O historiador, poeta e diplomata Alberto da Costa e Silva, Prémio Camões 2014 e considerado o maior especialista brasileiro em História de África, morreu este domingo, aos 92 anos, no Rio de Janeiro, anunciou a Academia Brasileira de Letras.
O ensaísta e memorialista deixa um legado de mais de 40 livros, entre poesia, ensaio, história, literatura infantojuvenil, memória, antologia, versão e adaptação, recorda a Academia Brasileira de Letras (ABL) num comunicado no sítio na Internet. Declarando-se “de luto” na mensagem, a Academia refere que o historiador brasileiro faleceu “em casa, de causas naturais”.
Diplomata, foi embaixador do Brasil na capital portuguesa de 1989 a 1992, seguindo para Bogotá, na Colômbia, depois de ter ocupado cargos de representação em diferentes capitais, como Caracas, Roma ou Washington.
Eleito para a ABL em 2000, ocupou a cadeira número nove, e presidiu à instituição no biénio 2002-2003, tendo ocupado os cargos de secretário-geral em 2001, primeiro-secretário em 2008 e 2009, diretor das Bibliotecas de 2010 a 2015, e foi também sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Portuguesa da História.
Alberto Vasconcellos da Costa e Silva nasceu em São Paulo, em 12 de maio de 1931, fez os estudos primários e iniciou o curso secundário em Fortaleza, e em 1943 mudou-se para o Rio de Janeiro, diplomando-se pelo Instituto Rio Branco em 1957.
Em 2014, no Rio de Janeiro, quando recebeu o Prémio Camões, na altura com 83 anos, declarou na cerimónia de entrega do galardão que tinha uma grande paixão por África, agradecendo ao júri, que o escolheu por unanimidade: "Embora convicto da injustiça dos prémios, recebo-o com alegria e um grande abraço", afirmou.
O diplomata aposentado e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), apesar dos dez livros de poemas publicados ao longo da vida, preferiu dar maior ênfase à sua trajetória como historiador e, sobretudo, como estudioso do continente africano.
O presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, lamentou hoje a morte do escritor e diplomata na rede social X, com uma mensagem de gratidão: "Obrigado pela obra que nos deixa, em particular esse fantástico "Um Rio Chamado Atlântico".
Esta obra, publicada em 2003, destaca-se entre outros livros sobre África, designadamente "A enxada e a lança" (1992), "A manilha e o libambo" (2002) e "Francisco Félix de Souza, mercador de escravos" (2004), assim como "Um passeio pela África" e "A África explicada aos meus filhos", que escreveu para os mais novos. Além de "Poemas reunidos" (2000), publicou dois volumes de memórias, "Espelho do Príncipe" (1994) e "Invenção do desenho" (2007).
Organizou as coletâneas "Poemas de amor de Luís Vaz de Camões" (1998) e "Antologia da poesia portuguesa contemporânea", com o ensaísta Alexei Bueno, em 1999, e com a investigadora Lilia Moritz Schwarcz, dirigiu a edição das obras completas de Jorge Amado, para a Companhia das Letras. Foi agraciado por Portugal, nomeadamente com as grã-cruzes das Ordens do Infante, Militar de Sant’Iago da Espada e Militar de Cristo.