“Todos os prematuros nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência. Possuem vida anterior ao nascimento, bem como memória, aprendizagem, emoção e capacidade de resposta e interação com o mundo à sua volta», in Declaração Universal dos Direitos do Bebé Prematuro (Artigo I).
«Amor e fé» é o resumo da receita que os pais da Camila, de 15 meses, e os pais da Ana Lis, de 28 meses, garantem ter sido essencial para que as suas meninas, ambas nascidas prematuras, tenham crescido e sobrevivido fora do ambiente protetor do útero materno, e sejam hoje bebés perfeitas e lindas.
Hoje, Dia Mundial da Prematuridade, a Camila e a Ana Lis foram à Neonatologia rever os amigos que, ao longo de meses as cuidaram e protegeram, monitorizando-as de forma contínua, uma equipa especial composta por médicos e enfermeiros, que além dos cuidados médicos, são «força, proteção e inspiração» para bebés e pais que vivem uma das experiências mais desafiantes da sua vida.
Para celebrar o Dia Mundial da Prematuridade, que se assinala a 17 de novembro, os profissionais do Serviço de Neonatologia prepararam ontem um conjunto de lembranças para as famílias e, inauguraram logo à entrada do serviço, o Mural da Camila, um quadro com as principais etapas da vida e da vitória desta bebé, que pretende servir de inspiração aos pais que naquela unidade acompanham os seus filhos. O mural veio juntar-se a um segundo, o da Ana Lis, que foi inaugurado precisamente neste dia, há um ano atrás, com o mesmo objetivo.
Andreia e Jorge, pais da Camila, olham com orgulho para o mural que revela a força da sua pequena guerreira, nascida às 24 semanas com apenas 540 g e 30,5 cm.
«Podermos vir aqui inaugurar um mural e transmitir a estes pais um pouco de esperança, mostrando que se nós conseguimos eles também conseguem, é muito importante porque os testemunhos que se encontram nas paredes do corredor mostram bebés com 25, 26 semanas, nunca as 24», constata, acrescentando que «o mural é uma forma de dizer a todos os pais que vale a pena lutar, que vale a pena ter esperança porque os milagres acontecem e ela, sem dúvida que é uma bebé milagre», contou.
Os pais da Camila agradecem «o carinho, a intimidade, a dedicação inequívoca e a força que os profissionais do Serviçolhes transmitiram» e vincam que «tudo valeu a pena».
Ana Lígia, mãe de Ana Lis, também passou por um processo idêntico, após o nascimento da sua bebé às 26 semana, com 800 gramas. Os pais da menina permaneceram com a sua bebé no Serviço de Neonatologia durante três meses e 21 dias. A luta foi «diária», porque logo ao quarto dia de nascimento a Lis teve que fazer uma cirurgia muito complexa, na sequência de uma enteroculite, um rompimento no intestino.
«Ela teve alta exatamente no dia em que completaria os nove meses de gestação na minha barriga. Tudo teve que ser repensado para ela, desde a cadeirinha de transporte ao enxoval, que não podia ser utilizado, mesmo as pecinhas mais pequenas. Foi necessário recorrer às roupinhas de Nenuco», contou.
Afirmando-se «eternamente grata ao pessoal da Neonatologia de Braga», Ana Lígia explica que se criaram «laços para sempre» e que os considera «família», realçando que a extensão do trabalho desta equipa é tão grande que, sendo de Caminha, ao longo do período de internamento teve de viver em Braga, mas até o quarto onde se instalou no Hospital de Braga, foi disponibilizado pelo Serviço de Neonatologia.
«Tive muito medo que a Lis tivesse que ser transferida para outro hospital, pois tenho plena confiança neste serviço», disse.
A diretora do Serviço de Neonatologia, Almerinda Barroso Pereira, salienta a importância destes testemunhos e dos exemplos transmitidos pelo Grupo de Pais de Referência, que existe desde o início de 2000, para transmitir esperança aos pais que estão a atravessar problemas.
«Sempre que possível trazemos cá pais que já por cá passaram para darem força aos pais que estão internados», referiu, esclarecendo que «a nível do Minho o Hospital de Braga é referência na Neonatologia, recebendo, recém-nascidos com patologia de todos os hospitais da região.
A médica especialista adiantou que só em 2022 o Serviço acolheu cerca de 290 recém-nascidos prematuros, salientando que são prematuros os bebés das 24 semanas às 36 semanas e seis dias.
No dia da Prematuridade encontram-se internados no Serviço de Neonatologia de Braga 17 bebés prematuros, alguns dos quais já tinham passado para os cuidados intermédios.