O centenário do nascimento do advogado e político Francisco Salgado Zenha foi, hoje, assinalado na Universidade do Minho (UMinho) com uma conferência que trouxe à memória e homenageou o seu percurso cívico, político, jurídico e pessoal. A iniciativa, que decorreu na Escola de Direito (EDUM), contou com testemunhos da vice-presidente da Assembleia da República, Edite Estrela, do reitor da UMinho, Rui Vieira de Castro, e da presidente da EDUM, Cristina Dias.
Destacaram-se igualmente os testemunhos dos antigos ministros João Soares e Daniel Proença de Carvalho e de um familiar do homenageado, José Henrique Salgado Zenha, que permitiram conhecer o lado mais pessoal e humano de Salgado Zenha, numa conversa moderada pelo professor Wladimir Brito.
Logo na sessão de abertura, Rui Vieira de Castro elogiou «a importância do legado, do pensamento e da ação de Salgado Zenha», vincando as muitas «razões relevantes para a realização da cerimónia», designadamente a ligação a Braga, onde nasceu, a sua intervenção cívica, jurídica e política, mas também a sua intervenção académica.
Rui Vieira de Castro e a presidente da EDUM, Cristina Dias, enalteceram e mostraram a sua gratidão pela doação do espólio bibliográfico de Salgado Zenha, que foi entregue há 25 anos pela sua família à EDUM, que tem hoje uma biblioteca com o seu nome.
O acervo de 20.000 documentos inclui obras de variados temas, como direito, história, filosofia e clássicos literários, a par de peças judiciais, discursos e cartas, mostrando as relações do evocado com nomes como François Mitterrand, Mário Soares e José Cardoso Pires.
Por seu turno, Edite Estrela marcou a importância do percurso de Salgado Zenha e o papel por ele desempenhado antes e depois da Revolução dos Cravos, salientando «as excecionais qualidades» do homenageado nas mais diversas vertentes.
«No tempo em que reinava o medo, Zenha ousou não ter medo e pedir aos seus colegas que não tivessem medo», sustentou, descrevendo ainda vários aspetos da vida de Salgado Zenha.
No debate que se seguiu coube a João Soares trazer a público muitas das memórias de Salgado Zenha que povoaram a sua infância, bem como a amizade próxima e fraterna que unia Salgado Zenha e o seu pai, Mário Soares. Vincou ainda que mesmo quando os dois se zangaram, tal não abalou a amizade que unia a sua família a Francisco Salgado Zenha.
Através do seu relato foi possível retroceder no tempo aos anos da ditadura, quando ambos foram perseguidos, presos e censurados. Foi igualmente possível ficar a saber mais acerca do espírito antifascista de Salgado Zenha, mas também do seu lado mais afetivo. João Soares descreveu-o como «um homem de uma inteligência e de uma capacidade de escrita inacreditáveis».
Deixou ainda o desafio à UMinho, em particular à EDUM, para que produza uma biografia mais aprofundada de Salgado Zenha.