A cidade de Braga está apostada em «fazer renascer o mais histórico e, provavelmente, mais antigo trajeto de peregrinação para Santiago de Compostela».
A Via Nova, que liga Bracara Augusta a Artorga, na Galiza, remonta ao esplendor do império no noroeste peninsular e servia de ligação à, então, capital: Roma.
Após a queda do império, a via continuou a ser «a melhor auto-estrada até ao fim da Idade Média», tendo servido então para peregrinar rumo a Santiago até Ourense, donde tomava a direção do “sepulcro do apóstolo” de Jesus, entretanto adotado como símbolo maior de Compostela.
A apresentação da Via Nova nos Caminhos de Santiago foi realizada ontem, no Museu D. Diogo de Sousa, numa iniciativa partilhada pelas associações Jacobeias de ambos os lados da fronteira, que estão apostadas em valorizar as rotas de peregrinação a partir da antiga capital da Galaecia.
Braga foi o centro do noroeste peninsular durante o tempo imperial e pós-imperial, mas na idade média viu a sua supermacia “usurpada” pelos galegos, que transformam Santiago no grande centro religioso regional, após ao famigerado “Pio Latrocínio”.
Feridas saradas, ambos os povos são hoje irmãos e querem «caminhar lado a lado para investigar, valorizar e promover a reutilização das antigas vias» – no lado português coincidente com a via romana, que fazia chegar a riqueza mineral, sabiamente explorada, até Roma.
E Braga não perde «a oportunidade de se afirmar como ponto de especial relevo», de um caminho que atravessa o Cávado, segue por Amares e Terras de Bouro, cavalgando para Espanha pela Portela do Homem.
«Queremos dar todo o acompanhamento para que se criem as melhores condições deste caminho, ainda pouco usado, mas de especial antiguidade e relevância histórica», realçou o adjunto de Ricardo Rio, António Barroso.
A "geira/jeira" é uma via romana, que «está profundamente estudada», mas neste momento o caminho «faz um desvio pela ponte do Bico, por falta de condições de atravessamento noutro ponto».
«Esta é também uma forma de colocar a “jeira romana” na agenda, a qual está bem referenciada neste Museu D. Diogo», afirmou António Barroso, explicando que, «no concelho, a Via Nova nascia no centro, mas está um pouco “disfarçada” porque coincide com outros eixos viários urbanos, mas existem vários vestígios em Adaúfe e, depois, a “jeira” permanece visível em vários pontos do percurso até à fronteira».
Abdón Fernández Torres, escultor e estudioso do Caminho de Compostela, aproveitou para destacar que «as caraterísticas mais importantes desta Via Nova é que era, fundamentalmente, um caminho espiritual até Santiago e que está ligada à existência de vários banhos/termas durante o percurso, que serviam para restabelecer as forças».
«Encontramos também várias "gafarias" ao longo do trajeto, o que parece provar a intenção de "buscar o milagre" rumo a Santiago, pelos que eram atacados pela lepra e postos à margem da sociedade», notou.
Encantado com o Museu, o escultor destacou que «este caminho é bastante desconhecido, porque é muito antigo e não foi conservado, nem devidamente divulgada, mas existem muitos vestígios patrimoniais que atestam a sua existência».
«Na Galiza existe uma relação direta entre a rota comercial e a cobrança de impostos de passagem para Santiago, cuja construção também foi muito financiada pela produção de vinho, que contribuía para a economia de Santiago», afirmou Abdón Fernández Torres.
Via Romana
«É um caminho romano esquecido que temos que ativar, para que todo o percurso seja reconhecido pelas Juntas de freguesia, câmaras e demais pontos turísticos, para que as pessoas tenham pontos de passagem, pontos de água, albergues e mais estruturas de apoio», realçou António Devesa.
Autor: José Carlos Lima