Montar armários e cacifos que permitam às pessoas sem abrigo guardarem, num espaço seguro e acessível 24 horas por dia, os seus pertences e documentação. É este o projeto, denominado “closet4all”, que a delegação de Braga da Cruz Vermelha de Braga vai pôr em prática no próximo mês de fevereiro, depois de distinguida hoje com o 3.º prémio, no valor de cinco mil euros, no âmbito da 11.ª edição do Prémio AGIR da REN, dedicado ao apoio à inclusão desta franja da população.

Atualmente, a CVP de Braga acompanha cerca de 25 pessoas que vivem nas ruas, sendo este um número flutuante. Destas, entre 10 a 15 fazem a sua higiene pessoal no Centro de Alojamento Temporário (CAT) e é a estas pessoas que o “closet4all” se destina, já que os cacifos aí ficarão instalados.
«Queremos proporcionar às pessoas sem tecto que acompanhamos um espaço seguro e digno. Serão dez armários individuais, cada um com uma chave, onde podem guardar em segurança os seus bens pessoais, como medicamentos, documentos, vestuário e produtos de higiene. Isto é importante porque eles guardam as coisas num saco, às vezes perdem-nas ou são roubados e acabam por perder um pouco o controlo das suas vidas», explicou a diretora técnica do Centro de Alojamento Temporário da delegação da CVP Braga, Catarina Santos, em declarações ao Diário do Minho.
Segundo a responsável, este apoio tem ainda a vantagem de proporcionar apoio técnico no que respeita a monitorização dos resultados e do impacto causado no grupo-alvo.
Para Catarina Santos, a implementação deste projeto poderá significar o «primeiro passo para que as pessoas se aproximem dos serviços existentes. «Acreditamos que os resultados obtidos na melhoria das condições de vida das pessoas poderão contribuir ativamente para o desenvolvimento efetivo dos seus projetos de autonomização», salientou.
Expandir este projeto, aumentando o número de cacifos e colocando-os noutros pontos da cidade de Braga - alguns mais centrais do que o CAT - é uma ideia que Catarina Santos vê com bons olhos, caso o “closet4all” seja bem sucedido. «Será uma experiência inovadora. Se for positiva talvez a repliquemos noutros sítios mais centrais», disse.
Se tudo decorrer como o previsto, e tendo em conta que o trabalho de montagem e instalação é simples, em fevereiro os dez cacifos já estarão prontos a ser utilizados.
O vencedor do Prémio AGIR foi o “Cais Recicla”, da CAIS. Na oficina do “CAIS Recicla”, as pessoas em situação de sem-abrigo apoiadas podem desenvolver as suas competências pessoais e sociais através da criação de produtos como cadernos, bolsas, porta-lápis, porta-cartões ou lápis, todos feitos a partir de materiais reaproveitados e que fomentam a economia circular.

O projeto foca-se em proporcionar um ambiente de trabalho seguro, que simule dinâmicas laborais e que permite às PSSA desenvolver competências de que necessitam para entrar no mercado de trabalho.
«Este prémio possibilita que esse legado continue e consigamos transformar ainda mais vidas», explica Alexandre Teixeira, coordenador da CAIS Porto. Com a vitória no Prémio AGIR, o “CAIS Recicla” vai adicionar outra artesã à equipa, aumentando a capacidade de resposta e otimizando a dinâmica com as pessoas apoiadas. De referir que o projeto apoia normalmente 30 pessoas por ano, das quais cerca de metade são integradas no mercado de trabalho.
Em 2.º lugar ficou o projeto “É um catering”, a implementar em Lisboa pela associação CRESCER. Trata-se de um projeto que replica o modelo do projeto “É um restaurante”, que venceu o Prémio AGIR em 2020.

“É um catering” visa a integração no mercado de trabalho de pessoas que tenham estado em situação de sem abrigo, jovens ex-reclusos, refugiados e migrantes, através de um serviço de catering com um menu apelativo criado por um chef. Pretende-se que os participantes, cerca de 30 pessoas, sejam integrados no mercado de trabalho através do apoio da CRESCER, em colaboração com restaurantes e empresas parceiras, bem como desenvolver e implementar um modelo de formação, certificado pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional, desenhado à medida das necessidades dos beneficiários, nomeadamente em aptidões pessoais e sociais e capacitação profissional.
Para Florencia Salvia, coordenadora de projetos da associação CRESCER, o Prémio AGIR «contribuirá para fazer face a uma parte dos custos do projeto, nomeadamente recursos humanos e equipamento, essenciais para o bom funcionamento do mesmo».
O Prémio AGIR, com periodicidade anual, enquadra-se na política de envolvimento com a Comunidade e Inovação Social da REN. A edição deste ano será dedicada ao Apoio a Cuidadores Informais. Ao primeiro classificado é concedido um valor monetário de trinta mil euros, ao segundo quinze mil euros e ao terceiro cinco mil euros