A 27 de agosto do ano passado, altura em que a UPE- Associação Centro Social e Cultural Luso Ucraniano lançou a campanha “Uma ambulância para a Ucrânia”, o objetivo era conseguir levar para o teatro de guerra pelo menos uma viatura que pudesse ajudar a tratar dos feridos em combate. Cinco meses depois, as expetativas foram totalmente superadas e, depois de em novembro terem sido enviadas três ambulâncias, esta manhã seguiram mais três e dois veículos de apoio, carregadas de medicamentos, meias e alguns brinquedos para crianças que estão em acolhimento em Ivano-Frankivsk. Não foi possível enviar alimentos dado o peso elevado e os problemas que poderiam surgir nos controlos.
Uma das ambulâncias e o carro Citroën C5 para resgate de doentes e feridos resultaram de doações à UPE, enquanto que outras duas ambulâncias e um jipe descaracterizados foram obtidos pela Associação Oranta, do Algarve, que também presta apoio à comunidade ucraniana em Portugal. Ontem, uniram-se os esforços e um camião saiu do quartel dos Bombeiros Sapadores de Braga com as cinco viaturas rumo à Polónia e, posteriormente, à Ucrânia.
A continuidade da campanha deveu-se, agora, a um pedido, desta vez do Hospital Central de Kherson, uma zona que tem sido bombardeada quase diariamente e que sofre as consequências do rebentamento da Barragem de Nova Kakhovka. E terminaria aqui, não tivesse entretanto surgido um outro pedido: o de uma ambulância que permita transportar crianças deficientes que andam em cadeiras de rodas. Este é, portanto, o próximo objetivo de uma campanha cujo espírito solidário tem mobilizado muitas entidades, empresas e pessoas a título particular.
«Vamos prolongar a campanha um pouco mais para, em colaboração com outras associações, tentarmos encontrar mais uma ambulância», adiantou Abraão Veloso, presidente da Associação Centro Social e Cultural Luso-Ucraniano.
Roman Grymalyuk, presidente da Oranta, explicou que as ambulâncias obtidas no Algarve estão camufladas e foram modificadas no sentido de se adequarem ao resgate de pessoas. O jipe também está descaracterizado, a ambulância foi oferecida pelos Bombeiros Voluntários de Vila Nova de Milfontes e o carro, também alterado, foi doado por um cidadão ucraniano.
Desde o início da guerra, esta associação do sul do país já levou 11 ambulâncias para a Ucrânia, nove das quais já foram combatidas, restando três, pelo que este reforço é visto como uma mais-valia.
Roman Grymalyuk tem família e amigos na ucrânia. «Muitos foram lutar e já não voltaram, mas as nossas raízes estão ali e para isto terminar temos de ter sempre muito apoio porque a Ucrânia é um país forte, mas precisa de ajuda para combater», disse. Já fez esta viagem sete vezes mas, desta vez, fica a ajudar desde Portugal. «Não vou agora porque não é necessário», referiu.
Carlos Ribeiro é o condutor do camião que vai levar as viaturas até à Polónia. Já fez várias vezes este trajeto, em trabalho, mas esta é a sua estreia numa missão humanitária. «É gratificante e fora do que estamos habituados», disse, prevendo chegar ao destino na sexta-feira à noite ou no sábado de manhã. As condições meteorológicas adversas na Bélgica e Alemanha poderão ser um “obstáculo”, já que na semana passada vários colegas ficaram retidos na neve, mas o jovem mantém a esperança de que «vai correr tudo bem».
Da Polónia (Cracóvia) até até à fronteira, em Lviv, o transporte é assegurado pelo coronel João Paulo Vareta, que foi comandante da Polícia Municipal de Braga. A partir daí, um motorista do Hospital de Kherson levará a viatura até lá, dado o alto risco existente. Ainda assim, percorrerá cerca de 200 quilómetros em solo ucraniano.
«Esta é uma ajuda muito importante porque leva material de emergência pré-hospitalar». Considerando que «não estão identificadas para já quaisquer situações perturbadoras da missão», a maior dificuldade da viagem será passar a fronteira. «Em novembro estivemos sete horas para passar. Espero que agora seja mais rápido», disse.
Altino Bessa, vereador da Câmara de Braga, salientou a onda solidáriaque esta campanha moveu desde o início, o que fez com que superasse as expetativas. «Enquanto houver recursos, isto continua», referiu, garantindo que o município continuará a acompanhar o processo.