«Como, para mim, 'instrumentos' significa 'materiais', eles não são apenas os que estão disponíveis numa loja de música, mas também os que se encontram no solo - como água, metais, madeira - e até agora usei [na digressão] uma cadeira, a secretária de um militar que ocupou o Japão, parte de uma ponte, material da estação de Tóquio, etc.», declara .Apontada por músicos, crítica e imprensa como uma artista "minimalista", "espiritual" e "meditativa", Midori Takada iniciou a sua carreira no registo clássico e logo depois dedicou-se a uma profunda pesquisa das linguagens percussivas da Ásia e de África, criando um corpo de trabalho que beneficiou ainda da sua experiência no jazz e na composição de bandas-sonoras para teatro, cinema, 'animé' e videojogos. Para a percussionista, todas essas áreas «são apenas ramificações» do instinto criativo musical, uma vez que, «desde a era do teatro grego», os adereços são unicamente «reinos de visão criados a partir do pensamento humano e, como resultado, a criatividade não é diferente».
Nesse sentido, Midori Takada diz-se a mesma artista que, em 1983, lançou "Through the looking glass", gravado em fita analógica em apenas dois dias, devido a restrições de orçamento. Recorrendo a marimbas, gongos, sinos de carrilhão, um harmónio e até garrafas de Coca-Cola sopradas como flautas, a artista executou esses instrumentos a diferentes distâncias do microfone para criar o efeito de uma escultura sonora tridimensional e foi corrigindo os erros detetados sobrepondo sucessivas camadas de fita à gravação inicial, o que conferiu ao álbum uma sonoridade peculiar.«Não mudei desde essa altura, o que talvez possa ser pelo meu sentido de uma era diferente, já que nasci numa célula de antiguidade remota», diz a percussionista. «Sempre criei música pelo meu sentido de mim própria - sentia inquietação, tensão, esperança, desejo de relaxamento - e penso que as pessoas vão encontrar a mesma situação atualmente», defende. Midori Takada afirma, aliás, que também nos espetáculos ao vivo a sua motivação se mantém inalterada: "Só toco para dar o meu som à audiência. Se as pessoas o receberem, a minha música tem conclusão". Quanto à forma como nos últimos 50 anos a percussão evoluiu no sentido de um maior recurso a timbres eletrónicos, a intérprete e compositora admite que isso possa ter resultado de "uma ânsia pelo novo, o que parece refletir a atitude de desejo natural do instinto humano". Essa preferência pode ainda representar um mecanismo de fuga: "Usando a eletrónica, a música teve novo espaço para se esconder do mundo material e isso significa que, hoje, as pessoas precisam de espaço imaterial". Para Midori Takada, o digital e o automatismo simbolizam, no entanto, "o declínio do corpo humano" e, nesse contexto, prefere uma exploração diferente do poder criativo individual: "A música é um dos nossos instintos para tornar o espaço seguro. Daí eu dizer 'usem o vosso corpo' e, assim, irão sobreviver". Em todo o caso, argumenta que "as palavras não são substância" e, por isso mesmo, desvaloriza os adjetivos elogiosos utilizados pela crítica na descrição do seu trabalho. Defendendo que "a música é só vibração liberta no ar", aprecia no público a autonomia com que escolhe as sensações a retirar de cada espetáculo e, aos jovens músicos que pretendam fazer carreira na percussão, deixa apenas um conselho: "Sejam livres".
Autor: Redação