Os seus pais são naturais de Barcelos, mas D. Francisco nasceu em Maputo, Moçambique. Estavam lá a viver na altura?
A minha mãe é natural de Adães, o meu pai de Santa Eugénia de Rio Covo, ambos de Barcelos. O meu pai foi para Moçambique, salvo erro em 1955, fez lá a vida militar. Entretanto namorava com a minha mãe e veio cá a Portugal, se não me engano em 1960 e casou com a minha mãe no Sameiro. Eu vim a nascer no dia 12 de Março de 1961, em Maputo.
O que mais o marcou na sua infância?
Marcou-me muito o encontro autêntico e genuíno com a vida! África tem uma dimensão muito grande de fraternidade. Não tem os recursos e os meios que tem a Europa, evidentemente, e na época em que eu nasci ainda era mais precária a situação de vida dos africanos. As pessoas têm que se entreajudar muito, têm que se emprestar muitas vezes em coisas pequeninas... Um analgésico para uma criança, uma situação de um transporte, uma ida à cidade para trazer para o interior – eu vivi muito no interior! – alguma coisa que faz falta... Havia essa dimensão de fraternidade, mas também de convívio multirracial. Moçambique tinha uma grande comunidade indiana, por exemplo, e os meus amigos de infância eram meninos africanos. A minha mãe foi professora primária em Moçambique e isso proporcionava-me uma relação muito boa com os meninos da escola, com quem eu frequentava o estabelecimento público. Foi esta envolvência com a vida humana, na sua beleza e na sua relação de convivência e com a própria natureza que me marcaram. No interior, ou, como se dizia, “no mato”, era muito forte a natureza. A relação do equilíbrio do ser humano com a natureza foi e é extremamente enriquecedora! Vivi uma dimensão de grande liberdade. Com os meninos africanos ia para o rio, ia ver os ninhos dos pássaros... Foi muito bom para mim ter vivido a infância e primeira juventude, até aos 14 anos, em Moçambique, vindo cá a Portugal, a Adães, muitas vezes no Verão para estar com os meus avós. Também o encontro com a minha família nessas alturas em Barcelos me marcou muito! Os meus primos funcionaram como irmãos, uma vez que sou filho único. Somos 12 primos direitos, temos uma relação muito bonita. Os meus avós levaram-me pela primeira vez a sítios como Fátima, ao Sameiro, Bom Jesus, Santa Luzia de Viana do Castelo... Sítios que uma criança não esquece. Aliás, foi no Sameiro que eu fiz a Primeira Comunhão. Marcou-me uma infância muito envolvente nesta dimensão da relação humana e do encontro com a natureza, porque também nas aldeias de cá, como em Adães, eu e os meus primos brincávamos: íamos ao campo, às vindimas, às festas da desfolhada... Era um encanto encontrar-me com os meus primos quando vinha à “metrópole”, como se dizia.
Com 14 anos regressa a Portugal, a Braga. Foi fácil essa transição em plena adolescência?
Não foi fácil, porque nunca esteve nos meus projectos vir para Portugal. Eu gostava muito de Moçambique e a partir do primeiro ano entrei num Colégio Salesiano na então Lourenço Marques. O meu pai era Técnico Oficial de Contas e trabalhou para os Caminhos de Ferro de Moçambique. Muitas vezes tinha de ser transferido e quando chegávamos ao fim do ano lectivo a minha mãe acompanhava-o, como professora também fazia a sua transferência. Para eu não sofrer estas vicissitudes de mudança de escola, os meus pais entenderam pôr-me no Colégio D. Bosco. Aí construí uma relação muito forte enquanto aluno Salesiano. A dinâmica da educação salesiana é inesquecível! A partir do desporto, da formação para o companheirismo, fundada no sentido de também saber perder, o dar a vida... Fui beneficiado com a metodologia de ensino de D. Bosco a partir da amizade, de uma grande proximidade com os padres salesianos... No recreio jogavam connosco, havia uma boa equipa de hóquei em patins, de basquetebol, de voleibol, de futebol... E isso preenchia-nos muito! Foi numa situação muito complexa de violência que se viveu em 1974, no mês de Setembro, na cidade de Maputo, que se decidiu que não era possível viver em segurança em Moçambique. A maior parte dos funcionários públicos e dos portugueses de cor branca em Moçambique regressaram à metrópole. Fui chamado pelos meus pais para vir embora e no espaço de uma semana fiz a mala e regressei. Foi difícil a minha adaptação. Quando cheguei a Barcelos era um aluno que tinha de concluir o terceiro ano, nem sequer tinha concluído o ano... Regressei de urgência, se não me falta a memória, pelo mês de Abril, estava o Samora Machel a chegar a Moçambique, à Beira, quando nós, também da Beira, embarcámos. Eu e a minha mãe – o meu pai ainda ficou em Moçambique devido às suas responsabilidades profissionais – queríamos embarcar antes que o Samora Machel chegasse porque havia receio de as grandes movimentações populares voltassem a desencadear uma onda de violência como a que tinha existido em Setembro de 1974. Significa isto que eu tive de acabar ainda o terceiro ano – hoje denominado sétimo – num colégio particular, em Barcelos, o colégio D. António Barroso, porque vinha de um colégio privado e nessa altura era difícil a equivalência no sistema público. Entretanto, no quarto ano – hoje oitavo – já entrei para o Liceu Nacional de Barcelos. E vim fazer o quinto ano ao Seminário de Nossa Senhora da Conceição. No primeiro ano fiz a secção de Ciências e no segundo a de Letras em virtude das dificuldades de adaptação, mas também porque a minha formação em Moçambique incidia no Inglês e menos no Francês, uma vez que estávamos próximos da então Rodésia, hoje Zimbabwe, da África do Sul, da Suazilândia, da Zâmbia, da Tanzânia. Tive que ter aulas complementares para poder fazer o quinto ano. Foi dividido em duas secções, fi-lo em dois anos no Seminário. Já no Seminário Conciliar, na Rua de Santa Margarida, fiz então o sexto e o sétimo, actualmente o décimo e décimo primeiro ano. Houve dificuldades de adaptação por um conjunto diverso de circunstâncias, desde a minha idade, o estar na adolescência, até à grande mudança cultural entre Moçambique e o Minho, Braga, num tempo muito diferente da Igreja de hoje.
Então como surge o envolvimento com a Arquidiocese de Évora?
Por isso mesmo pensei e sugeri que talvez fosse melhor ir para uma Igreja missionária. Pensei nos Combonianos, nos Espiritanos, nos Vicentinos... A situação não era fácil. Regressar a Moçambique era o meu desejo, mas devido à situação marxizante da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), os sacerdotes viviam situações complexas, nomeadamente em campos de reeducação. Um grande número de sacerdotes estava a sair para o Brasil, para a África do Sul ou a regressar a Portugal... Os sacerdotes portugueses estavam numa situação complicada. Eu percebi, com a ajuda de D. Eurico Dias Nogueira, que era o então Arcebispo de Braga, e que tinha sido meu Bispo no Niassa, na diocese de Vila Cabral, que era preferível fazer uma experiência missionária em Portugal. Então fui para o Alentejo, onde fiz toda a Filosofia e Teologia, os seis anos de preparação, no Instituto Superior de Teologia de Évora, vindo a ser ordenado em 1986, na Igreja Salesiana em homenagem aos Salesianos da minha infância, a quem estive sempre muito ligado. Fui ordenado por D. Maurílio de Gouveia, Arcebispo de Évora na altura, pelo D. Eurico que se deslocou de propósito para a minha ordenação, sendo eu nesse ano o único ordenado, e por D. David de Sousa, que era o Arcebispo Emérito que me recebeu quando fui para o primeiro ano de Teologia. Fiz o sétimo ano no Seminário Conciliar e no Liceu Sá de Miranda porque, se por acaso discernisse que a minha vocação não era ser presbítero, sairia sempre com o sétimo ano para outra área de formação.
Na altura quais foram as principais diferenças que notou entre as duas Arquidioceses? E semelhanças?
Quando cheguei a Évora ainda se vivia um ambiente muito marcado pela chamada Reforma Agrária, pela situação que se viveu no Alentejo pós 25 de Abril. Cheguei a Évora para o ano lectivo de 80-81. Estamos a falar de cinco anos depois do 25 de Abril, ainda com muitas marcas da Reforma Agrária, com toda a problemática revolucionária vivida numa zona do país onde um partido tinha o domínio absoluto. Isso fazia com que a Igreja vivesse circunstâncias muito específicas. As comunidades eram muito reduzidas, a participação dos cristãos era também diminuta... E causou-me uma certa dificuldade deparar-me com uma comunidade humana que parecia que não precisava do Evangelho, que não precisava de mim! Efectivamente, toda a força dominante era ideológica e partidária! Questionava-me se fazia ali falta... Via que a Igreja era frequentada sobretudo por senhoras, senhoras mais idosas, não havia presença juvenil e perguntava-me se de facto só iria fazer falta para fazer funerais e celebrar missas de defuntos. Vivi o primeiro ano com alguma apreensão. Sempre me acompanhou muito de perto D. Eurico Dias Nogueira e sacerdotes amigos, quer de Braga, onde me acompanharam, quer de Évora, onde me receberam. Estou-lhes muito grato! Com esta ajuda fui compreendendo que não me bastava só ser amigo de Jesus, era necessário também gostar daquilo que Jesus gosta. Jesus deu a vida e teve muitos momentos de silêncio e de aparente fracasso. Assim fui encarando Cristo presente naquela Igreja através das circunstâncias difíceis que ali se viviam. Foi muito importante o ano de 1981-1982. Em Dezembro de 81 chegou a Évora D. Maurílio de Gouveia e o ano de 82 foi, no fundo, o seu primeiro ano, um ano de muita esperança. Ele incutiu em nós a possibilidade de renovação daquela Igreja, a possibilidade de nos lançarmos numa perspectiva de evangelização muito renovada. Estamos no pontificado de uma grande figura: João Paulo II, que nos enchia de esperança e nos lançava grandes desafios. Comecei a olhar para um Alentejo cada vez mais em mudança a nível eclesial! Não posso deixar de referir as missões que D. Maurílio lançou, as grandes visitas pastorais de âmbito missionário... De tal modo que a prática no Alentejo duplicou! Lembro-me que quando lá cheguei andaria pelos 5,9% e quando vim embora já era um Alentejo com cerca de 10% de prática. Esta grande mudança, sobretudo com a presença de homens e de casais, famílias e jovens passou também muito pela ajuda dos Movimentos: os Cursilhos de Cristandade para os adultos e os Convívios Fraternos para os jovens. Esta experiência encheu o meu coração de luz e acabei mesmo por tomar a decisão de oferecer a minha vida ao Alentejo. Então, sempre com o olhar de D. Maurílio, que me acompanhava, caminhei para o sacerdócio e fui ordenado a 29 de Junho de 1986.
Considera-se moçambicano, minhoto ou alentejano? Ou é possível o coração ter raízes nos três locais?
(risos). Essa é uma pergunta muito interessante! Eu considero-me um minhoto... missionário no Alentejo! Em Moçambique, os meus pais minhotos transmitiram-me uma vivência cristã com a sua experiência do Minho. A minha mãe na juventude fez parte da Acção Católica Rural. O meu pai era um católico praticante, um homem que tinha uma relação próxima, de amizade, com o Bispo da Diocese, D. Eurico, com quem falava muitas vezes. Neste sentido recebi, de facto, com o leito materno, a vivência da fé neste dinamismo minhoto. Uma coisa muito interessante, que pode ser elucidativa: quando fui padre durante 28 anos em Évora, sempre levei garrafões de vinho verde para o Alentejo! (risos) Sempre guardei esta matriz dos meus avós, da minha família, e vinha todos os meses a Barcelos! Sempre me defini como trigo do Minho amassado e feito pão no Alentejo. É assim que eu me vejo. África talvez tenha permitido um horizonte muito alargado, o Alentejo pediu-me a doação da vida, que me fizesse pão, e o Minho é a substância da minha vida, é a farinha do que eu sou.
O D. Francisco Senra Coelho é um missionário?
Eu desejava ser um missionário, mas não sei se sou! Aquilo que me fascina é realmente levar o Evangelho às pessoas e descobrir o Evangelho nelas, porque cada pessoa é um lugar de Deus. Efectivamente, Deus está muito perto: quando nos encontramos com o sofrimento humano, com a esperança, com o sonho, com um projecto, com a vontade de vencer... percebemos que é possível construir um mundo diferente! O mundo tem coisas maravilhosas, mas há aspectos que poderiam ser diferentes para melhor! Muitas vezes sentimo-nos como que estrangeiros na nossa terra, em diáspora na nossa própria terra: quando nos deparamos com a violência, com as pessoas que descartam outras pessoas, com o desrespeito, com a exploração, com o abandono, quando encontramos idosos sem ninguém, perante a ingratidão... Compreendemos que o mundo poderia ser diferente. E como eu acredito nisso, encontro-me com este projecto nas pessoas que desejam, que querem, que trabalham, que lutam por uma diferença da vida, da sua vida e da do mundo. Vejo aí a presença de Deus, vejo que Ele está a fazer esse mundo com aqueles que dão as mãos e trabalham em rede pelo ideal da renovação da humanidade. Evangelizar não é um gesto de fazer prosélitos, de convencer, de mentalizar, ou de ser capaz de provar. Evangelizar é encontrar Cristo nos sinais dos tempos, no grande sinal que é a sede que o ser humano tem de verdade e de justiça e juntos descobrirmos que, afinal, o que está a acontecer é o Evangelho! Perceber que esse é também o plano de Deus e Cristo presente no meio de nós. Humanização é evangelização e evangelização é humanização! Por isso, nesta perspectiva, gostaria muito de ser missionário. Que deseje o Céu que eu consiga como aprendiz de missionário dar passos nesse sentido. Mas é arriscado dizer que o sou! (risos)
O que mais gosta de fazer enquanto sacerdote?
Gosto muito de estar com as pessoas. Tanto quanto possível no encontro genuíno da vida, ou seja, onde as pessoas estão realmente. Não excluo as celebrações, não excluo os momentos de solenidade, mas é mais estar com as pessoas na verdade da sua vida! Gosto muito de com elas celebrar na verdade da vida a eucaristia, gosto muito de compartilhar a alegria de um casal quando vem apresentar a Deus o seu filho na celebração do Baptismo. Gosto muito de compartilhar a abertura do coração quando alguém me mostras as suas feridas e o seu sofrimento através do sacramento da Reconciliação. Gosto muito desta dimensão de encontro com a verdade da pessoa, mesmo até em termos de consolação, como quando sou chamado a um funeral ou a uma hora de despedida na Santa Unção. O que me fascina no meu ministério sacerdotal é ser a presença de Cristo para a pessoa concreta na sua vida também concreta. Às vezes é mais custosa a dimensão da cerimónia, da encenação, das coisas que são feitas com formalidade, onde estamos todos a representar mais do que a celebrar. Não me cruzo com esses momentos com encanto, mas vivo-os porque muitas vezes se proporcionam na exigência do meu ministério, como as celebrações que percebemos não serem vividas com convicção, mas apenas por tradição ou dimensão cultural.
E nos tempos livres? Se é que os há…
Sim, há tempos livres. Graças a Deus há. Para além de gostar de descansar... (risos) Para além de precisar de descansar e de gostar muito de estar com a minha família, uma das coisas que mais aprecio é andar, caminhar. Sempre que tenho tempo livre procuro caminhar. Gosto muito de fazê-lo à beira-mar. Muitas vezes percorro a distância entre a Póvoa de Varzim e Vila do Conde! Também gosto muito de ir para o campo, de passear por um sítio onde haja muitas árvores e onde haja muita natureza, como acontece no trajecto entre Adães e o Mosteiro de Vilar de Frades. Também gosto muito de ler!… E de fazer a leitura com silêncio total, de me concentrar e depois reflectir e escrever um pouco a partir do que leio e do que penso. Agora não tanto, mas quando exerci o ministério presbiteral em Évora escrevia muito. Para além de alguns livros que tive a possibilidade de publicar, produzia artigos para a Família Cristã, para os jornais regionais do Alentejo... Para mim escrever é um hobby, faz-me bem, descansa-me. É das coisas que eu mais gosto! Depois de um passeio, de um momento de encontro com a natureza, de silêncio e solidão interior, neste sentido de encontro comigo, a escrita é uma boa terapia.
Em 2014 foi nomeado Bispo Auxiliar de Braga. Como recebeu a notícia?
Sinceramente? Com espanto. A Arquidiocese de Évora, na sua dimensão vocacional, não conta com muitos agentes de pastoral e tem ainda menos presbíteros. Nunca me passou pela cabeça que numa circunstância muito difícil daquela Igreja fossem lá buscar um padre para o episcopado. Não me parecia que se fosse pedir a Évora nas circunstâncias em que vive a Arquidiocese, a partida de um sacerdote. E menos ainda para Braga! A minha relação era toda com o Sul. Trinta e quatro anos em Évora é bastante tempo, marca uma vida. Quando comecei a perceber – porque não posso disfarçar este aspecto, não seria verdadeiro – que havia um olhar sobre mim, comecei a entender que havia pessoas que pretendiam conhecer-me melhor e aos pormenores da minha vida. Comecei a pôr a hipótese de existir um processo para o episcopado da minha pessoa. É que isto nota-se, não podemos disfarçar ou dizer que não! Notam-se pequenos sinais e pensei que, porventura, se isso acontecesse, seria para as Igrejas do Sul, porque era lá que eu estava. Fiquei mesmo muito admirado quando percebi que vinha para Braga. Até ao último momento, já dentro da Nunciatura, quando ia ao encontro do Núncio Apostólico, estava convencido que talvez fosse chamado a uma das Igrejas do Sul.
Évora tinha cerca de 100 sacerdotes, 155 paróquias e cerca de 278 mil habitantes. Braga contava com mais de 400 presbíteros, 551 paróquias e um milhão de habitantes. Estes números tão diferentes não o assustaram?
Sim, claro que sim! Perguntei-me o que é que eu teria para dar a Braga na minha modesta situação de missionário no Alentejo. Muito encarnado, porque a vida exigiu de mim uma grande inculturação alentejana. A certa altura pensei, na minha reflexão e na minha oração, que seria este espírito missionário que seria de trazer a Braga: de levar esta dimensão de precariedade, de simplicidade, a uma Igreja com muitos mais meios, com uma cultura de longa história. Pensei que poderia trazer realmente esta dimensão missionária! E penso que o Senhor deve ter posto estes quatro anos na minha vida em primeiro lugar para eu receber muito de Braga, aprender e fazer experiências novas que realmente aconteceram aqui e foram muito importantes. Mas também o que eu posso ter dado é esta experiência missionária, esta minha proximidade das pessoas numa Igreja que vive com as pessoas a sua única riqueza, a maior de todas: as pessoas. Quando é assim, a Igreja assume muito a proximidade e a humanização da sua missão. Isso pode ter sido o pequeno contributo que deixei à Arquidiocese de Braga... Que é a minha diocese! Será sempre a minha diocese, é aqui que está a minha casa, a minha família e as minhas raízes. Continuarei a vir, se Deus quiser e assim o espero, todos os meses.
Que recordações leva destes quatro anos aqui no Minho?
A primeira recordação que eu levo é de uma relação muito positiva com o Arcebispo D. Jorge Ortiga, desta casa [Paço Arquiepiscopal], com as Irmãs que aqui vivem e com a equipa sacerdotal que aqui trabalha com o Arcebispo. Durante quase dois anos fui o único Bispo Auxiliar e depois tive a graça, a riqueza e a amizade muito fraterna, muito amiga, de D. Nuno Almeida. Não posso deixar de referir o acolhimento dos presbíteros e diáconos e a capacidade que tiveram de me receber e ultrapassar as minhas dificuldades. Também levo comigo a missão que me foi pedida com os Movimentos Laicado e Família. Foi um trabalho muito empenhado e, ao mesmo tempo, um desafio para mim. E depois há este povo maravilhoso do Minho!… É um povo pascal, um povo com uma dimensão enorme de empreendedorismo, com uma capacidade impressionante de criatividade, com uma força incrível de recomeçar sempre de novo, mesmo que seja das cinzas... Ver que não é um povo aliado a uma atitude de depressão, nunca! Tem sempre uma atitude de vitória, é uma região com um dinamismo económico, cultural, com uma dimensão de capacidade social impressionante que me acrescentou mais vida e ainda mais desafio à minha própria vida.
Confirma-se a hospitalidade e calor humano do povo minhoto?
Sim, sem dúvida! É um calor espontâneo, imediato, festivo! Quando nos abraça e nos recebe faz questão de mostrar que está alegre em receber-nos, não nos está a fazer nenhum favor. Nas visitas pastorais vivi sempre estes momentos que são inesquecíveis na minha vida!
Braga cresceu muito nos últimos anos. Para melhor?
Que cresceu, não há dúvida nenhuma! Como disse, eu vinha cá todos os meses. Mas quando cheguei cá, a primeira coisa de que tive de me munir foi um GPS. (risos) E curiosamente, passado pouco tempo, tive que comprar um segundo. Uma vez o primeiro avariou de noite, estava eu em Celorico de Basto, numa zona montanhosa e não foi nada fácil chegar a Braga... Foi tal a experiência que passei a ter um GPS de reserva! (risos) A nível humano, a qualidade de vida é, de facto, muito apreciável em Braga. Gostava de salientar que notei uma grande diferença na prestação de serviços, como os de saúde, a nível de Serviço Nacional de Saúde, com uma qualidade e uma pontualidade aqui no Minho a que eu não estava habituado. Também gostava de referir a qualidade que encontrei a nível da escola pública. Nas visitas pastorais percebi que Braga tem uma boa rede de escola pública, que foi muito melhorada. E depois há as zonas que a Arquidiocese tem com uma forte e qualificada industrialização, há empresas que são de referência a nível europeu e mundial. Também gostava de fazer referência à grande melhoria das redes rodoviárias, até nos caminhos da aldeia, que estão quase todos asfaltados ou empedrados. Os equipamentos que foram construídos nas diversas freguesias, mesmo do interior, também são muito importantes. Braga deu um grande salto qualitativo! Parece-me que a nível eclesial se vive um momento de grande transformação entre uma fé herdada, de expressão e experiência cultural para uma fé com convicção. Esta passagem é desafiante, ou seja, a Arquidiocese é convidada a apostar muito na formação, a semear a experiência comunitária, a dimensão da envolvência da comunidade cristã numa relação de família de famílias... Este caminho é realmente desafiante e não é fácil, uma vez que são muitas as ofertas e, ao mesmo tempo, os apelos que a própria vida faz às pessoas: o apelo da Igreja à formação, a iniciação cristã das novas gerações, a renovação das comunidades onde são evidentes os sinais de envelhecimento e onde se verifica grande desertificação populacional como em alguns Arciprestados que visitei... Percebi, mesmo ultimamente, quando tenho visitado a zona Norte de Vila Verde, que são desafios grandes para uma reestruturação da vida paroquial também, por exemplo no que diz respeito à catequese. Braga manifesta sem dúvida um crescimento a todos os níveis e também uma Igreja que procura responder aos desafios das suas gentes neste contexto do tempo em que vivemos... Toda a coragem!
E a fé destas gentes, como a descreve?
Atrevo-me a dizer que a maior riqueza de Braga é o seu povo, que tem um calendário próprio festivo. Esse calendário acontece sazonalmente, todos os anos, e é um calendário que o povo vive com vibração. Essa é uma grande “almofada” que a Arquidiocese tem em relação ao indiferentismo, ao alheamento, mesmo em relação a atitudes mais elaboradas de agnosticismo e ateísmo. É um bom ponto de partida. O Papa Paulo VI referiu-se a esta dimensão da religiosidade popular na Carta Magna da Evangelização, “Evangelii Nutiandi”. A mesma coisa com o Papa João Paulo II, na grande Exortação Apostólica “Catechesi Tradendae”. E agora o Papa Francisco, na “Alegria do Evangelho” refere-se também à valorização das manifestações populares tendo a esperança como ponto de partida. É uma riqueza ter um povo com esta dimensão cultural, uma fé que se tornou cultura! É necessário proporcionar a este povo momentos de descoberta dessa fé na sua beleza. No fundo, partir dessa vivência para entender a profundidade do amor de Deus, a Sua misericórdia que encerra a fé que os fiéis professam ou celebram, mesmo que não tenham muita consciência do seu conteúdo.
O que mais lhe custa deixar para trás?
...Tenho que admitir que é deixar a minha terra, as pessoas amigas, que foram todas as que me envolveram, deixar a minha casa, a minha gente... Enfim, voltar novamente a partir, como aconteceu quando decidi no meu coração partir para sempre para o Alentejo, porque o meu projecto de “sim” a Deus e à Igreja era terminar a minha vida no Alentejo.
Prepara-se agora para nova missão. Em que estádio de amadurecimento está o seu lema episcopal por esta altura?
“Que Ele cresça e eu diminua”? Quando eu era presbítero em Évora, esta frase decompunha-se em duas partes: “que Ele cresça” significava concretamente eu ser capaz de criar unidade à minha volta como pastor, como pároco. Um padre é sempre chamado a ser homem de comunhão! “Que eu diminua” significava vencer a tentação do mais fácil, do comodismo, e muitas vezes da tentação de regressar ao Minho. Nas horas difíceis do Alentejo, sentia a tentação de voltar à minha terra! Neste momento, em que estou ainda numa fase de surpresa por ser nomeado Arcebispo de Évora, não lhe posso responder com experiência de vida. Mas posso responder-lhe com desejo! Vamos ver como é que eu vou viver esta frase que Jesus me indicou como a minha proposta de vida. Foi a minha frase enquanto diácono, como padre e como Bispo. Mas de certeza que continuará a ser criar unidade, procurando ver em cada pessoa o rosto de Cristo, o apelo à dádiva da minha vida até ao fim. Isto quer dizer dar tudo por cada pessoa! E a frase “que eu diminua” deve ter a ver cada dia com o Lava-Pés, com este sentido de eu ser o servo de Deus na Arquidiocese, a ser o primeiro servo. Tenho uma grande preocupação em encontrar-me com os meus colegas – é assim que os vejo, como colegas sacerdotes do presbitério de Évora –, gostaria muito de contribuir para a felicidade e alegria deles, estando ao seu lado como Bispo, ajudando-os com esta presença a sentir que o Senhor está muito vivo na vida deles. Eles sabem isso, mas precisam de o sentir também através da amizade do Bispo! Tenho uma grande vontade e um grande desejo de contribuir para esse dia-a-dia dos padres que é muito exigente em Évora. Não que aqui não o seja, mas é diferente. Foi também a minha procura aqui, por isso vai continuar a ser esta a frase... Que eu diminua, que dê de facto a vida por todos, pelos padres com o povo de Deus, fazendo comunhão: juntos pelo povo de Deus.
E esta nomeação, foi uma surpresa maior do que a de há quatro anos?
(risos) Não é fácil comparar. A surpresa do chamamento ao episcopado pelo Papa Francisco foi de facto... inesperada! A surpresa é sempre inesperada, não é? (risos) Sobretudo porque significou a mudança do meu ministério, de presbítero para Bispo. E isto exige uma aprendizagem! Eu era presbítero, pároco, era também professor de História da Igreja, trabalhava muito com os Movimentos, trabalhava também alguma coisa com a Comunicação… Isto fez de mim durante 28 anos alguém com um estilo de vida construído para responder todos os dias às exigências do ministério. E tive que aprender a ser Bispo! Aprender a não ter uma comunidade como um pároco tem, a visitar as comunidades, a alargar a tenda do meu coração, a ter uma relação fraterna e às vezes paternal com os sacerdotes e a lidar muito com eles, uma realidade muito própria do ministério episcopal... Isso foi de facto uma grande mudança. E demorou o seu tempo! E certamente ainda está em amadurecimento... Agora a questão passa pelo “onde”, pelo sítio onde vou exercer o ministério episcopal. Não é tão grande a surpresa... O ir para Évora é o Senhor que me está a dizer o “ali” onde me quer, com as pessoas que me quer. Já não é, digamos, uma adaptação tão exigente, parece-me a mim, até porque vou para um sítio que conheço muito bem, não é? Acredito que tenha sido mais forte a surpresa quando vim para Braga.
Que desafios acha que o Papa pensou quando avançou com o D. Francisco pastor da Arquidiocese de Évora?
Certamente ouviu a Igreja local. Antes de uma nomeação, como sabemos, pelo próprio Código de Direito Canónico e pelos procedimentos próprios, há auscultações. Certamente o Papa quis ir ao encontro daquilo que ouviu e que sentiu no pulsar da Igreja local através de um processo realizado. Acredito que o Papa tenha feito a escolha de alguém que conhecia esta Igreja, o meio e a sociedade alentejana e ribatejana, porque parte da Arquidiocese de Évora é Ribatejo. Será essa a proposta e eu agradeço muito a confiança que ele deposita em mim. Desde já reforço a minha vontade de permanecer em comunhão com o Papa e de cooperar filialmente com ele em tudo, nomeadamente nos desafios que lança à Igreja, na renovação da Igreja que empreende. O Papa Francisco foi quem me nomeou Bispo. Eu e D. José Traquina fomos os primeiros presbíteros em Portugal a ser nomeados Bispos por ele, por isso há uma relação umbilical (risos) ao Papa Francisco.
Acha que a bagagem fruto da sua missão enquanto Director Espiritual do Organismo Mundial do Movimento de Cursilhos de Cristandade pode ajudá-lo nesta nova caminhada?
Em Évora, o Movimento de Cursilhos de Cristandade é uma realidade muito importante na evangelização. Claro que a minha atitude em relação aos Movimentos é de acolhimento de cada um dos Movimentos tal e qual como eles são. Aquela frase que Jesus disse, “estarei convosco até ao fim dos tempos”? Concretiza-se através dos carismas que Ele concede à Sua Igreja. Os Movimentos são também esses carismas. Não só, mas também! Ele manifesta-Se presente na Sua Igreja em momentos muito concretos e em circunstâncias muito concretas. Cada Movimento tem data e tem sítio. Cada Movimento nasceu num contexto histórico, com pessoas muito concretas e para pessoas muito concretas, por isso é que são uma manifestação da presença de Deus com a Sua Igreja. Por outro lado, como são dom num contexto muito concreto, exigem renovação, exigem actualização. E exigem inculturação! Isto significa que os Movimentos se devem renovar e inculturar na fidelidade ao seu carisma fundacional. Têm que o fazer ou correm o risco de ser obsoletos! Como tal, a minha experiência com os Cursilhos de Cristandade foi muito enriquecedora, abriu-me os horizontes a uma experiência de trabalho com os leigos e, por outro lado, levou-me a compreender os outros Movimentos. Acredito muito em todos os Movimentos, eles trazem o selo do Espírito Santo. E desafio-os a abrirem-se à renovação que o Espírito sugere através dos novos tempos que vivemos em Igreja e, ao mesmo tempo, a inserirem-se na Igreja diocesana numa atitude de serviço e comunhão.
São realmente eles que podem ajudar à revitalização da Igreja.
Foi para isso que nasceram! São um dom que Deus concede à Igreja, às Igrejas locais e depois à Igreja universal para fazer a sua renovação através desse carisma que nos desperta e nos acorda. São sempre uma dádiva e um dom para sermos mais Igreja.
Mesmo enquanto Bispo Auxiliar de Braga, nunca deixou de ser um homem da História. Espera continuar a ter tempo para o seu lado mais académico?
Uma das coisas que o ministério episcopal me exigiu foi que eu reduzisse muito o meu trabalho como professor de História e investigador. Tive a possibilidade de participar em alguns congressos, foi-me pedida alguma colaboração e foi muito bom para mim no último ano voltar a ser professor. O Núcleo de Braga da Universidade Católica pediu-me inesperadamente que leccionasse a disciplina de História Moderna e História Medieval. Foi muito agradável encontrar-me com os alunos, preparar aulas, fazer o dia-a-dia da docência! Penso que em Évora o trabalho vai pedir ainda mais exclusividade ao ministério. Serei chamado a viver a tempo inteiro para o ministério episcopal. O que poderei fazer é ler e acompanhar um pouco a História a nível das revistas da especialidade, procurando actualizar-me para não perder o caminho feito pela história da Igreja. Mas desejo dedicar-me a tempo inteiro ao ministério episcopal. A tempo inteiro para o presbitério, para o povo de Deus!
É também um homem da Comunicação. Será uma prioridade nesta nova fase do seu ministério?
Absoluta! A comunicação tem a ver com o anúncio do Evangelho, tem a ver com a Igreja em saída, a comunicação tem a ver com o acto de evangelizar. Não é possível ser-se pastor sem comunicar. E há muitos meios para o fazer. Hoje em dia, numa sociedade da comunicação e da mobilidade é fundamental que tenhamos uma atenção prioritária à comunicação. Sabemos que a comunicação acontece olhos nos olhos e coração no coração... Nada substitui a relação pessoal, aí falamos de comunicação de proximidade, do encontro. Porém, os meios de comunicação são instrumento de encontro e muitas vezes também de coração no coração. Depende da forma como utilizamos o meio de comunicação, mas todos os meios que temos para chegar às pessoas são necessários, são importantes e imprescindíveis! Não podemos prescindir de nenhum e os meios de comunicação, como as redes sociais, têm de fazer parte das nossas prioridades. Hoje as pessoas encontram-se aí!
Passa de uma diocese mais citadina, com ritmo frenético, para uma diocese menos apressada, de contornos mais rurais. Podemos falar de uma fé mais serena mas igualmente enraizada?
Quando eu cheguei a Braga, um jornalista seu colega perguntou-me o que é que eu podia oferecer à Arquidiocese. Eu com toda a sinceridade respondi que não era muito! Mas, por exemplo, podia oferecer paz e serenidade que trazia do Alentejo e que não queria perder aqui no Minho (risos). O espaço de oração, de reflexão, o encontro com o silêncio, o equilíbrio interior, a escuta da consciência, ter espaço interior para que os outros possam ter lugar na minha vida, ter espaço para que Deus tenha também lugar na minha vida... São prioridades. Tentei que acontecesse esse silêncio, esses momentos “de deserto”, em Braga. E foi possível! E vou continuar a tentar o mesmo em Évora, espero conseguir. O Minho tem uma componente contemplativa enorme na paisagem, tem uma dimensão contemplativa muito grande no desafio da sua juventude. É uma das zonas mais jovens da Europa. Quando trabalhamos – e muitas vezes temos uma pressão do tempo sobre nós – e somos capazes de olhar para a vida, olhar para as pessoas e olhar para o lado fazemos experiências muito profundas: de humanidade e de Deus! Isso aconteceu-me aqui no Minho, não há dificuldade em encontrar Deus aqui: nas pessoas, no apelo dos jovens, na beleza das paisagens, na natureza, no encanto desta terra. E no Alentejo também não! Também tem uma natureza que nos dá muito, que nos inspira... e tem pessoas que são muito profundas pelo seu tempo de espera, pela sua dimensão às vezes de maior lentidão da vida... São profundas no pensamento, na reflexão filosófica, na poesia, na sua expressão artística e musical! Vou tentar encontrar-me com Deus nisso. Tenho de lembrar que a dimensão do Alentejo pode gerar a monotonia. O Alentejo tem também propensão à solidão. Aquilo que nós às vezes podemos considerar no Minho como perturbador, a tal sociedade frenética que referiu, é interpelante e desafiante. O tal silêncio e a tal quietude do Alentejo pode, por vezes, levar ao desencanto da monotonia ou da solidão interior. Por isso, é necessário, com Deus, equilibrar estas duas possibilidades de excesso.
Já vamos em cinco anos de Papa Francisco. Como descreve este pontificado?
Nós podíamos definir a Igreja também a partir das suas reformas. Podemos olhar para a Igreja e encontrar figuras na sua história que são proeminentes instrumentos de Deus para levar a Igreja à sua origem, à sua identidade, à sua matriz, à sua raiz, ao Evangelho. Penso em figuras como Paulo de Tarso, Agostinho de Hipona, Gregório Magno, Francisco de Assis, S. Bento, Santa Clara... ou o Papa Francisco. Há esta presença que Deus concede à Sua Igreja de instrumentos que a levam pela mãoà sua origem, ao encontro com Cristo e com a beleza do Evangelho. E também encontramos na Igreja as forças de pressão, que obstaculizam. São dificuldades naturais, muitas vezes por comodismo, por redes de interesses... Há feridas na Igreja! Como Cristo teve as Suas chagas, a Igreja também tem chagas, tem as marcas da Paixão do Senhor e nem sempre vive a Ressurreição. Houve um autor chamado Antonio Rosmini que, numa obra intitulada “As cinco chagas da Santa Igreja”, se referiu exatamente às feridas: a simonia, o nicoleísmo, o nepotismo, a acumulação de benefícios rendáveis, o absentismo ao ofício! Portanto, a Igreja tem a sua Paixão. Vejo Francisco como aquele que é um dom de Deus para a Igreja, para a renovar e levar ao Evangelho. Eu queria muito, na minha simplicidade e na modéstia do meu ministério, colaborar com ele porque é, de facto, um apelo de Cristo a fazer da Igreja a Igreja de Cristo.
Autor: Flávia Barbosa
D. Francisco Senra Coelho nomeado Arcebispo de Évora
Publicado em 26 de junho de 2018, às 10:59