twitter

«O lugar de Portugal na exploração de lítio deve ir além da extração»

«O lugar de Portugal na exploração de lítio deve ir além da extração»
Fotografia

Publicado em 10 de outubro de 2019, às 22:40

INL.

O investigador do Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia Pedro Ferreira defendeu hoje que o "lugar de Portugal" na exploração de lítio deve "ir além" da extração e passar pelo "ciclo produtivo", apontando as baterias como a "tecnologia do futuro". O responsável pelo departamento de Microscopia Eletrónica Avançada, Imagem e Espectroscopia do Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia (INL), que trabalhou com o Prémio Nobel da Química 2019 John Goodenough na Universidade de Austin, Texas, realçou o que a questão das baterias de lítio deve ser abordada de uma "forma interdisciplinar" e que o desafio que se vai colocar será o da sua reciclagem.
Quanto à atribuição do Nobel a Goodenough, o investigador considerou ser uma "declaração clara" da importância que o lítio e as suas potencialidades estão a assumir num contexto de energias renováveis "e não só".
"Em termos de tecnologia é muito importante, a questão da extração julgo que se deve fazer de forma consciente e terão que se fazer estudos ambientais. Há essa potencialidade do minério, mas sinceramente acho que, como país, não podemos ficar apenas na extração. É importante todo o ciclo produtivo e se calhar a mais-valia até está na transformação desses minerais", realçou o investigador português. Segundo Pedro Ferreira, Portugal vai ter de ter "competências" para a transformação do minério: "A meu ver é a estratégia que deve ser seguida e já ouvi esforços nesse sentido. Ter o minério é importante, mas não basta só extraí-lo", salientou.
Quanto às questões levantadas sobre os perigos da extração de lítio, o investigador reforçou que "em termos de tecnologia é muito importante", mas deve ser feita “de forma consciente e terão que se fazer estudos ambientais".
"É importante fazer uma avaliação rigorosa do que significa a extração. Há também um efeito psicológico. Tem que ser devidamente estudada e acautelada em termos do que significa para as populações e para o ambiente", apontou. Além da extração, em termos ambientais, as baterias de lítio colocam também a questão do que fazer com elas, depois de perderem a capacidade de serem recarregadas: "Um dos aspetos importantes que estão a ser pensados no ciclo produtivo é a reciclagem. Podem ter uma segunda vida ", disse. "Ainda não de forma muita vincada também porque ainda estamos numa fase muito inicial de extração e do processo produtivo, mas a União Europeia definiu já uma estratégia que engloba universidades, encontros tecnológicos e toda a indústria". Pedro Ferreira reforçou que este "tipo de bateria é muito peculiar para um determinado tipo de aplicação, não se faz uma bateria universal, exige essa comunicação com a indústria".
Sobre o Nobel, o investigador português congratulou-se com a atribuição do prémio da Química ao físico de 97 anos porque reflete a "importância das baterias à base de lítio, que são uma energia alternativa aos combustíveis fôsseis, é uma declaração clara que é importante pensar nestas tecnologias para ultrapassar estes problemas do clima, do ambiente".
Além disso, a atribuição de um Prémio Nobel da Química a um Físico reflete a "interdisciplinaridade do trabalho" relacionado com a investigação na área. "O John é um físico a trabalhar em Química com uma abordagem muito especial, porque ele é físico de formação. É uma celebração da interdisciplinaridade, e que é muito importante, nesta altura da quarta revolução industrial, esta postura holística para resolver os problemas". JCR // HB Lusa/Fim
Autor: Redação / NC