompanhado da mulher, Melania Trump, que já apresentou como “primeira-dama”, dos filhos, do candidato a vice-Presidente, J.D. Vance, descrito como “uma escolha certeira”, do presidente da Câmara dos Representantes, Mike Johnson, e do bilionário proprietário da rede X, Elon Musk, apontado como “uma estrela”.
À frente da sua equipa de campanha, o político republicano elogiou o trabalho dos seus apoiantes, que disse terem organizado cerca de 900 eventos, assinalando que nas eleições de 2016, que venceu contra Hillary Clinton, e de 2020, que perdeu para Joe Biden, o seu potencial foi subestimado.
Após esta vitória, pretende "ajudar o país a curar-se”, depois de quatro anos de administração Biden, e “reparar a fronteira” com o México, prevendo uma “era dourada” para os Estados Unidos.
“Prometo não descansar até entregar uma América forte, segura e próspera que os nossos filhos merecem e que vocês merecem", declarou o republicano, que deixou ainda um apelo para a unidade.
"O sucesso vai unir-nos e vamos começar por colocar a América em primeiro lugar. Não vou desiludi-los", declarou, retomando um lema de campanha, que várias vozes alertam para a iminência de um país recolhido ao isolacionismo e menos interventivo na ordem global, e também do movimento MAGA (“Make America Great Again”).
De imediato, foram divulgadas reações de líderes internacionais, logo à cabeça de vários dirigentes populistas, como o húngaro Viktor Orbán, o argentino Javier Milei, ou o ex-Presidente brasileiro Jair Bolsonaro.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, felicitou Trump pela sua “impressionante vitória”, após o republicano ter lançado a dúvida sobre a continuação do apoio militar a Kiev contra a invasão russa.
O Kremlin indicou, por sua vez, que o Presidente russo, Vladimir Putin, não planeava felicitar Trump, que disse que resolveria o conflito ucraniano em 24 horas sem nunca explicar como o faria, adicionado que o futuro líder norte-americano será julgado pelas suas ações.
Os governantes das principais potências europeias também já dirigiram felicitações a Donald Trump, com o Presidente francês, Emmanuel Macron, e o chanceler alemão, Olaf Sholz, a prometerem “colaboração estreita” com Washington.
O secretário-geral da NATO, Mark Rutte, disse esperar que a Aliança Atlântica se mantenha forte, após o republicano ter ameaçado deixar os países-membros desprotegidos se não cumprissem as suas obrigações com a organização.
Noutra frente de conflito, no Médio Oriente, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, saudou o “maior regresso da história”, que oferece “um poderoso reengajamento na grande aliança” com Israel, ao passo que o grupo islamita Hamas reclamou o fim do “apoio cego à entidade sionista”, numa reivindicação seguida por muitos árabes-americanos e defensores da Palestina críticos da administração Biden durante a campanha eleitoral.
A China espera uma “convivência pacífica” com os Estados Unidos, depois de Donald Trump ter iniciado, no seu primeiro mandato, uma prolongada guerra comercial contra Pequim e que já ameaçou intensificar num segundo.
O primeiro-ministro português, Luís Montenegro, também deu os parabéns a Donald Trump e disse estar empenhado em trabalhar numa “colaboração estreita” a nível bilateral, multilateral e da NATO.
O chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, defendeu que há que trabalhar em conjunto com a futura administração de Donald Trump, e admitiu voltar à Casa Branca.