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Festival Internacional de Órgão projeta Braga no mercado do turismo cultural

Festival Internacional de Órgão projeta Braga no mercado do turismo cultural
Fotografia Avelino Lima

Jorge Oliveira

Jornalista

Publicado em 28 de abril de 2024, às 19:22

Décima edição contou com mais de 6 mil espectadores, superando o número registado em 2023

A interpretação da 9.º Sinfonia de Beethoven, num concerto na igreja de Santo Adrião que pretendeu ser um «hino aos valores universais», marcou o encerramento, esta tarde, da décima edição do Festival Internacional de Órgão de Braga.

Ao longo de nove dias, foram apresentados 12 concertos dedicados à música e canto coral, mais um que na edição do ano anterior, mobilizando mais de 500 músicos, entre coralistas, organistas e orquestras.

José Rodrigues, diretor artístico do festival, faz um balanço «extremamente positivo» desta edição, referindo que toda a organização ficou «satisfeita».

«O público aderiu. Foi o ano em que tivemos mais público em todas as igrejas, foram 12 concertos com programas totalmente diferentes que lotaram as igrejas», destacou, adiantando que foi ultrapassada a marca dos 6 mil espectadores registada na edição do ano passado.

Segundo José Rodrigues, o festival atraiu «muito público» vindo de outros países, o que «só vem provar que existe já uma projeção da cidade de Braga neste nicho de mercado do turismo cultural em torno do património musical e organológico». 

«Isto é importante não só para a economia da cidade, mas também para afirmar a cidade no panorama internacional da cultural», referiu.

O Festival Internacional de Órgão de Braga assume-se como uma oferta cultural diferenciadora, distinguindo-se de outros festivais no país e no estrangeiro por ser «bastante eclético e por tocar em várias áreas artísticas», procurando ir ao encontro dos gostos e das preferências de um público muito diversificado.

«Temos pessoas de todas as idades a assistir aos concertos, não é propriamente por ser música erudita, porque é uma música que vai desde a música antiga até à composição contemporânea, em vários estilos, de várias origens, e esta diversidade atrai», nota o diretor artístico.

Depois de o ano passado ter juntado a dança ao órgão, este ano o festival privilegiou o canto coral, oferecendo ao público dois concertos marcados pelo Cante Alentejano, reconhecido como património cultural da humanidade desde há dez anos pela Unesco.

Os Cantadores da Aldeia Nova de S. Bento, de Serpa, cantaram em Braga modas religiosas alentejanas, ao som de dois órgãos (com mais de 3 mil tubos) tocados pelo organista titular da igreja de Saint-Sulpice, em Paris, Daniel Roth, no concerto inaugural na Sé de Braga ( 12 de abril) que deixou “rendidas” mais de 1.400 pessoas pela qualidade e genuinidade deste canto que está, tal como os órgãos históricos, enraizado na cultura portuguesa.

Questionado sobre a próxima edição, José Rodrigues respondeu que ainda é cedo perspetivar ou avançar o que quer que seja, até porque no balanço, não só desta edição mas de dez anos percorridos, «é necessário avaliar que caminho seguir no âmbito deste festival». 

«Temos que ver, realmente, com as organizações que estão envolvidas - Arquidiocese de Braga, Município, Misericórdia e Irmandade de Santa Cruz - que caminho se quer seguir, porque é necessário dar passos firmes e saber o que é que se quer construir, o que é que se quer deste festival que tem ganho uma dimensão que não era expectável. O público já deu essa resposta ao aderir como adere», disse.

O diretor artístico recordou que quando o festival surgiu, em 2014, «muitos não lhe auguravam grande futuro».

«Poucas pessoas acreditavam que estaríamos ao fim de 10 anos com igrejas cheias e a aumentar o número de concertos para acolher tanto público», notou.

José Rodrigues não tem dúvidas de que o Festival «tem espaço para crescer» e entre o público, disse,  há pessoas a reclamar o seu alargamento para lá dos limites do concelho de Braga.

Este ano, a organização fez a experiência de levar o festival à vila de Prado, do concelho de Vila Verde, e , segundo o diretor artístico, o concerto na Igreja Nova de Prado «resultou muito bem».

«Tivemos muito público do concelho de Vila Verde e já outros concelhos se manifestaram interessados [em receber o festival]», indicou.

José Rodrigues entende que o festival pode assumir um «papel mais distrital, mais regional», até porque os órgãos históricos «não estão confinados à cidade de Braga, eles estão disseminados por toda a Arquidiocese de Braga, por todo o distrito».

A realização deste festival é assegurada pela Arquidiocese de Braga, Município de Braga, Irmandade de Santa Cruz e Misericórdia de Braga com o apoio do mecenato (tecido empresarial) que assegura mais 50 por cento do apoio financeiro necessário. Não está dependente de fundos públicos.