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Futuro reitor promete trabalho de continuidade e transformação

Futuro reitor promete trabalho de continuidade e transformação
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Publicado em 07 de novembro de 2017, às 11:19

Recentemente eleito reitor da Universidade do Minho, Rui Vieira de Castro explicou ao Diário do Minho as principais linhas do seu programa para o mandato que assumirá até 2021.

DM: Comecemos pelo lema da sua candidatura a reitor da universidade do Minho - "Mobilizar, desenvolver, transformar". Qual o motivo da escolha destes três eixos? RVC: Esses três verbos eu julgo que exprimem bem aquilo que eram objetivos associados à candidatura. O primeiro verbo – mobilizar –, traduz uma intenção de envolvimento da comunidade no projeto apresentado; o desenvolvimento tem a ver com aquilo que é a vontade de que a universidade, na materialização da sua missão, atinja novos patamares, e que ao atingir esses novos patamares seja capaz de transformar aquilo que está ao redor de si e de se transformar também a ela própria. Daí a razão da terceira palavra escolhida para esse lema. DM: Sendo vice-reitor da Universidade do Minho há oito anos, podemos esperar um trabalho de continuidade? RVC: Às vezes associa-se – e do meu ponto de vista erradamente – um valor negativo à ideia de continuidade. Se o caminho feito se traduziu na passagem da universidade para níveis superiores de desenvolvimento e de concretização da sua missão, a continuidade é uma boa coisa. E, desse ponto de vista, não tenho nenhuma dúvida em dizer que quero que o meu programa e a minha equipa assegurem a continuidade daquilo que vem sendo feito de bom nestes últimos anos. Mas naturalmente que o programa é outro, as pessoas são outras, e haverá certamente – e desejavelmente – espaço para mudanças, para algumas reorientações, para a valorização de certos aspetos que porventura terão sido menos valorizados naquilo que foi o percurso que a universidade fez até agora. Portanto eu diria que se joga esta dupla intenção, por um lado, de continuidade, e por outro lado de transformação, aproveitando e capitalizando aquilo que foi bem feito. A universidade está hoje posicionada de uma forma indiscutível nos contextos nacional e europeu e há aqui um rumo que deve ser prosseguido a bem da universidade e da concretização da sua missão. Mas, por outro lado, há um estilo novo, há pessoas novas que certamente introduzirão alguma reorientação no percurso da própria universidade.   Ana Marques Pinheiro DM: Entre os diversos princípios estratégicos do programa, destacou a valorização da qualidade da investigação da UMinho. O que é que isto implica e qual o caminho a ser percorrido até lá? RVC: Vamos partir da verificação de que a posição da Universidade do Minho hoje no contexto nacional e internacional, do ponto de vista da investigação aqui produzida e dos modos de transposição dessa investigação para contextos sociais, económicos e culturais mais alargados, é muito confortável. A UMinho representa hoje dez por cento da produção científica do país e esta é uma percentagem que vem em crescendo nos últimos anos. Agora, entendo que devemos olhar para o modo como estamos a fazer, o que estamos a fazer e quem temos a fazer as coisas. E, a partir daí, encontrar novos rumos a partir da identificação de novos desafios. Julgo que, aqui, o desafio maior que se coloca à nossa instituição é que, tendo dentro de si grupos que são internacionalmente reconhecidos na área em que operam, é de transpôr a experiência e os modos de fazer que esses grupos foram encontrando para o interior da instituição, de forma a generalizar essas práticas e a não deixar a instituição tão concentrada num grupo determinado de núcleos de investigação. Para fazer isso há um conjunto de medidas de estímulo que têm de ser desencadeadas. Elas são de dois tipos: um está relacionado com as estruturas que temos de apoio ao trabalho dos nossos grupos de investigação das nossas unidades de investigação que devem ser melhoradas para darmos um salto qualitativo. E, depois, também estou convicto de que a introdução de algumas medidas de estímulo à atividade científica pode contribuir para generalizar ao conjunto da comunidade de investigadores aquilo que são práticas excelentes que hoje temos um pouco mais localizadas do que porventura seria desejável. DM: Quanto a esse contributo de dez por cento da UMinho na produção científica nacional, acredita que continuará a crescer? RVC: Não tenho qualquer dúvida sobre isso. O histórico induz este otimismo e, por outro lado, acho que se formos capazes de, internamente, criar estas novas condições, prosseguiremos esse percurso. Temos grupos de enorme qualidade, não há razão para que esses grupos não sejam num número mais vasto. DM: A qualidade institucional também faz parte dos objetivos... RVC: Julgo que essa é uma área que é cada vez mais crítica em organizações como as universidades, que são organizações complexas pelo número de pessoas que comportam e pela diversidade de objetivos que perseguem. As questões do funcionamento das instituições têm de estar em cima da mesa. E eu tenho uma perceção muito clara da importância que essa área deve ter, e que me levou à criação de uma vice-reitoria exclusivamente dedicada às questões do desenvolvimento institucional. Falamos aqui do modo como organizamos a nossa estrutura de unidades de serviços. DM: No que respeita a educação, propôs um reforço das relações entre as práticas de educação e de investigação. Como poderá ser feita essa articulação? RVC: Hoje, uma universidade que se queira afirmar como uma universidade de qualidade no domínio da educação não pode prescindir de uma imersão tão precoce quanto possível dos seus estudantes em práticas de investigação. Isto aplica-se sobretudo à formação inicial, seja ao nível das licenciaturas e dos mestrados integrados, dado que, a outros níveis, a investigação constitui a essência da formação. Aquilo que vamos desencadear é um programa que vai visar, no conjunto dos cursos da universidade, o envolvimento dos estudantes em práticas de investigação, o que supõe uma articulação estreita com as próprias unidades de investigação. Por outro lado, um investigador forma-se também muito cedo, portanto estas práticas são são também elas capacitadoras, desde cedo, de novas gerações de investigadores.     DM: E quanto ao aprofundamento da qualidade da formação doutoral? RVC: A formação doutoral é hoje essencial para as instituições suportarem a atividade de investigação e, por isso, deve ser cuidada e os níveis da qualidade da formação devem ser acautelados. Mas há novas circunstâncias. Durante muito tempo a formação doutoral era orientada sobretudo para a capacitação do próprio sistema científico. Isso hoje já não acontece. Há muitos estudantes de doutoramento na Universidade do Minho que estão a fazer a sua formação noutra perspetiva que não apenas a de virem a integrar o sistema científico, e essa é uma necessidade que justifica em reequacionar a formação doutoral. Temos que integrar na formação doutoral a perspetiva de que muitas das pessoas que estão hoje connosco têm perspetivas de carreira, de integração em empresas, em serviços, em organizações de variada natureza, e a formação doutoral não deve desconsiderar esta nova realidade. Por outro lado, a formação doutoral carece hoje de ser mais sensível àquilo que se chama de competências transversais, e que tem a ver com a integração dos doutores em novos contextos. Devemos, ainda, ser capazes de promover a articulação entre várias áreas científicas. Estas são as três razões que justificam que se deva avançar para a criação de uma escola doutoral na UM, que não é uma nova unidade orgânica mas é um projeto que carece de um envolvimento ativo das várias unidades orgânicas.  

Integração crescente na sociedadefaz parte dos propósitos

  DM: No que respeita a interação com a sociedade, propõe uma maior presença da UMinho no território onde atua. Isto passa por um reforço das parcerias com autarquias, instituições e empresas? RVC: Uma marca identitária da UMinho tem a ver com essa sua capacidade de integração e de articulação com os contextos nos quais interage. Este é também um caminho que tem de ser perseguido. Temos hoje projetos emblemáticos ao nível da interação com a sociedade. A minha expetativa é que o caminho que seguimos até este momento possa permitir uma multiplicação destes bons exemplos. E, quando se coloca a tónica na questão do território, está-se a pensar no aprofundamento das relações que já temos, mas também de diversificação e alargamento dessas mesmas relações. Estamos localizados em Braga e Guimarães, mas a Universidade do Minho desenvolve hoje atividade em muitos outros espaços. E é a densificação dessa relação, através do desenvolvimento de projetos com esses outros espaços, que gostaria que fosse aprofundado. Temos um projeto pioneiro no contexto nacional, com um enormíssimo potencial, que é a rede de Casas do Conhecimento, que pode ser uma plataforma para assegurar esta articulação.
Tenho uma convicção muito forte acerca das virtualidades da vida associativa e tudo o que a universidade possa fazer para a estimular deve fazê-lo.
  DM: Mostrou-se recentemente preocupado com o facto de a UMinho não "enviar" para fora do país tantos estudantes quanto o desejado. O que poderá ser feito neste campo? RVC: A nossa preocupação não é pelo número em si, mas pelo facto de que hoje, um estudante que tenha uma experiência de internacionalização, desenvolve novos saberes e competências. Portanto, quando nós temos estudantes que não podem beneficiar dessa experiência de internacionalização, percebemos que é uma oportunidade que se perde. E quando comparamos o fluxo de estudantes que vêm para cá com os nossos que vão para fora ficamos preocupados. Agora, isto não é um problema fácil de se resolver porque temos fatores económicos que têm a ver com os estudantes e as suas famílias com um peso muito importante nestas tomadas de decisão, ou algum receio sobre o impacto no percurso académico de uma estadia de um semestre ou mais fora da instituição ou ainda pelo confronto com contextos que podem ser de alguma adversidade cultural. Mas esse é um lugar onde a universidade pode ter um trabalho efetivo demonstrando a relevância desta experiência e preparando os seus estudantes para que os choques de natureza linguística e cultural possam ser amenizados. DM: Ainda quanto aos estudantes, há a vontade de apoiar ainda mais a vida associativa. Sente que muitos deles ainda estão alheados da participação cívica no interior da academia? RVC: Preocupa-me, desde logo, porque tenho uma convicção muito forte acerca das virtualidades da vida associativa e tudo o que a universidade possa fazer para estimular a atividade associativa deve fazê-lo. Temos hoje a participação dos nossos estudantes a muitos níveis da nossa organização, desde logo no Conselho Geral, e eu acho que a qualidade destes projetos pode beneficiar muito com a sua intervenção ativa. Infelizmente, essa intervenção nem sempre atinge o patamar que nós gostaríamos que atingisse, pelo que há um trabalho que a instituição tem de fazer também de mobilização dos estudantes de modo a assegurarmos o seu maior envolvimento nas tomadas de decisão.  

«A UM tem sabido lidar bem com o subfinanciamento»

DM: O que falta? RVC: Nunca terei qualquer discurso negativo sobre as novas gerações, que aliás acho que estão muito melhor preparadas do que a minha. Agora, há muitos polos de interesse dos nossos jovens. É importante fazer-lhes ver que a participação na vida associativa é cada vez mais valorizado, por exemplo, pelos empregadores. É também preciso fazer um trabalho que releve a importância da sua intervenção na vida da instituição.Provavelmente para isso é preciso que eles também percebam que dessa intervenção decorrem algumas transformações. DM: Na área da melhoria da qualidade de vida e das infraestruturas, foi proposta a elaboração de um plano de desenvolvimento integrado nos campi de Gualtar e Azurém. Como poderá ser desenvolvido e que repercussões terá? RVC: Temos hoje em Azurém e Gualtar uma população de aproximadamente 22 mil pessoas, com uma forma de vida exigente para as infraestruturas e espaços exteriores dos nossos campi que foram sendo construídos sucessivamente. E hoje colocam-se variados problemas do ponto de vista da infraestrutura, um deles relacionado com a qualidade dos próprios edifícios e a sua adequação a novas necessidades decorrentes de novos modos de aprender e de ensinar, da expansão da atividade dos nossos grupos de investigação e do aumento de pessoas no interior dos edifícios. Por outro lado, as pessoas usam também os espaços exteriores que devem ser pensados na perspetiva das melhores condições de bem-estar. É a partir destes elementos que surge a ideia do plano de desenvolvimento integrado dos nossos campi, que tem ainda que prever a articulação com as cidades. A universidade deve, por exemplo, deve ser capaz de promover junto dos seus membros novas formas de mobilidade mais suaves, que sejam ambientalmente menos agressivas. DM: Um investimento que dependerá de fundos... RVC: É exatamente isso. Algum exercício vai ter de ser feito no sentido de se evidenciar a necessidade muito forte de alterarmos as condições que hoje podemos oferecer às pessoas. DM: No âmbito da sustentabilidade financeira, foi referido o aumento de receitas próprias e a redução de gastos gerais de funcionamento. Como poderá ser alcançado este objetivo? RVC: A redução de custos deve ser pensada numa redução "per capita". Ou seja, se a universidade intensificar a sua atividade, não vai reduzir custos. Mas seria muito interessante se nós, por pessoa, pudessemos reduzir os nossos gastos com o papel, água ou energia, por exemplo. Agora, não é por aí que se vai resolver o problema financeiro da instituição. A universidade confronta-se hoje com um problema de subfinanciamento, como a universidade portuguesa em geral. A UMinho tem sabido lidar bem com esse subfinanciamento aumentando de forma expressiva as verbas que consegue captar, sobretudo a partir de projetos de investigação, mas precisamos de melhorar os nossos níveis de desempenho aí para que a situação financeira da universidade se torne ainda mais confortável. DM: A captação de investimento estratégico também é um objetivo... RVC: Temos de ter noção que as circunstâncias em que a universidade se move são muito voláteis. O país passou por uma crise que afetou de forma muito significativa a universidade, e nós demos conta que coisas que eram dadas como razoavelmente seguras deixaram de o ser. Mas isto não nos deve dispensar de ver à distância e aí o planeamento estratégico é fundamental e a busca de financiamento de natureza estratégica também. Por isso, a universidade tem de estar muito capaz de responder a novos quadros que possam surgir. Devemos ser capazes de dispor de uma carteira de projetos que nos permita, face às alterações nos quados de financiamento, poder dar uma resposta imediata e, por essa via, tornar mais sólida a situação da universidade. DM: O reitor António Cunha tem-se mostrado preocupado com um dos grandes desafios das universidades para o século XXI, que é o da perda de relevância. Considera que a UM enfrenta esse risco? RVC: Estamos num tempo em que esta relevância não pode estar no facto de a universidade disponibilizar mais informação que não está noutro lugar, porque hoje a informação é facilmente acessível. E isto constitui um desafio para a instituição que deixou de ser a única depositária do conhecimento. A universidade tem de buscar a sua relevância noutros lugares. Penso que a universidade continua a fazer algo que nenhuma outra instituição consegue fazer, que é disponibilizar o conhecimento de uma forma estruturada, com um maior potencial de conformação de visões do mundo. A universidade deve associar à transmissão de conhecimento o envolvimento das pessoas em práticas de produção de conhecimento novo, e esse é um outro lugar de afirmação da relevância da universidade. por outro lado, tem que se abrir à sociedade, interagir com ela de forma intensa, capacitando-a nos seus vários níveis.
Autor: Rita Cunha