No oitavário pela unidade dos cristãos
Na quarta-feira passada, começou o Oitavário pela Unidade dos Cristãos, que termina no próximo dia 25 deste mês de Janeiro, em que a Igreja recorda a conversão de S. Paulo.
Efectivamente, os apelos de Cristo à unidade são registados de muitas formas, como, por exemplo, podemos verificar no evangelho de S. João. “Pai Santo, guarda em teu nome aqueles que me deste, para que sejam um só, como nós somos um” (Jo 17, 11), ou, noutro lugar: “Tenho também outras ovelhas, que não são deste aprisco, e importa que eu as traga, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor” (Jo 10, 12). É nítida a intenção do Senhor em manifestar o desejo de que não existam divisões entre os seus seguidores.
Não é este panorama que verificamos. Os cristãos encontram-se divididos, havendo muitas igrejas que não se entendem sobre a forma de encarar o Senhor e de seguir os seus ensinamentos.
Não podemos considerar esta realidade como exemplar Mas temos o dever de respeitar as convicções de cada fiel, independentemente da sua filiação eclesial. A situação não é o que Cristo desejou. Mas decerto que é o primeiro a dar exemplo de acatar a consciência de cada um.
A Igreja, que tem o sucessor de Pedro como seu primeiro pontífice não esquece, porém, que a situação deve ser melhorada. Para tanto, convida todos os seus seguidores a usar o único meio eficaz para chegar à união que o Senhor sempre defendeu, ou seja, a oração. E a figura de S. Paulo é um convite a que todos nos lembremos do vigor do trabalho apostólico, imparável e constante, por ele desenvolvido e fundamentado com toda a certeza na sua responsabilidade de difundir a mensagem recebida pela intervenção do próprio Cristo, quando ele se encontrava a caminho Damasco, decidido a acabar com a comunidade dos que O seguiam.
Também cada fiel deve fazer exame de consciência sobre a colaboração que tem de dar da sua parte a esta iniciativa. Não necessita de fazer coisas extraordinárias. O que o Senhor lhe pede é que neste Oitavário tenha o seu coração bem posto sobre o seu significado e procure com afinco seguir o que a Igreja lhe pede: que reze com fervor para que as separações actuais entre os cristãos se esfumem e que o objectivo de unidade que Cristo, como atrás se referiu, pediu ao Pai com todo o vigor, se efective. Só por este meio é que se conseguirá estabelecer a realidade desejada por Jesus: um só rebanho e um só pastor.
Poderá talvez pensar-se que todo esse esforço se fará sem alcançar qualquer êxito. Ou seja, continuará a divisão entre os seguidores do Messias, andando cada um pelo rumo que, em consciência, pensa ser o verdadeiro, ou, pelo menos, o mais certo.
Não esquecer, porém, que o que se está a pedir não são resoluções próximas do que se pretende. Mas acorrer a Quem pode realmente conduzir os crentes pelos percursos que os devem orientar. O resultado, provavelmente, não se verá de uma forma imediata. Mas os méritos da oração que cada um, com humildade, pedir a Deus, não é por Ele esquecido nem posto de lado. Pelo contrário. A atitude de quem reza é sempre de sujeição à vontade divina. Não, a de um negócio que estabelecemos com o nosso Criador, exigindo que Ele siga os fins que traçamos ou pretendemos.
A oração é o modo correcto e eficaz de nos relacionarmos com Deus. Tantas vezes, mesmo com boa intenção, Lhe pedimos a resolução de um determinada questão, supondo que a sua solução é aquilo que Lhe propomos. A atitude, contudo, de quem reza é sempre de humildade, sendo consciente que Deus, como diz o ditado “sabe mais e melhor”. Há certas realidades ou pretensões que não sabemos se o que solicitamos é o mais adequado. E deixamos nas mãos divinas a sua resolução. Outras, porém, dão-nos, à partida, a convicção de que aquilo que propomos é o correcto, embora não tenhamos, pessoalmente, capacidade de atingir os objectivos desejados. É o caso deste Oitavário. Seguimos a orientação de Cristo para que haja um só rebanho e um só pastor. E isto representa para nós a absoluta convicção de que a devemos escudar, rezando e sacrificando-nos para que ela se efective. Quando e como? Também, com simplicidade, reconhecemos que essa pretensão está nas mãos de Deus, embora devamos colaborar com Ele na sua resolução. Deus a quer e, certamente, no-la oferecerá quando Lhe parecer melhor, isto é, quando for o momento certo e oportuno, de modo a que, sem constrangimentos, todos a aceitem com liberdade e vontade de a assumir.