O presidente da ATAHCA - Associação de Desenvolvimento das Terras Altas do Homem, Cávado e Ave defendeu, hoje, a necessidade de se avançar para o registo e certificação da maçã Porta da Loja e da laranja de Amares, duas variedades de frutas típicas do Minho.
José Mota Alves deixou esta ideia na abertura de um encontro sobre produtos agro-alimentares tradicionais, no Banco Português de Germoplasma Vegetal, em Merelim S. Pedro, Braga, onde foram apontadas pistas para preservar e valorizar estas duas variedades de frutas que «não estão protegidas».
«É importante que os agricultores se apercebam das vantagens que há em proteger a maçã Porta da Loja e a laranja de Amares com uma denominação, seja IG - Indicação Geográfica, seja IGP - Indicação Geográfica Protegida, seja DOP- Denominação de Origem Protegida», disse José Mota Alves.
O dirigente, que é um defensor acérrimo dos produtos endógenos e do mundo rural, salientou que a maçã Porta da Loja e a laranja de Amares têm «grande potencial» de produção e devem ser identificados como a marca Cávado.
A ATAHCA já tem apoiado alguns hectares de plantações, principalmente de maça porta da loja. Um apoio que, notou, tem permitido promover, divulgar e levar estes frutos às prateleiras.
«Naturalmente que uma certificação vai valorizar mais o produto. As pessoas ficam a saber que ele tem uma origem, que tem uma história ligada a um determinado território, e é bom que as pessoas saibam o modo de produção desse produto, como é que ele era produzido e conservado no passado e como é que é hoje», acrescentou José Mota Alves.
O dirigente referiu que a maçã Porta da Loja e a laranja de Amares são frutos que se diferenciam de outros em termos de sabores e conservação e isto também é uma «mais-valia».
No caso da maçã Porta da Loja, explicou, este fruto conserva-se de setembro até março/abril sem necessidade de «ir ao frio», permitindo assim também uma poupança de energia.
O solar desta maça são os vales do Cávado, Homem e do Neiva, embora também se produza nos vales do Lima e Ave.
«É um fruto que tem um grande potencial para vender em fresco e que pode ser transformado, seja em compotas, seja em cidra, seja misturado em bolachas ou em outro tipo de produtos», acrescentou o presidente da ATAHCA.
No Vale do Cávado, há mais de uma dúzia de produtores de maçã Porta da Loja e a área de plantação de macieiras desta variedade quase quadruplicou nos últimos quatro anos, passando de cerca de 5 para cerca de 20 hectares. Mesmo, assim, a produção «é pequenas» e «esgota-se rapidamente».
Quanto à laranja de Amares, a área de plantação é maior, assim como o número de produtores, mas a maioria são de idade avançada e já não cuidam tão bem dos laranjais, havendo um «desperdício muito grande».
Há dez anos estavam identificados 70 agricultores com laranjais acima dos 300 metros quadrados cada um.
Mota Alves acredita que se a laranja de Amares, que se assemelha à do Ermelo, Arcos de Valdevez, for mais valorizada a produção aumentará.
«Temos que olhar para o território e ver como podemos por estes produtos ao serviço da economia local e da coesão», concluiu.
No encontro estiveram agricultores, produtores, organizações de produtores, técnicos, representantes de municípios e de instituições ligadas ao ensino e investigação.
O encontro realizou-se no âmbito do projeto de cooperação transnacional SAL - Sistemas Alimentares Locais, que envolve seis Grupo de Ação local, entre eles a ATAHCA, entidade coordenadora.
Este projeto visa «refletir, capacitar e partilhar experiências e boas práticas que permitam dinamizar sistemas alimentares territoriais mais sustentáveis e resilientes, num momento em que vivemos um período intenso de transições (alimentar, climática, energética, digital)».
Umas das atividades deste projeto é o Levantamento dos Recursos Genéticos Vegetais Relevantes/tradicionais de cada território, trabalho esse que está a ser desenvolvido pelo Banco Português de Germoplasma Vegetal/Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária.