twitter

Fé e respeito encheram ruas de Braga na Procissão do Enterro do Senhor

Fé e respeito encheram ruas de Braga na Procissão do Enterro do Senhor
Fotografia

Publicado em 14 de abril de 2017, às 23:56

Procissão que fecha os atos públicos da Semana santa bracarense levou multidão ao centro histórico

Foi em silêncio quase absoluto que a cidade de Braga assistiu, ontem, à Procissão do Enterro do Senhor, apesar da multidão que lotou quase por completo as ruas do centro histórico, aproveitando o bom tempo que abençoou as celebrações deste ano da Semana Santa.

O cortejo solene contagiou com fé, devoção e respeito os milhares de bracarenses e os muitos turistas, e o ritmo sepulcral foi marcado pelo arrastar lento e pesaroso de bandeiras, estandartes, cruzes e ramos de palmeira pela calçada.

Esta é a procissão mais emblemática de toda a quadra pascal bracarense, que lembra a suprema injustiça das leis humanas, que sacrificaram o Salvador do mundo como um desprezível salteador.

O ponto central foi o esquife, andor transportado pelos seminaristas e ladeado por lanternas e pelos escuteiros, mas apesar do luto e sofrimento partilhado por todos os cristãos, Jesus há-de ressuscitar ao terceiro dia e a sua mensagem espalhar-se-á por toda a humanidade.

O cortejo solene – organizado pelo Cabido da Sé de Braga, pela Comissão da Semana Santa, pela Irmandade da Misericórdia e pela Irmandade de Santa Cruz – evocou a caminhada do Senhor até à sua deposição no sepulcro, com os capitulares (cónegos da Sé de Braga) e os membros das confrarias a caminharem de cabeça coberta, em sinal de luto.

As figuras alegóricas ostentavam um véu de luto e as matracas dos farricocos seguiram silenciosas, enquanto as bandeiras e estandartes, estavam cobertos com tarja de luto, sendo arrastadas pelo chão.

O sentimento de luto e pesar foi partilhado pelos muitos milhares de pessoas que assistiram ao desfile, que retrata as últimas, densas e intensas horas da vida de Cristo, culminando as cerimónias públicas da paixão, com as ruas completamente “apinhadas” de gente, pelo que Braga parou, literalmente, para ver cumprida a última etapa da “via crucis” salvadora. 

Além do esquife com o corpo do Senhor, adorado pelos presentes, semelhante atitude de veneração mereceram o novo andor com a Cruz (texto junto) que seguia à frente, transportado pela Irmandade de Santa Cruz, e o andor de Nossa Senhora das Dores, levado em ombros pelos irmãos da Misericórdia), assim como a relíquia do Santo Lenho, transportada pelo Arcebispo de Braga.

Cavaleiros da Ordem de Malta e do Santo Sepulcro de Jerusalém também desfilaram na procissão. O cortejo do Enterro do Senhor contou com uma elevada participação de figurados, vulgo “anjinhos”, que representavam quadros e personagens da paixão, assim como muitos escuteiros e guias, membros da Irmandade de Santa Cruz e irmãos da Misericórdia. 

A procissão terminava com as diversas autoridades civis e militares da cidade, sendo fechado pela banda de música em tom fúnebre e pelos elementos das duas corporações de Bombeiros da cidade.

A Irmandade de Santa Cruz apresentou um novo andor da Cruz – ontem benzido por D. Jorge Ortiga, pelo meio dia – na Procissão do Enterro do Senhor, a mais solene das procissões da Semana Santa de Braga.

Embora alguns populares o tenham confundido com o esquife, que levava o corpo do Senhor, «esta belíssima peça de arte», representou um investimento de 100 mil euros, sendo denominado de "Consummatum Est". 

O andor pesa aproximadamente 300 quilos e contém 25 quilos de prata, aplicada na lateral, e um trabalho de marcenaria feito por uma empresa bracarense.

Este novo andor surgiu por iniciativa do provedor da Irmandade de Santa Cruz, Luís Rufo, que pretendeu suprir a falta de andor da Irmandade, que em anos anteriores pedia emprestado o andor da Cruz à Confraria do Sameiro.

O nome "Consummatum Est" (Tudo está consumado) – últimas palavras de Jesus na cruz – foi «a escolha óbvia», como tinha já explicado o cónego António Macedo, irmão honorário de Santa Cruz e mentor do andor. Esta «bela peça tem a dignidade necessária» e conta «toda a história da paixão de Cristo em prata, madeira e pano».

Nesta peça estão representados, além da Cruz, a subida para o monte Calvário, significando o sofrimento de Jesus, a descida do monte, remetendo para a esperança e um caminho projetado com uma luz, explicara Miguel Sousa Basto, arquiteto que concebeu o andor. 

Na frente e nas laterais desta obra de arte estão desenhados vários símbolos da paixão – setas, coroa de espinhos, chicote, galo – além de passagens bíblicas relativas ao percurso salvador e do brasão da Irmandade de Santa Cruz.  


Autor: José Carlos Lima