Odiretor do jornal Diário do Minho (DM) destacou e enalteceu a marca deixada pelo Monsenhor Domingos da Silva Araújo que assumiu este cargo ao longo de 28 anos, de 15 de abril de 1970 até 31 de agosto de 1997. Uma ligação que se mantém até aos dias de hoje, através da publicação semanal da sua rubrica “Serenamente”, todas as quintas-feiras na secção de “Opinião”, para além da publicação de centenas de outros textos de sua autoria, quer no corpo do jornal, quer no suplemento “Cultura”.
«Ainda bem, Monsenhor, que não o deixaram ser só padre (...). Seria para todos, principalmente para o jornalismo, uma perda para sempre irreparável», começou por dizer Damião Pereira, na homenagem de ontem.
Depois de um resumo da atividade jornalística do Monsenhor Silva Araújo, o diretor recuou no tempo para lembrar a importância da passagem do homenageado pelo Diário do Minho, «fazendo do nosso jornal aquele é que é hoje considerado um dos melhores jornais regionais do país, continuando “independentemente de qualquer poder político e económico”, tal como quando deixou a sua orientação».
«Tudo fez para que não perdesse a sua identidade», disse, vincando o cumprimento do editorial por si elaborado, o qual «nós, jornalistas de hoje, tal como os de ontem, procuramos honrar em cada edição, oferecendo uma informação o mais possível verdadeira e objetiva, diversificada e completa».
Falando da atualidade, Damião Pereira lamentou «as circunstâncias por que passa o jornalismo da atualidade» e que vão ao encontro da afirmação do Monsenhor no livro “Memórias de um Jornalista”: «havia poderes que pretendiam fazer do jornalista uma espécie de moço de recados, divulgador das mensagens que pretendiam ser tornadas públicas», pode ler-se.
«Monsenhor, lamento que sobre esta sua afirmação e perante as circunstâncias por que passa o jornalismo de agora me obriguem a concordar consigo. Assistimos hoje, e cada vez com mais frequência, a conferências de imprensa sem direito a perguntas; assistimos hoje à existência de gabinetes de comunicação ligados aos vários ministérios governamentais e autarquias com mais elementos que muitas redações de órgãos de comunicação social de nome próprio, pondo constantemente em risco o direito ao contraditório e até a própria democracia. E estas entidades, quando chamadas a esclarecer determinado assunto, são muitas vezes taxativas na resposta: «está tudo no comunicado, nada mais temos a acrescentar», referiu.
Damião Pereira lembrou ainda «a atuação de proprietários de órgãos de comunicação social que não se importam com a qualidade da informação que apresentam, mas antes se preocupam com o dinheiro que o número de visualizações nas redes sociais pode trazer, não olhando à veracidade ou confirmação dos factos».
Segundo o diretor do DM, esta era do digital «é um tempo difícil para o jornalismo sério, o verdadeiro jornalismo», e «um tempo difícil para os jornalistas pela pressão a que estão submetidos, ora pela velocidade a que a notícia corre, ora pela facilidade e pelo modo como são usadas as redes sociais na tentativa de os condicionar».
Aqui, lembrou o papel do Monsenhor: «ensinou-nos que os factos são sagrados e, por isso, o jornal deve ser honesto. Ensinou-nos a oportunidade da notícia e que a objetividade é um ideal a que se deve atender». «Muito obrigado pela sua entrega e amizade», finalizou.
Autor: Rita Cunha