Falando numa conferência sobre os desafios que o mundo enfrenta para garantir a paz no século XXI, o ex-primeiro-ministro e ex-Presidente da República de Timor-Leste alertou para as movimentações que já se sentem pelos receios motivados pelo risco «sério» de falta de água que o planeta enfrenta.
«Os problemas ambientais causados pelo homem, que são a fonte de muitas catástrofes naturais, são um sério desafio à paz mundial», disse José Ramos-Horta.
O Prémio Nobel da Paz, que veio à Universidade a convite do Núcleo de Estudantes de Ciência Política, expressou a convicção de que «se continuarmos a destruir a Natureza como o temos feito, num prazo de 20 anos vamos entrar em guerra [à escola mundial] por causa da [falta] de água».
Conforme salientou, o problema da água já está a levar alguns países «a comprar ilhas onde abunda água.
Ramos-Horta apontou «o aumento grande» da população mundial como uma outra «ameaça» à paz, assumindo ser necessário encarar o desequilíbrio demografico como «um problema muito sério».
As preocupações do homem que foi o rosto internacional da luta pela soberania de Timor-Leste estendem-se à «inexistência de limpeza em praticamente toda a África» e que «vai certamente provocar guerras», avisou o antigo diplomata, que não escondeu os «perigos» que advêm da atual corrida às armas nucleares.
«O armamento nuclear está a proliferar entre os países da Ásia, com o perigo de estar nas mãos de países instáveis e em países potencialmente instáveis», continuou Ramos-Horta, que elencou vários casos em que as armas de destruição massiva estão apontadas ao país vizinho.
«E o drama é que, proximamente, mais países asiáticos terão armas nucleares», vaticinou, sublinhando que estados como o Japão estão entre os novos países que vão ter o poder bélico mais temido.
Embora reconhecendo que é na Ásia que existem os conflitos latentes «mais preocupantes», o Prémio Nobel da Paz abriu espaço para a esperança.
A solução passa pela criação de um novo Plano Marshall que promova o desenvolvimento, a educação, a saúde e a segurança alimentar nos países pobres e que fomente a integração dos emigrantes e dos refugiados.
Até porque «são muitos os países ricos que beneficiam do saber dos refugiados e emigrantes de países pobres».
Pormenor
O reitor da Universidade do Minho, António Cunha, enalteceu o trabalho desenvolvido pelo Núcleo de Estudantes de Ciência Política pela «atualidade» e «pertinência» do tema que elegeu para a conferência e exprimiu o «orgulho» da academia minhota em receber o Prémio Nobel da Paz.
António Cunha apontou o ex-primeiro-ministro e ex-Presidente da República de Timor-Leste como «uma personalidade de prestígio internacional» e de reconhecida «autoridade» nas questões da paz.
O reitor da UM expressou ainda o desejo de que o debate de questões «complexas» abra caminho à paz e à esperança.
Autor: Joaquim Martins Fernandes