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Diminuir a circulação automóvel é a «verdadeira solução» para o trânsito em Braga

Diminuir a circulação automóvel é a «verdadeira solução» para o trânsito em Braga
Fotografia Avelino Lima

Rita Cunha

Jornalista

Publicado em 03 de novembro de 2023, às 09:45

Rio acredita que urge retirar carros do centro da cidade e acredita que o BRT será uma revolução nesse sentido

A diminuição da circulação automóvel é apontada pelo presidente da Câmara Municipal de Braga como a «verdadeira solução» para acabar com o trânsito na cidade, um problema já com alguns anos e que se tem vindo a agravar mais recentemente, também por força das obras num dos principais eixos de atravessamento do centro. «A verdadeira solução para o trânsito em Braga não é criar melhores fluxos para a circulação automóvel, é diminuir a circulação automóvel», vincou.

Segundo o edil, «o problema de Braga não é não estar preparada para carros», antes pelo contrário, «é ter sido uma cidade que foi preparada para carros». «Ao longo das últimas décadas, Braga foi uma cidade que criou todas as condições para atrair carros para o centro da cidade. Essa foi uma cultura que foi intrincada na generalidade dos bracarenses, foi criado um desenho que favorece o automóvel a vários níveis, com lugares de estacionamento no centro, faixas de atravessamento que são verdadeiras autoestradas», disse, lembrando os dados do último Eurobarómetro, segundo o qual, «de entre todas as cidades europeias inquiridas, Braga era a que tinha a maior percentagem de pessoas a utilizarem viatura própria». Para além de ter sido uma cidade «muito estimuladora do uso do automóvel», Rio salienta que o investimento nos transportes públicos também ficou, em tempos, aquém do necessário.

«Quando assumimos funções, em 2013, os TUB [Transportes Urbanos de Braga] estavam praticamente numa situação de falência técnica», recordou, salientando que criar condições para que haja outros modos de transporte no centro - cicláveis ou pedonais, por exemplo - passa por «criar estímulos para que as pessoas usem cada vez menos o automóvel». E é neste contexto que entra o BRT - Bus Rapid Transit que, para Ricardo Rio, será «a verdadeira revolução no transporte». Salientando que em Braga há «poucas faixas dedicadas de BUS», o edil vinca que, olhando para o desenho da malha urbana da cidade e o trânsito que hoje existe,  estas vias «seriam sempre feitas em sacrifício da circulação automóvel». «Portanto, aqueles que hoje exigem as faixas BUS seriam os primeiros a queixar-se, a seguir, de que não teriam condições para a passagem dos automóveis», lembra.

Segundo o edil, o BRT «vem criar essa solução», possibilitando ter linhas-eixo centrais na cidade ligando, por exemplo, os caminhos de ferro ao Minho Center (Lamaçães) ou à Universidade do Minho e ao Hospital e, futuramente, até ao Nova Arcada e à estação de caminhos de ferro de alta velocidade que entretanto será criada. Será, assim, possível «criar uma via dedicada de transporte com muita mais fiabilidade em termos de circulação, com outro conforto, com outra aparência», capaz de «mobilizar mais utilizadores».

Sobre o trânsito em Braga, José Eduardo Gouveia, do PS, concordou com as palavras de Rio, mas lembrou que as mesmas «vêm com alguns anos de atraso». «Hoje temos de saber pensar as cidades e os modelos de desenvolvimento das cidades de forma completamente diferente do que nas décadas de 80 ou 90 porque o mundo e os meios de transporte evoluíram e as necessidades das pessoas também acompanharam essa evolução», disse, lembrando a existência, hoje, de «um conjunto de metas e compromissos geracionais», nomeadamente na área da descarbonização, «que faz com que sejamos obrigados a acelerar a verdadeira transição e revolução nas políticas de mobilidade». Vincou ainda que «temos de pensar numa política de mobilidade cada vez mais amiga dos modos suaves e dos transportes coletivos» e de criar «condições para que as pessoas se sintam inibidas à utilização do carro».

E sobre os autocarros, defendeu que «não basta» que seja amigo do ambiente, tenha ligação à internet ou seja confortável. «Basta que as pessoas consigam chegar num tempo mais curto do que levariam em relação ao carro», disse, lamentando, contudo, que as obras na Avenida da Liberdade não contemplem uma faixa dedicada para este efeito.