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Cuida dele

1. Cuida dele. Não abandones o doente à sua sorte. É teu irmão.

A mensagem do Papa Francisco para o próximo Dia Mundial do Doente convida a uma reflexão sobre a parábola evangélica do Bom Samaritano (Lucas 10, 29-37).

Resumo-a em poucas linhas: perante um homem assaltado, agredido e abandonado à beira do caminho foram possíveis diversas reações: a do sacerdote, a do levita, a do samaritano. Aqueles, olharam e andaram. Este olhou, parou, prestou os primeiros socorros e só prosseguiu viagem depois de ter confiado o agredido aos cuidados de alguém, a quem deixou o dinheiro necessário. Prometeu, logo que pudesse, inteirar-se da evolução do estado de saúde do agredido e acertar contas com o cuidador.

2. É fácil assumir a atitude do sacerdote e do levita. Não gastaram tempo nem dinheiro. Talvez arranjando, até, pretextos para justificar a indiferença e o abandono: a pressão das horas, manchar a roupa com o sangue do doente, poderem vir a pensar terem sido eles os agressores, …

Nenhum desses cuidados preocupou o samaritano. Viu no agredido um homem que precisava de ajuda. E deu-lha. Interrompendo a viagem, gastando tempo e dinheiro. Colocou a assistência ao homem agredido acima do programa que tinha para o dia.

3. Um doente, seja ele quem for, é um ser humano como os demais. Deve ser-lhe garantido o acesso aos cuidados médicos e o direito fundamental à saúde.

Mercê da fragilidade em que a doença o coloca é credor de atenções e cuidados especiais.

É um crime abandoná-lo à sua sorte.

Continuam a insistir, teimosamente, na eutanásia. Será que, em lugar de ajudar a viver com dignidade, se opta pela solução mais barata e mais cómoda que é a de ajudar a morrer?

Dá-me a impressão de se ver no doente, não uma pessoa a respeitar e a ajudar, mas uma coisa, cuja presença incomoda e é fonte de despesas.

O respeito pelo direito à assistência médica não deve estar dependente da capacidade económica das pessoas. A assistência na saúde não deve ser um rendoso negócio mas um serviço que se presta a quem dele necessita.

Falando no passado dia 16 a um grupo italiano de profissionais da saúde da Federação Nacional de Técnicos de Radiologia, Reabilitação e Prevenção, o Papa Francisco lembrou: «Saúde não é luxo! Um mundo que descarta os doentes, que não cuida de quem não pode pagar o tratamento, é cínico e sem futuro».

4. Não é hoje segredo para ninguém a grave doença por que passa o nosso Serviço Nacional de Saúde. É dever dos responsáveis pelo bem comum e pela gestão dos dinheiros públicos proceder a um cuidadoso diagnóstico e, corajosamente, tratar da cura. Canalizando para aí os aconselháveis meios humanos e materiais. Gastar com a saúde não é desperdiçar: é investir na qualidade de vida dos cidadãos.

Só um Serviço Nacional de Saúde em condições pode cuidar da saúde dos portugueses. E portugueses de corpo inteiro também são os que não têm possibilidades de recorrer, no país ou no estrangeiro, a serviços de saúde considerados de luxo pelo seu avultado custo.

Por favor, não levem a mal e desculpem a ignorância que a pergunta pode revelar. Salvar o Serviço Nacional de Saúde não será mais importante do que salvar a TAP em que tanto se fala e para onde tem ido tanto dinheiro?

5. Cuida dele, recomendou o samaritano ao estalajadeiro.

A obrigação que recai sobre os poderes públicos no que respeita à assistência aos doentes não dispensa cada um dos cidadãos de fazer quanto está ao seu alcance para socorrer o próximo necessitado.

Se a única ajuda que o cidadão comum pode prestar é a de alertar quem possa, que alerte.

Também no que toca à assistência aos doentes é necessário ser a voz dos sem-voz.


Autor: Silva Araújo
DM

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19 janeiro 2023